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Artigo - Furacão na Botocúndia

Rosildo Barcellos - 16 de setembro de 2012 - 09:32

Certamente quando José Bento Monteiro Lobato, que nasceu seis anos antes da abolição da escravatura e que passou a infância em Taubaté (SP) entre a fazenda Santa Maria, no bairro de Riberão das Almas, a casa do Largo do Teatro e a chácara do Visconde (propriedade de seu avô, José Francisco Monteiro - Visconde de Tremembé) nunca imaginou que um de seus trabalhos seria alvo de uma audiência de conciliação no STF por racismo. É muito importante ressaltar que no auge de suas publicações a escravidão fora recém abolida e os antigos escravos eram marginalizados, discriminados e segregados ... evidentemente.
Até porque em abril do ano de 1921 foi realizado o lançamento da “menina do narizinho arrebitado” acrescida de histórias inéditas, com 181 páginas e com tiragem de 50 mil exemplares e que foi adotada pelo Governo de São Paulo, para a rede escolar sem nenhum problema. É certo que o “racismo” de Lobato aparece para crianças, quando ele se reporta a Tia Anastácia, e quando se refere a maneira que ela subia em árvores. No livro em questão - Caçadas de Pedrinho, é um clássico da literatura infantil , publicado em 1933 — é adotado em diversas escolas públicas, e faz parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca na Escola.
Evidentemente vejo a questão por outro prisma. Até porque é uma excelente oportunidade para levar para a sala de aula o debate sobre os temas de relevância para a prática educacional,inclusive não somente o racismo mas também a saúde e o trânsito e suas relações com o momento histórico. Inclusive me referindo a Semana do Trânsito de 18 a 25 de setembro, rememoro um trecho de Monteiro Lobato em carta dirigida ao amigo Godofredo Rangel.
“Curiosa a mudança de mentalidade que o automóvel ocasiona. O pedestre passa a ser uma raça vil e desprezível, cuja única função é atravessar as ruas. Quem adquire auto promove-se de \\\'pedestre\\\' a \\\'rodante\\\' - e passa a desprezar os miseráveis pedestres que se arrastam pelas superfícies, como lagartas.\\\" São Paulo, 10/9/1923.
Destarte este debate tem de ser levado a escola aos lares até porque devemos essa gentileza ao futuro, já que pouco pudemos fazer pelas gerações passadas.Não conseguimos fazer um mundo mais fraterno. É imprescindível realizar um esforço para conhecer e estudar as dores do tempo em que viveram nossos precursores. E desta forma vamos estudar o real valor da obra de alguém que revolucionou o mercado editorial no Brasil(fundou a Monteiro Lobato e Cia em 1918),foi adido comercial nos EUA além de ser uma pessoa com imenso carinho pelas crianças; e os temas que aparecerem devem ser expostos e colocados, em sala de aula, nas conversas de pais e filhos , toda vez que uma criança passar pelas palavras “ deprimentes” mas que, nós sabemos, fizeram parte da experiência de homens e mulheres de uma época .
Por isso o trânsito,o racismo,a importância da amizade, do agradecimento as pessoas e a motivação para os sonhos e a imaginação, devem estar inseridos na prática pedagógica cotidiana. A juventude precisa de sonhos e se nutrir das lembranças,assim como o rio precisa da água que descamba por suas curvas sinuosas. Precisamos ver o colorido da água da chuva que cai e não a maldade do raio que destrói. Lobato deixou um legado de personagens que ficarão para sempre impregnados na memória daqueles que tiveram contato com as histórias de Jeca Tatu, do Saci, da Cuca, da Emília, da Narizinho entre tantos outros que são os sustentáculos da obra deste autor ímpar. A leitura que tive das obras de Monteiro Lobato,enriqueceu minha vida, alargou meus horizontes e me ensinou a pensar.

*Articulista













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