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Artigo: Espalhando vento

Dante Filho* - 22 de junho de 2012 - 11:37

Os marqueteiros políticos são inventivos. O verbo que eles estão usando cada vez mais agora é “dissipar”. Qualquer desgaste pessoal, crise partidária, pisada na bola do assessorado, eles afirmam com certa arrogância: “fique tranquilo, vamos dissipar isso”. Ou seja: por trás dessa frase eles querem dizer que a memória do eleitor é tênue e a sobreposição de fatos leva o sujeito a esquecer das manchetes de ontem e se empolgar com a agenda positiva de hoje, que será, de certa maneira, reforçada com o horário eleitoral de amanhã. Tudo dominado.

Então, nesta fase de pré-campanha as coisas mais absurdas são permitidas, inclusive Lula ser fotografado sorrindo ao lado de figuras como Paulo Maluf, como se viu recentemente. A imprensa vive de novidades e o senso crítico do chamado eleitor médio está baixíssimo. Como afirmam os marqueteiros: tudo se dissipa. E a estratégia é clara: antecipar ao máximo as más notícias para que, durante a campanha, sejam criadas as vacinas necessárias para neutralizá-las.

Portanto, não se iludam aqueles com impressões e análises momentâneas nesta fase de pré-campanha. Tudo será “dissipado”. No primeiro momento, dizem os especialistas, os ajustes de uma campanha eleitoral provocam curto-circuito, contrariedades pessoais, noticiário negativo, mas quando a coisa engrena pelas mãos dos magos do marketing, aqueles acontecimentos do passado ficam como um traço de lembrança, perdidos no tempo, sufocados em meio à cacofonia estridente das várias mídias em funcionamento.

Por enquanto, tudo é entretenimento. A gente se diverte. Cada personagem do mundo político – candidato ou não – encontra nestes meses vacantes o momento ideal de fazer seu showzinho particular. Certamente, daqui a algumas semanas, tudo aquilo que causou certo furor nestes dias loucos terminará se esvaindo com os ventos dos “fatos novos” que surgirão no processo de disputa. Quem viver, verá.

Agora, o caso Lula/Maluf, que vem causando muito frisson nos meios políticos, pois se tornou um paradigma destes novos tempos em todo o País. Não sei a razão, mas lembrei-me de um personagem emblemático do romance filosófico de Robert Mussil, “O Homem sem Qualidades”, que diz que quando um homem (cito a frase de cabeça) resolve dar de presente sua alma é melhor que entregue apenas os juros - e nunca o capital.

Só que neste caso, Maluf parece que exigiu o capital político do PT (se é que depois do mensalão, dos aloprados etc. sobrou algum), algo que Lula (cada vez mais pragmático e autoritário) entregou de bom grado, mesmo porque está convencido que as pessoas que o apoiam e o admiram não tem nada a ver com o PT. Sua imagem está completamente descolada do aparelho partidário. E, no fim, tudo será “dissipado”. Mesmo a famosa fotografia.

Lula sabe que jogo eleitoral é uma corrida contra o tempo. À medida que vai se afunilando o processo, as eleições terminam ganhando contornos emocionais, fazendo com que os acontecimentos duros de hoje se transformem em fumaça nas semanas que antecedem o dia D. Os marqueteiros conhecem a matéria e dizem que qualquer segundinho no horário eleitoral da TV vale ouro.

De certa forma, eles tem razão. O sistema político brasileiro é esquizofrênico. E o jogo só se faz sendo jogado. Só que as decisões de líderes políticos carregam em si uma espécie de pedagogia social. A partir de agora, será interessante os eleitores observarem que todo acordo político será viável (coisas inimagináveis, inclusive) com a vantagem de que nenhuma nudez será castigada.

*jornalista ([email protected])



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