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Artigo de Rogério Tenório de Moura: Deus é brasileiro.

Rogério Tenório de Moura* - 18 de novembro de 2008 - 07:31

Como deixa a entender o enunciado popular supracitado, temos tudo para sermos uma superpotência, afinal de contas “O Todo Poderoso” é nosso compatriota. Não temos terremoto (apenas alguns abalos, cujos epicentros invariavelmente estão a milhares de quilômetros de distância do solo tupiniquim), nem tsunamis, furacões, nevascas... temos petróleo (tanto que seria necessário todo o PIB anual de três anos consecutivos de nosso país para explorarmos somente as novas reservas descobertas), álcool, biodiesel, terra fértil em abundância, clima favorável a praticamente todos os tipos de cultura e o mais importante: a maior reserva de água potável do planeta! Só falta um detalhe: boa vontade! E não estou falando apenas de nossos governantes, a culpa pelo caos em nossa nação é de todos nós. Duvida? Então continue a leitura.
São tantos os factóides propagados pelo senso comum sobre a “boa índole” do povo brasileiro que me pergunto se esse besteirol todo não foi elaborado por algum marqueteiro de plantão com o único intuito de perpetuar a inércia quase letárgica em que nos encontramos. Comecemos por ... por ... ah, essa é ótima: “os brasileiros são bondosos”. Conversa fiada! Os brasileiros, quase que via de regra, é claro, são estúpidos. Fazem caridade até na hora de escolher os seus representantes; na nossa câmara municipal, por exemplo, elege-se muito mais indivíduos porque são “bonzinhos” e de origem humilde que pela capacidade, parece que a regra intrínseca é “dar uma mãozinha para quem é coitadinho”. Esquece-se que ao eleger gente com formação para exercer apenas e tão somente trabalhos braçais dá-se um tiro no próprio pé, pois legitima-se a mediocridade! O povo brasileiro presenteia o governo com praticamente 5 meses de trabalho por ano em forma de impostos e ainda se sente “bom samaritano” porque dá esmolas em forma de “ligações 0900”, em vez de cobrar uma solução consistente para o problema da miséria em nosso país; pois o que se tem visto é uma sistemática transformação de nosso povo em dependente de ações paliativas que, a longo prazo, só fazem proliferar a indolência e o clientelismo. Pagar para que o governo proveja assistência social, sem fazê-lo, e ainda tirarmos dinheiro do bolso de novo para que, enfim, alguém faça não é coisa de gente boa, é coisa de gente boba!
“O povo brasileiro é alegre”. Balela! Brasileiro é alienado. Fazer festa com a vitória de time de futebol e carnaval, mesmo diante da escalada vertiginosa da corrupção, da violência, da ineficácia nos serviços públicos é o mesmo que “levar um tabefe na cara e ficar rindo”. É um escândalo sucedendo o outro: Collor, anões do orçamento, compra de votos em favor de apóio ao projeto de reeleição do FHC, quebra do sigilo do painel do senado, Luiz Estevão, Sérgio Naya, mensalão, mensalinho, dólar na cueca ... Será que esqueci alguma coisa? Que pergunta a minha, é lógico que sim, mas por falta de espaço disponível é melhor parar por aqui (mentira, estou é com ânsia de vômito mesmo).
Brasileiro é trabalhador. Mentira! Não há povo mais ocioso em toda a Terra. Tentamos nos enganar jogando toda a culpa nos políticos como se eles estivessem onde estão por mero acaso do destino (é mais fácil fazer o papel de mulher traída que chamar a responsabilidade de nossas escolhas para cima de nós). E o que me mais incomoda é perceber a hipocrisia na fala da maioria que se mostra indignada com o salário dos vereadores em nosso município (quase quatro mil por mês!) e perceber uma pontinha de inveja sabendo que lá no fundo o que queriam era estar no lugar deles, vereadores, para fazer exatamente o mesmo que eles! Tudo mesmo, incluindo... Um povo que se conforma em receber uma esmola mensal com um nome menos pejorativo (bolsa isso, bolsa aquilo) e não faz nada com essa ajuda para não precisar mais dela merece sim ser chamado de preguiçoso. Só pra ressaltar: há municípios na região do Bolsão que tem mais de 40% das famílias inscritas em algum programa assistencial!
“O povo brasileiro é honesto”. Essa é ótima, séria até cômico, se não fosse trágico! Rui Barbosa afirmava que chegaria o dia em que os homens honestos, de tanto ver a desonestidade imperar, teriam vergonha sê-lo, esses tempos chegaram. Nosso país é a terra do jeitinho, todo mundo acha que para si é possível abrir uma exceção, o problema é que diante de tantas exceções não há porque haver regras. Há sempre algum espertalhão a espera de um incauto para tentar tirar proveito. A lei do menor esforço impera, seja no trabalho, na escola ou mesmo nas obrigações para com os familiares, em casa.
Os exemplos proliferam-se: é a empregada que varre a sujeira para debaixo do tapete; o aluno que cola na prova; o marido que acha que pode dar uma puladinha de cerca inofensiva porque, afinal de contas, não tem a intenção de abandonar a esposa; o vendedor que empurra gato por lebre; o comerciante que sonega impostos (e no caso específico de Cassilândia com um agravante, parcela significativa dos comerciantes não passam de contrabandistas de mercadoria paraguaia disfarçados de probos homens de negócio); a diretora escolar que finge não haver alunos faltosos para não ter de se indispor com pais negligentes, o professor que distribui notas para evitar embates com a coordenação ...
“O Brasil é uma democracia”. Uma baita mentira! Num país onde a maioria do povo sucumbe às pressões de uma minoria influente, onde todos têm direitos, mas ninguém quer ter obrigações, não existe democracia e sim, anarquia (sistema de governo que, em resumo, prega o desgoverno). O que temos é, na verdade, uma simulação hipócrita em que cada um finge cumprir com seu papel o melhor que pode e faz vistas grossas ao simulacro alheio e, em contrapartida, recebe-se a mesma condescendência. Mesmo sem termos tido Idade Média, vivemos em uma era feudal: o imperador (presidente) detém o poder (detém mesmo, pois ao emitir tantas medidas provisórias ao seu bel prazer ignora o congresso nacional transformando-o em um mero marionete, quando deveria ser o legítimo representante dos interesses do povo), seguido de seus senhores feudais (leais ministros, senadores e deputados) e os vassalos (povo) que trabalha para sustentar toda essa nobreza por meio dos confiscos, digo impostos (temos uma das maiores cargas tributárias do mundo e, mesmo assim, os serviços públicos são um lixo).
“O Brasil é o país do futuro”. Lembro-me que quando meu irmão e eu éramos crianças ficávamos nos perguntando o que isso queria dizer e olha que isso já faz ... deixa pra lá. Depois que crescemos, ficamos sabendo que essa frase é tão antiga que esse tal futuro já pode até ter passado.
E, para mim, a melhor de todas (essa notoriamente foi obra de publicitário) “Sou brasileiro e não desisto nunca”. Lembra-se desse slogan amplamente veiculado há alguns anos em diversas peças publicitárias? Mentira deslavada, simulacro da verdade, manipulação grosseira dos fatos! Qualquer um que trabalhe com um grande número de pessoas diariamente sabe que a gigantesca maioria dos brasileiros sucumbe às primeiras pressões. Prova inconteste disso é o alto índice de evasão no ensino noturno em nosso município, a cada cem alunos que iniciam o ano letivo, apenas trinta terminam. E olha que não há a desculpa de ter de trabalhar doze horas por dia, pegar diversas conduções, medo da violência ou qualquer outro álibi típico de moradores de cidade grande.
Diante de tudo isso, o que mais me incomoda é ver nos jornais que pesquisa após pesquisa o governo em que mais se proliferaram denúncias de corrupção não pára de comemorar índices cada vez mais altos de aprovação popular (há mais denúncias de irregularidades contra o governo Lula que nos governos Geisel, Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar e FHC juntos!).
Diante de tamanho disparate só posso terminar com uma máxima do célebre filósofo grego Sócrates: o povo tem o governo que merece! E ainda reclamamos quando um ex-presidente francês sentenciou que o Brasil não é um país sério. Deus, literalmente, salve o Brasil (dos brasileiros)! E se você é brasileiro e não se sente co-participante dessa patuscada, como eu, declare, como amplamente sentenciado em cultos televisionados, que o Brasil é do Senhor Jesus (somente Ele mesmo para dar jeito nesse samba do crioulo doido)!

*Rogério Tenório de Moura é licenciado em Letras pela UEMS, especialista em Didática Geral e em Psicopedagogia pelas FIC; vice-presidente do SISEC (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Cassilândia).


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