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Artigo de Rogério Tenório de Moura

RogérioTenório de Moura - 12 de março de 2008 - 10:33

RESENHA DOS PCNs DO ENSINO MÉDIO

Só se tem acesso aos mecanismos do poder, aos bens de consumo, a participação ativa nas realizações sociais se coordena-se adequadamente os pensamentos através do domínio da linguagem, da seleção das informações, do domínio da retórica e de um amplo conhecimento de mundo.
Segundo Disraeli com palavras governamos homens.
A linguagem nunca é neutra. Ela sempre está vinculada a uma sociedade, às relações de produção, a um sistema político, a uma filosofia educacional. Segundo Michael Apple os grupos econômicos e políticos mais poderosos dos Estados Unidos e de países similares deixaram muito claro há muito tempo que, para eles, uma boa educação é só aquela ligada às necessidades econômicas, mas é claro, somente se essas necessidades forem definidas pelos poderosos (2000, pág. 31). Atualmente, considerando a nossa realidade, precisamos mais de uma pedagogia do conflito do que de uma pedagogia do diálogo. É necessário assinalar que, no otimismo dialógico a introdução à dúvida, à suspeita dialética, partindo não mais de uma antropologia, mas do homem concreto, real, das relações deste homem numa sociedade real, chegando, portanto, a uma pedagogia válida em todos os contextos, para todos os homens.
O ser humano é uma espécie essencialmente social, nossa existência, hoje, enquanto homo sapiens só tornou-se possível porque nossos ancestrais “primitivos” desenvolveram uma habilidade que nós “seres civilizados” deixamos de possuir, a capacidade de sociabilizar o conhecimento acumulado. Deixamos de compartilhar nossas experiências para o bem da coletividade para, dominando-as, dominar nossos semelhantes.
Che Guevara dizia que:

O individualismo deve ser, no futuro, o completo aproveitamento de todo o indivíduo em benefício da coletividade, mas para mudar de maneira de pensar é necessário sofrer mudanças interiores, e assistir a profundas mudanças exteriores, sobretudo sociais.

A tarefa de educador constitui justamente em fazer com que a liberdade triunfe sobre a dominação. Por aí se percebe que o trabalho do educador não é apenas ensinar ou transmitir conhecimentos, pois de certo modo a tarefa da educação está essencialmente ligada à formação da consciência crítica, à conscientização. O papel da conscientização de que nos fala Paulo Freire é essa decifração do mundo, dificultada pela ideologia; é esse ir além das aparências, atrás das máscaras e ilusões.
Os bens culturais trazem consigo o conteúdo ideológico dominante, como a valorização da eficiência, da hierarquia, da mobilidade social, das novas tecnologias, possibilitando as classes dominantes um domínio ideológico mediante a indústria cultural. Dentro desse contexto social a educação se mantém mais ou menos como bem universal, todos têm acesso a ela de forma mais ou menos equiparada. O problema está na continuidade desses estudos e até que ponto tais estudos são tidos como necessários para manter essa sociedade de classes funcionando, seja produzindo bens de consumo para todos, de forma heterogênea, seja mantendo as massas sob a idéia equívoca de meritocracia.
A escola não pode se manter omissa, alienada, andando atrás das mudanças sociais, ela deve acompanha-la ou corre o risco de perder sua razão de ser, mas sobretudo não pode permitir que seus educandos terminem sua vida escolar crendo que o resultado irremediável da dedicação é o sucesso, que o domínio da tecnologia garante uma sociedade mais desenvolvida e justa, pois sabemos que isto não é verdade. Uma parcela representativa da população consegue, via esforço próprio, domínio da tecnologia, alcançar melhores condições de vida, mas sabemos que isto não é uma realidade universal, nossos educandos precisam sair dos muros da escola preparados para enfrentar a vida real, não um mundo ideal que só chegará a existir no reino dos céus!
A tarefa de educador constitui justamente em fazer com que a verdade triunfe sobre o engodo. Por aí se percebe que o trabalho do educador não é apenas ensinar ou transmitir conhecimentos, pois de certo modo a tarefa da educação está essencialmente ligada à formação da consciência crítica, à conscientização, a decifração das entrelinhas e não apenas daquilo que está à tona, na superfície dos textos.
É incrível como, através do domínio da linguagem, podemos dizer exatamente a mesma coisa e conseguirmos resultados imensamente mais satisfatórios do que outros que outrora tentaram em vão. Conta-se uma antiga lenda árabe que certa vez um xeque teve um sonho em que ele via todos os frutos de uma árvore frondosa de seu jardim no chão, a grama estava seca e toda espécie de vida vegetal em volta estava morta, então ele mandou chamar um sábio para que interpretasse o sonho, este pacientemente escutou-o e por fim disse:
______ O seu reino será desolado, seus filhos serão mortos diante de ti, terminarás seus dias sozinho e debilitado.
O rei ficou furioso, mandou decapitar aquele insurreto e chamou outro sábio, este sabendo o que houve com o primeiro intérprete precaveu-se, não mentiu, disse exatamente o que o outro havia dito, mas com palavras diferentes:
______ Este sonho é sobre a soberania de meu senhor, tua vida será tão longa que nem mesmo teus filhos viverão mais que ti, teu reino será impar sobre toda a Terra, terminarás teus dias reinando como uma fênix.
O xeque ficou tão feliz que decidiu premiar o sábio com grande quantia em ouro. Um jovem que estava por perto na ocasião de ambas as interpretações disse ao último consultado:
______ Eu não entendo, você disse exatamente o mesmo que o outro sábio, mas aquele foi morto e você premiado!
Então o sábio respondeu:
_______ Aprenda isto, meu jovem, na vida o que importa não é o que você diz, mas como você diz.
A linguagem, enquanto mecanismo de participação e conseqüentemente de transformação social, garante ao indivíduo a aquisição de novas formas de pensar, de agir, de existir, fazendo-o dia a dia um novo homem.
Rogério Tenório de Moura
é licenciado em Letras pela UEMS,
especialista em Didática Geral
e em Psicopedagogia pelas FIC.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APPLE, Michael. Política Cultural e Educação. São Paulo, Cortez, 2000
FREIRE, Paulo. A pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra , 1978
LAGE, Nilson. Imprensa e poder. São Paulo, Ed. Ática.1998. 1ª edição






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