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Artigo de Carlos Pulino: Pedreiros e coveiros

Carlos André Prado Pulino - 23 de dezembro de 2009 - 06:23

Já presenciei, infelizmente, vários sepultamentos. Hoje, mais uma vez, vi outra pessoa ser levada à sua morada definitiva. Era noite, necessitamos do auxilio dos faróis de um automóvel para iluminar o local reservado. Havia uma cova pronta a sua espera, depositamos a urna funerária dentro dela e o coveiro começou rapidamente o seu trabalho. Ficamos todos ali, imóveis, observando por minutos que pareceram uma eternidade, aquele homem colocando a massa e assentando seus tijolos. Passaram pela minha cabeça muitas coisas e comecei a fazer uma comparação entre um pedreiro e um coveiro. Os dois são profissionais que executam o mesmo trabalho: ambos constroem.
Um ergue paredes e cria formas arquitetônicas inovadoras, belas, alegres, onde pessoas irão morar durante suas vidas, não importando o numero de anos, será uma morada provisória. O outro constrói paredes para baixo, sem beleza, tristes, todas iguais, retangulares, locais onde, por ironia, nossos corpos ficarão definitivamente, pela eternidade, restando apenas lembranças nos corações e mentes dos que ficaram.
Apesar das dimensões estarem corretas, achei o local pequeno para esta pessoa, pois independente da sua estatura física, ela leva consigo toda uma existência, seus feitos, sua obra de vida, seu legado, seu exemplo. Cabe muita coisa entre as duas pontas da nossa existência. Conversando com seus familiares, tive a noção do tamanho desta pessoa, deste ser humano. Comparo sua existência a um trabalho escolar, extenso e demorado, feito por um estudante que deu o melhor de si para realizá-lo e que, ao entregá-lo ao mestre, fica com o coração na mão observando e tentando descobrir nos seus movimentos faciais, algo que indique aprovação ou reprovação.
Pela serenidade de seu semblante, pelos acontecimentos que antecederam à sua morte, e pelo que soube da sua história de vida, tenho plena convicção de que ele se preparou, teve tempo de refletir e aceitou resignadamente o que a vida colocou diante dele. Ao entregar pessoalmente nas mãos do CRIADOR o seu “trabalho”, a obra da sua vida, com certeza, encontrou um sorriso de aprovação.
Tomei consciência de tudo isso, ao me deparar com a perda do Sr. Durvalino Cardoso.


Carlos André

17/05/2005

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