Geral
Artigo - Conversa para boi dormir
O som é medido em decibéis. Uma conversa normal tem 60 decibéis. Como o decibel é função logarítmica, a cada 10 decibéis, dobra-se o volume do som.
Por isso, 90 decibéis (a média sonora das médias cidades brasileiras) é o triplo do volume de um saudável bate-papo.
Os veículos são a principal fonte de poluição sonora: roncos de motores escapamentos, buzinas, frenagens, sirenes...
Os altos prédios enfileirados de uma cidade mal-planejada funcionam como verdadeiros amplificadores. Até perder-se no espaço, um simples toque de buzina bate e reverbera, alternadamente e por diversas vezes, nas fachadas dos edifícios. Assim, na cidade, um som multiplica-se em dezenas de sons iguais.
Mal-planejadas, as ruas tornam-se pequenas para o número de veículos que aumenta a cada dia. Veículos de mais, velocidade de menos. As marchas mais pesadas são mais ruidosas. No trânsito vagaroso, os carros freiam mais, arrancam mais, buzinam mais. Os prédios reverberam e o ruído cresce.
Serras elétricas em construções civis, sons de bares e lanchonetes, apitos do guarda, aviões, cinemas, discotecas, vendedores ambulantes, cães que ladram sem cessar e outras fontes, completam um quadro de grande preocupação.
Quais as conseqüências?
Ruído em excesso deixa a pessoa, progressivamente, surda. Reduzindo-se a audição, perdem-se inúmeras sensações prazerosas que vão do canto de um pássaro a uma música agradável. Pior: a surdez é irreversível. Não possui tratamento ou cura. Progressivamente surdas, as pessoas tendem a isolar-se, tornando-se mais solitárias, tristes e arredias a novas amizades.
O ruído é também grande fator de ansiedade. Ele aumenta a freqüência cardíaca, a irritabilidade, os distúrbios do sono, o colesterol e a pressão sangüínea.
O estresse provoca acúmulo de gordura no organismo e conhecidas conseqüências. O mesmo ruído que faz dormir mal, reduz a freqüência sexual e a atenção no trabalho, causa acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.
Ambiente barulhento é convite à neuroses. Neuróticos são imprevisíveis: às vezes, agressivos; outras vezes, covardes; medrosos; falsamente felizes ou falsamente corajosos; deprimidos; eufóricos...
Uma pessoa assim influencia, negativamente, outras pessoas.
Uma jovem árvore quebrada, uma escola depredada, pessoas que buzinam em frente a hospitais ou gritam na madrugada, são atitudes de quem agride por sentir-se agredido.Um ambiente calmo e sossegado é sempre menos sujeito a agressões.
Que fazer para melhorar?
Reduzir o barulho é mais um ato cultural que um ato de punição.
As leis devem ser claras, conhecidas e aplicadas. Entretanto, só um contínuo processo de educação resultará em uma cidade com menos ruídos.
Não produza ruídos. Dê o primeiro exemplo;
Nunca se acostume com os ruídos produzido pelos outros;
Não sofra em silêncio: com educação, peça para abaixarem o som;
Nunca freqüente restaurantes com TV, música ambiente ou demais ruídos que o impeça de conversar em tom natural;
Certifique-se do nível de ruído de um eletrodoméstico, carro, moto ou qualquer máquina, antes de adquiri-los;
Plante árvores e arbustos ao redor de casa. Eles abafam os ruídos;
Suspeitando que os ruídos estão acima do recomendável, solicite sua medição aos órgãos competentes;
O volume dos sons permitidos constam do Código de Posturas (lei municipal). Não cumpri-lo, dá multa e até cassação de alvará de funcionamento.
Aqui, mais do que nunca, cada um deve fazer a sua parte.
O grita-quem-pode-obedece-quem-tem-juízo das cidades brasileiras não deve continuar. Quem acha isso certo está com conversa pra boi dormir.
Em verdade,quanto mais tranqüilas as pessoas, mais estável a natureza.
Afinal, nós humanos, somos natureza também.
Um forte abraço e até sexta que vem.
*Luiz Eduardo Cheida é médico e deputado estadual eleito. Foi Prefeito de Londrina (1992 1996), Secretário de Meio Ambiente do Paraná e Membro titular do CONAMA (2003 2006).