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Geral

Artigo: Aposentadoria e futebol

Celio Pezza* - 21 de junho de 2012 - 08:00

No dia 05 de junho, a presidenta Dilma sancionou a Lei 12.663, conhecida como Lei Geral da Copa, entregando aos todos poderosos da FIFA o controle do Brasil durante a Copa do Mundo. Nosso país não resolve seus problemas de corrupção mesmo que tenha sido filmada e comprovada, como é o caso do mensalão; aqui faltam escolas, saúde, segurança, saneamento básico, mas sobra dinheiro para estádios e outras obras não prioritárias. Perguntem para qualquer um dos milhares de necessitados, que andam pelas portas dos hospitais sem atendimento, se eles preferem estádios suntuosos ou leitos simples e um atendimento básico. Isto sem entrar no mérito dos superfaturamentos, que infelizmente, já fazem parte do nosso dia a dia.

No artigo 37 desta Lei Geral da Copa existe mais uma lambança feita com nosso dinheiro. Este artigo concede a todos os jogadores titulares e reservas das seleções brasileiras campeãs das copas de 1958, 1962 e 1970 um prêmio em dinheiro de R$100.000,00 para cada jogador, pago de imediato, pelo Ministério do Esporte, e mais uma aposentadoria mensal especial no valor do teto máximo que, hoje, gira em torno de R$3.800,00, a ser paga pelo INSS. Caso algum jogador já tenha falecido, o benefício vai para seu sucessor. Isto é um tremendo tapa na cara de todos os brasileiros que trabalharam a vida toda e não ganham este valor ou que nem conseguem se aposentar por inúmeros motivos.

Quando o secretário executivo do Ministério da Previdência Social, Sr. Carlos Eduardo Gabas, explicou que estes atletas nos deram muitas alegrias e agora terão condições para ter uma velhice decente, ele se esqueceu de todos os excluídos do sistema previdenciário, que não têm a mesma oportunidade de ter uma velhice decente simplesmente porque trabalharam a vida toda, mas não jogaram futebol nestas copas do mundo. Temos também que considerar que estes benefícios, por jurisprudência, deverão ser estendidos aos jogadores das copas de 1994 e 2.002, quando estes alcançarem a idade da aposentadoria. É o cúmulo da falta de seriedade e justiça para com o povo brasileiro. Não que eu tenha algo contra os jogadores, mas acredito que, se algum órgão tivesse que proporcionar este tipo de premiação, os mais indicados seriam a Confederação Brasileira de Futebol ou a própria FIFA, mas nunca o governo brasileiro com dinheiro público.

Quantos se lembram de quando o ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, deu um fusca para cada jogador da seleção vencedora da Copa de 1070? Na época, foi aberta uma ação popular, exigindo que Maluf devolvesse o dinheiro. Após muitos recursos, em 1995 o STF absolveu o político, mas até hoje se fala deste caso. Agora, com esta lei já sancionada, o caso é muito maior, mas não aparece ninguém para abrir uma ação pública contra esta aberração. Enfim, este é o país do futebol, onde grandes políticos discutem futebol como um assunto de Estado e onde existe a famosa Lei de Gerson, que prega o conceito de “levar vantagem em tudo”, tão comum nos casos de corrupção espalhados pelo país.

* Célio Pezza é escritor e autor de diversos livros, entre eles: As Sete Portas, Ariane, e o seu mais recente A Palavra Perdida.

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