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Artigo: Alcides Silva ensina como colocar a vírgula

Alcides Silva - 21 de outubro de 2005 - 07:08

Bom número dos eleitores que votaram em Lula está descontente com seu governo

Os jornais publicaram semana passada que pesquisa popular constatou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em queda e que ‘bom número dos eleitores que votaram nele está descontente com o seu governo’. E, principalmente, com o seu partido, o PT.
O período comporta uma análise quanto à concordância verbal e necessidade ou não do emprego de vírgula.
a – concordância verbal
Qual o correto: “Bom número dos eleitores que votaram em (ou votou)” – “Bom número dos eleitores está (ou estão) descontente(s)?”
Veja a estrutura do período através dos verbos: quem está descontente é o bom número de eleitores, isto é, um grupo de cidadãos, uma quantidade de pessoas: “Bom número” é singular. Agora, quem votou foram os eleitores; os que sufragaram, os que escolheram: “Eleitores” é plural. Ora, se o sujeito do verbo estar (bom número) é singular, o verbo logicamente fica no singular, como, da mesma forma, se o sujeito do verbo votar estiver no plural, o verbo acompanha nessa concordância. O verbo estar se refere a “bom número” e o verbo votar, a eleitores.
Note que no período em análise, a palavra que é um pronome relativo – relaciona o termo antecedente ao posterior. “Para saber se o termo “que” é pronome relativo substitua-o por o qual, a qual, os quais, as quais:” Bom número dos eleitores que (os quais) votaram...” E lembre-se sempre do macete descomplicador: o termo antecedente ao pronome que é quem determina a variabilidade do verbo. Assim: O pessoal que dança ‘punk’ é jovem – Os jovens que dançam ‘punk’ são modernos.
Tirando o que desse período, a concordância torna-se mais flexível, havendo gramáticos que defendem as duas formas, podendo-se dizer tanto “Bom número dos eleitores de Lula está (ou estão) descontente (s)”. Todavia, a predominância na linguagem culta é pelo verbo no singular, pois dos eleitores quem está descontente é um bom número, uma quantidade, um grupo.
b – a vírgula
A vírgula representa uma pausa, tanto no texto escrito como na leitura. Mas a recíproca não é verdadeira.
Sempre que aparecer o pronome relativo, a oração que ele integra é subordinada adjetiva, que pode ser restritiva ou explicativa.
Restritiva é a que limita, restringe a significação do termo antecedente tornando-se indispensável ao sentido essencial do período: “As uvas que ele produz são mais doces que as de meu quintal”. Aqui, não são todas as uvas que são mais doces que as do meu quintal, mas as “que ele produz”.
A explicativa representa apenas uma qualidade do termo antecedente, esclarecendo melhor a sua significação, sendo dispensável ao sentido da frase: “O céu que está nublado, indica que irá chover”. Eu poderia retirar do período a oração, “que está nublado” sem prejudicar o sentido da oração principal.
Se a oração for restritiva, ela se unirá à principal sem vírgula; e for explicativa, haverá uma pausa na fala, pausa essa que na escrita é representada pela vírgula.
“Que votaram em Lula”, restringe o sentido ou é uma qualidade acessória do termo antecedente? Posso retirar essa oração sem prejudicar o sentido da principal?
Entendo que não, pois a oração subordinada “que votaram em Lula” restringe e delimita o universo dos eleitores. Não é simplesmente um bom número dos eleitores que votaram em Lula. Então é uma subordinativa adjetiva restritiva e liga-se ao termo antecedente sem pausa, o que indica que não necessita de vírgula.
E depois da oração adjetiva, depois da expressão “Lula”? Existe ou não vírgula? Quando a adjetiva restritiva for muito longa, sim (“Os jogadores que participaram de todas as partidas de futebol do campeonato brasileiro deste ano, viajaram muito”); se for curta, não (“A glória que vem da virtude tem brilho imortal” – “Grande número dos eleitores que votaram em Lula está descontente com seu governo”).

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