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Geral

Artigo: A voz em vários tons, inclusive no tom do amor

Patricia Balata - 08 de junho de 2004 - 10:43

“A voz é o tato à distância”

Bonnier



A expressão acima já explicita o poder que o som da voz tem nas relações interpessoais e contestar tal verdade é negar a própria singularidade individual. Quantas vezes nos emocionamos ao falar com alguém querido e amado e sentimos o coração aquecido só ao ouvir os primeiros sons que logo identificamos como sendo daquela pessoa por quem a nossa lembrança urge por algum contato?

A voz tem o poder de atrair, de rechaçar, de assustar, de acolher, de emocionar...Ela é única assim como a nossa impressão digital e a íris dos olhos e se manifesta de diversas formas no exercício das nossas relações, modificando-se intencionalmente ou não, mas é claro que o que é genuíno carrega maior força emocional.

Vamos aos exemplos. Vamos a eles:

Nas relações profissionais, a voz define determinada ação como quando, por exemplo, estamos no exercício da autoridade. Ao darmos um comando ou exigirmos determinado cumprimento de algo a voz manifesta-se mais grave e com mais volume, com ritmo bem marcado e articulação das palavras bem definida, com se quiséssemos “dizer” sem precisar “falar” que esperamos que o “recado” tenha sido bem entendido para que seja cumprido sem maiores dúvidas ou delongas.

Nas relações entre pais e filhos, a voz também tem as suas características definidas de acordo com o contexto. Quando o pai está exercendo sua autoridade ou exigindo determinado comportamento, a voz também fica mais grave e mais intensa, podendo até ser estridente. A velocidade da fala tende a ser mais acelerada com articulação bem marcada e às vezes até exagerada para demonstrar que não se aceita contestações. Por outro lado, quando os pais estão envolvidos numa situação mais lúdica com a criança, eles também tendem a se infantilizar assim com a sua voz que além de infantil, o que popularmente chama-se de tatibitati, a voz também fica mais nasal, aguda e com a articulação um pouco imprecisa tal e qual uma criança em franco desenvolvimento da sua linguagem.

E nas relações amorosas. Ah, aí a voz flutua entre, interessantemente, rouca - já que tal qualidade em grau discreto pode insinuar sensualidade – até um pouco soprosa, ou seja, com um pouco de ar, como se a pessoa estivesse “arfando ou ofegando” discretamente (ou não!). Mas a voz também pode ficar regredida como nas relações entre pais e filhos, num apelo de sedução quase infantil, quando falamos com o ser amado como se fôssemos crianças nos momentos lúdicos da relação, afinal o amor não tem idade e nem pode recear ser ridículo. Aí a voz fica tão infantil quanto pode ficar anasalada para transmitir afeto, sensualidade, desejo, aconchego, calor, enfim, todos os substantivos que permeiam o que temos de mais sublime que é a nossa capacidade de amar.

Todos os predicados que podem estar contidos numa voz podem ser manifestos espontaneamente, mas também podem ser adquiridos, tal e qual um ator para compor determinado personagem. Evidentemente, estamos falando de um sentimento, o que prescinde que seja natural.

Se você deseja aperfeiçoar a arte de sedução, observe o quão diferente a sua voz se mostra nesses contextos ora explanados. Reconfeccione-os, sinta como estão sendo produzidos tais sons e “brinque” com o seu amor dando mais colorido às suas palavras, enriquecendo a sua mensagem, embriagando de bons ruídos os ouvidos de quem ama. Muito há para se falar desse poderoso instrumento musical que temos no nosso corpo - a voz, mas por enquanto o melhor mesmo é apenas deixar o coração falar...

Por Patricia Balata, diretora do Conselho Federal de Fonoaudiologia, especialista em voz

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