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Artigo: A verdade sobre a Endometriose

Arnaldo Cambiaghi - 05 de agosto de 2004 - 14:52

Para algumas mulheres, o período menstrual é extremamente doloroso. Isso porque durante esses dias, elas sofrem de cólicas terríveis, precisam ser medicadas e, muitas vezes, não conseguem nem trabalhar. No entanto, a maioria delas não procura o médico, pois acha que as dores são comuns na menstruação. Porém, a cólica que a mulher sente pode ser sintoma de um problema mais sério e que pode afetar a sua fertilidade: a Endometriose.

“O nome endometriose provém de endométrio, que é um tecido que reveste internamente o útero. A cada mês, estimulado pelos hormônios, este tecido cresce e é eliminado no período menstrual. Porém , pelos motivos mais variados, o endométrio pode implantar-se fora do útero e aí passa a se chamar endometriose”, esclarece Dr Arnaldo Cambiaghi, especialista em Infertilidade da Clínica de Reprodução Humana do IPGO ( Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia). O problema é que mesmo fora do lugar certo, ele recebe a mesma influência hormonal, continua crescendo e descamando na menstruação. Só que como está num local errado, não tem canal de saída. Por isso, forma-se um processo inflamatório que provoca dor e tem como resultado a formação de aderências (tecidos grudados uns aos outros de uma forma desordenada, que são extremamente doloridos e causam o mau funcionamento dos órgãos). Se essas aderências forem próximas a órgãos do sistema reprodutivo da mulher, esta pode ter dificuldades para engravidar.

A endometriose pode ser encontrada no abdome, afetando os ovários, trompas, ligamentos que sustentam o útero e em outros locais do aparelho reprodutor feminino. Em algumas ocasiões, as aderências também se encontram nas cicatrizes cirúrgicas abdominais, nos intestinos ou no reto, na bexiga, na vagina, no colo do útero e na vulva (órgãos genitais externos). Em casos mais raros, também aparecem fora do abdome, em locais como os pulmões, braços, entre outros.

Não é considerada uma doença maligna, pois é apenas uma classe de tecidos normais fora de seu local correto. Embora atualmente estejam sendo estudadas possíveis relações entre o problema e o câncer de ovário. Além disso, a endometriose pode causar inúmeras complicações. Uma delas é a ruptura das lesões, que podem espalhar o problema para outras áreas. Nos casos mais graves, pode até ocorrer sangramento intestinal ou obstrução, se os tumores estiverem no intestino ou próximos a ele. Se estiver perto da bexiga, pode prejudicar seu funcionamento.

No Brasil, o número de casos ainda não está bem avaliado, porém vem aumentando a cada ano. Atualmente, a endometriose é uma das doenças benignas mais comuns na mulher. Possui muitos sintomas, como por exemplo, dor antes e durante a menstruação. Normalmente, essas dores são piores que as cólicas menstruais normais. Isso acontece porque o endométrio produz prostaglandinas, que são substâncias parecidas com hormônios e que causam contrações do útero. Outro sintoma da endometriose é a dor nas relações sexuais. Como os tumores incham a cada mês, pode haver dor durante ou após cada relação sexual, causada pelos movimentos do intestino. Também podem ocorrer dores no momento da micção.

Algumas mulheres sentem dores durante todo o mês. Elas ocorrem em decorrência do inchaço do tumor ou da irritação do tecido normal perto dele. No entanto, segundo Dr Arnaldo, o grau de dor não é necessariamente proporcional à extensão da doença. “Há mulheres que podem ter vários implantes ( tumores) grandes que não sejam muito doloridos, enquanto outras podem apresentar implantes menores, em pequena quantidade, mas que causam muita dor”, esclarece o especialista.

Outros sintomas podem incluir a fadiga, evacuação dolorosa durante o período menstrual, dor na parte inferior das costas, diarréia ou prisão de ventre e outros transtornos intestinais no período da menstruação.

A infertilidade ocorre em 30% a 40% das mulheres com endometriose e é um resultado comum com a progressão da doença. Das pacientes que sofrem cirurgia para diagnóstico ou tratamento da infertilidade, metade delas apresenta endometriose. A doença também parece aumentar o risco de gravidez tubárea e aborto em mulheres que conseguem engravidar.

As causas do problema ainda não são bem conhecidas. Porém, inúmeras teorias têm sido estudadas. Mas como a diversidade de sintomas é grande, ainda não há uma teoria que sirva para todos os casos. Uma hipótese é a do retrocesso do fluxo menstrual, ou seja, durante a menstruação, parte do sangue regressa pelas trompas ficando no abdome. Alguns cientistas acreditam que toda mulher tem algum refluxo do ciclo menstrual. Mas esta não é uma idéia muito consistente, uma vez que nem todas as mulheres têm endometriose. Outra teoria sugere que um problema no sistema imunológico ou alguma alteração hormonal permite que o tecido endometrial seja distribuído desde o útero a outras partes do corpo pelo sistema linfático ou sangüíneo. Há ainda a teoria genética, que diz que talvez certas famílias tenham predisposição para a endometriose; e a teoria embrionária, que sugere que os resíduos de tecidos de quando a mulher ainda era um embrião, poderiam transformar-se na doença, ou que alguns tecidos adultos retenham a habilidade, que tinham quando eram embrionários, de alterar-se em tecido reprodutivo sob certas circunstâncias.

A endometriose é uma das doenças mais misteriosas que afetam as mulheres. À medida em que tentam descobrir suas causas, os especialistas estão eliminando uma série de suposições. Uma delas era a de que as negras não apresentavam o problema. Porém, a verdade é que, no passado, por serem excluídas do atendimento médico, essas mulheres sofriam caladas. Outro mito era o de que a mulher jovem não adquiria a doença. Isso ocorria porque as adolescentes e jovens sentiam cólica menstrual – que pode ser o primeiro sintoma – sem se queixar e não eram examinadas até o problema ter progredido a uma fase mais grave. Também se acreditava que a endometriose afetava mais as mulheres de nível superior. Na verdade, o que acontece é que essas pacientes são mais informadas sobre a importância de consultar um especialista e obter explicações para os seus sintomas.

Além de eliminar os mitos, os médicos estão procurando uma cura definitiva para a doença. A retirada do útero e dos ovários, até pouco tempo comum, não é eficaz, pois é grande a proporção de retorno e continuidade da endometriose nas mulheres que fizeram a cirurgia. Além de analgésicos para combater a dor, são indicados tratamentos hormonais para interromper a ovulação por um prazo variável de 3 a 6 meses. A interrupção da ovulação faz com que os implantes endometrióticos diminuam ou mesmo desapareçam. Também permite que não haja novos crescimentos de tumores. Os implantes hormonais que suspendem a menstruação também são indicados para tratar da doença, pois além de serem fáceis de usar, também são contraceptivos.

Entretanto, para o diagnóstico e tratamento da endometriose é indispensável a vídeolaparoscopia, um exame sofisticado em que uma microcâmera de vídeo é introduzida no abdome por uma incisão mínima na região do umbigo, onde é possível visualizar todo o aparelho reprodutor feminino e assim detectar a presença ou não da doença.

Alguns médicos recomendam que a mulher que tem endometriose não demore a engravidar, pois na gestação há uma suspensão temporária dos sintomas. Porém, é necessário cuidado ao se indicar uma gravidez, pois ter um filho é uma decisão que vai mudar a vida do casal. Além disso, há a possibilidade da paciente ser infértil.

A menopausa também alivia o problema, pois nesta fase os ovários param de produzir hormônio e o endométrio começa a atrofiar.

Na verdade, é preciso conscientizar as pessoas que, apesar de não ser uma doença de grande potencial maligno, a endometriose não deve ser menosprezada, pois afeta seriamente a vida de muitas mulheres, que sentem dores severas, tensão emocional, sendo, muitas vezes, incapazes até de levar uma vida normal. “Talvez, no dia em que entendermos esta doença que deixa a todos perplexos, poderemos acabar com os mitos, a dor e a frustração que normalmente a acompanham”, diz Dr Arnaldo.



Saiba mais sobre Infertilidade e saúde no site: www.ipgo.com.br


Dr Arnaldo Cambiaghi é especialista em Reprodução Humana da Clínica de Reprodução Humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia). Também é membro da European Society of Human Reproduction and Embriology e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Escreveu os livros “Fertilização, um ato de amor” (2a Edição, Ed Edicon) e “Manual da Gestante – Orientações especiais para a mulher grávida” (Ed Madras). Também ministra aulas, palestras e cursos para os profissionais da área e o público em geral, através do Centro de Estudos do IPGO.





Medical Press – Assessoria de Comunicação em Medicina e Saúde

Renata Rocha Inforzato
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