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Artigo: A Maçonaria e a política

Edinaldo Socorro da Silva - 13 de dezembro de 2007 - 08:24

Incumbiu-me o Venerável Mestre de minha Loja, discorrer sobre o tema Maçonaria e Política. O tema e vasto, visto que, desde a crise do antigo sistema colonial, a maçonaria está presente em nossa história, destacando-se inicialmente, entre alguns revolucionários da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana no final do século XVIII. Nesse período que antecede a Independência, a maçonaria assumiu uma posição avançada, representando um importante centro de atividade política, para difusão dos ideais do liberalismo anti-colonialista.

Sua influência cresceu consideravelmente durante o processo de formação do Estado Brasileiro, onde apareceu como uma das mais importantes instituições de apoio à independência, permanecendo atuante ao longo de todo período monárquico no século XIX. Nesse processo, a história do Brasil Império é também a história da maçonaria, que vem atuando na política nacional desde os primeiros movimentos de independência, passando pelos irmãos Andradas no Primeiro Reinado, até as mais importantes lideranças do Segundo Império, no final do século XIX.

Para nos aprofundar no tema, previamente buscamos o significado de Maçonaria e de Política, para estabelecer os parâmetros no qual desenvolvemos a nossa abordagem.

A Maçonaria é uma associação de homens esclarecidos e virtuosos que se consideram irmãos entre si, convivem em perfeita igualdade, intimamente ligados por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando-se uns aos outros, na prática da virtude. Razão esta, que a maçonaria sustenta seus princípios supremos na tríade: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, obviamente, contemplando todos os povos. Esses fins, portanto, integram todos os valores que concorrem para a civilização, a paz e o progresso da humanidade. Eles também se encontram dispersos em diversas religiões, ciências sociais e filosofias.

Por via de conseqüência, a Maçonaria, para concretizar seus objetivos, precisa de muita força e união para enfrentar resistências de interesses poderosos. Por esse motivo, ela, cautelosamente, parte do princípio, de que mesmo os mais virtuosos maçons também são imperfeitos. Estão sujeitos a serem tentados ou corrompidos pelo menos por dois vícios traiçoeiros que causa imenso prejuízo em qualquer Instituição, a vaidade e o sectarismo. Esses vícios ainda causam danos de proporções aos maiores propósitos da Maçonaria. Conspiram de modo a fazer o maçom perder de vista as finalidades e objetivos maiores da Ordem e a investir o seu potencial em futilidades geradoras de desilusões, desuniões e a sua conseqüente estagnação.

A palavra Política, por sua vez, tem vários sentidos. O filósofo grego Aristóteles considerava o homem um animal político, porque nenhum ser humano pode viver sozinho, a natureza humana necessita viver em sociedade. Essa convivência, via de regra, gera conflitos entre pessoas, grupos de pessoas ou nações. E o modo mais apropriado de atenuar os conflitos e estabelecer o máximo de concordância entre muitos é promover o bem comum, o bem da maioria senão de todos.

É justamente isso, que o Maçom deve entender por Política: "a promoção do bem comum visando, ao máximo, a concordância entre muitos para reduzir, ao mínimo, os conflitos que são inerentes à vida em sociedade". É o tipo de Política maior, que não é sectária porque visa ao bem da coletividade. É o tipo de Política que privilegia a maioria e está de pleno acordo com as regras de convivência democrática.
A Igreja tem por definição que política é o conjunto de ações pelas quais os homens buscam uma forma de convivência entre indivíduos, grupos e nações, que ofereçam condições para realização do bem comum. Logo, não há diferença significativa entre a concepção de Aristóteles, da Igreja e a do Maçom. No entanto, o Maçom não pode perder de vista a seguinte ilação: se a Maçonaria afirma que a virtude é a disposição da alma que induz à prática do bem, a mesma disposição que induz à prática do bem comum só pode ser uma virtude superior, a virtude em sua mais elevada expressão. Essa virtude, por conseguinte, quando é concretizada, é a Política da Maçonaria, e quando não é uma ilusão.

De qualquer modo, fica transparente, haver dois tipos de política. A Política maior, apartidária, de um lado, que é a Política da Maçonaria e a política que visa apenas ao bem de um determinado indivíduo ou de um grupo de indivíduos, ainda que com o sacrifício da maioria. Esta, em princípio, é uma política estreita, partidária, que gera privilégios para poucos em detrimento de muitos, geralmente aumentando, e não diminuindo conflitos. Por via de conseqüência, esta política não interessa a Maçonaria, porque abriga o vício do sectarismo e fere seus princípios. Logo esta é a política que a Maçonaria repele em seus templos, justifica dessa forma, porque a Maçonaria proíbe discussões sobre política partidária em seus templos, ou que, em seu nome, se faça política-partidária.
A Política da Maçonaria, na prática atual, contudo, é um tema delicado e polêmico pela própria natureza da Política e da Maçonaria. Da Política, porque, na prática democrática, ela somente pode se expressar através de partidos. E cada um desses partidos concentra, prioritariamente, para não dizer exclusivamente, suas energias na defesa e manutenção dos interesses e conveniências, dos financiadores de suas respectivas campanhas eleitorais. Da Maçonaria, porque, como vimos, coerentemente com seus princípios, ela proíbe a discussão político partidária, pelas razões anteriormente expostas. Porém, a Política apartidária, aquela que é a maior representação da virtude, que teoricamente é a Política da Maçonaria, na prática, se apresenta demasiadamente aquém do desejável.
Se, de fato, a Maçonaria possui uma Política, como sugere de antemão o título deste trabalho, ela não poderia ser outra senão a chamada Política maiúscula, a Política virtuosa. No entanto, essa conclusão também faz parte da polêmica. Para melhores esclarecimentos, poderíamos perguntar sem nenhum pejo: a "Política da Maçonaria" é, de fato, praticada em nossos dias? Respondo que a Maçonaria, quanto à política partidária, está praticando uma política bem clara, a da proibição de discussão, ou controvérsia, sobre essa matéria em seus templos, ou fora deles em seu nome.
Não queremos com isso, induzir que a maçonaria proíba seus membros de filiar-se e participar de partidos políticos e sua militância, desde que seguindo os princípios da moral, da ética, que são os fundamentos sólidos dos homens livres e de bons costumes. Assim agindo, estarão trabalhando em prol da democracia e do bem comum, estabelecendo formas de pressão organizada, baseada no apoio popular, participando dos movimentos sociais e das manifestações populares para melhoria dos serviços públicos, principalmente no que diz respeito a saúde, educação e qualidade de vida da sociedade como um todo.
Conseqüentemente, proibir a discussão de matéria política partidária é uma questão superada, ela é acatada por todos os maçons, é um ato político maçônico, entendido e resolvido a contento.

Por outro lado, lembramos que a história da Maçonaria é caracterizada por significativas conquistas de liberdade, soberania e defesa dos direitos da sociedade, das pessoas, bem como, na busca de um mundo cada vez melhor, planejando e participando de movimentos que determinaram, ao longo da história, o rumo de vários acontecimentos na vida dos povos.

É fundamental que a Maçonaria e os maçons que a compõem sejam reconhecidos como uma força viva e atuante, na perfeita consciência de seu papel social e da importante parcela de responsabilidade na sua missão de transformar o mundo, modificando e aprimorando as coisas que os cercam.

Cabe a Maçonaria também como instituição de caráter político, abordar e analisar os problemas que afetam a sociedade, adotando posicionamento para solução destes, com atitudes e ações concretas, considerando a confiança e a credibilidade que esta mesma sociedade lhe dedica. Esse tem sido em muitas ocasiões, o apelo generalizado de maçons em Loja ou fora dela.

A população brasileira tem manifestado perplexidade e indignação com o atual quadro de corrupção no país, principalmente quanto à atitude de políticos, governantes e empresários ensejando à corrupção generalizada, o que leva a Maçonaria, cumprindo sua tradição e seu papel histórico se posicionar energicamente contra a impunidade, apresentando propostas e cobrando as ações de combate e moralidade junto aos poderes constituídos.

Portanto, para que a Maçonaria possa atingir seus objetivos concretos, torna-se necessário exortar os maçons a assumirem posições de lideranças em todos os grupos sociais de que participam, ocupando espaços e agindo efetivamente na busca de soluções para os problemas sociais.


Ao finalizarmos este trabalho, não poderíamos deixar de conclamar os maçons a agregarem à instituições e movimentos que contemplam projetos sérios e consistentes, assumindo posições corajosas e determinadas, desfraldando a bandeira da ética, da moral e da dignidade, bem como, participando ativamente dos Conselhos de Política Pública nos diferentes níveis governamentais, se fazendo presente em todos os segmentos que se preocupam em buscar o equilíbrio sócio – humanitário.


Edinaldo Socorro da Silva
Outubro/2007

Bibliografia:
• Manual do Seminário de Mestres Maçons - 1.980/ARLS Amor e Caridade II - Ponta Grosso/PR;
• O Companheiro - Edições nº 8, 10 e 23 - ARLS Caridade Universal III - Araraquara/SP;
• Portal Maçônico – Política da Maçonaria;
• 2º Artigo – Membro da Fraternidade Maçônica;
• Brasil Império – A Maçonaria no Brasil.

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