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Após perder perna em acidente, boxeador volta ao ringue

César Rodrigues, do Jornal do Estado, de Coxim - 03 de junho de 2005 - 07:10

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A décima luta do 3º Desafio de Boxe Olímpico entre os Meios Médios (81 kg), travada entre Douglas Proença, de Coxim, e o campo-grandense Cleiton Alcântara, marcou o surgimento de um fenômeno de superação. A distância entre o acidente que ceifou a perna direita de Proença, em 2002, e o resgate de dignidade, diminuía a cada golpe aplicado no oponente. A eternidade de quatro rounds, marcado pela vitória em nocaute técnico, selou o ingresso de Proença no mundo dos esportes.

O público que estava no ginásio se surpreendeu quando Douglas Proença, paramentado, se dirigia ao ringue equilibrado numa perna mecânica. O final do combate separou a condição de portador de deficiência e o projetou nacionalmente. O presidente da Confederação de Boxe de Mato Grosso, Sebastian Borges, – há 20 no esporte – já oficializou convites para exibições de Douglas Silva fora do Estado. “Nunca assisti uma luta assim”, destacou o dirigente.

A Confederação Brasileira de Boxe também será informada sobre desempenho do atleta, que já projeta uma carreira internacional. O futuro do boxeador será tratado por seu treinador, o vice-presidente da Federação de Boxe de Mato Grosso do Sul, Edésio Ribeiro. Segundo ele, o próximo combate será em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, contra o vice-campeão nacional dos Meios Médios, Sandro Almeida e o invicto Vande Lopes, de Campo Grande.

“Tenho que ganhar esta luta. Eu sei que posso”. A frase martelou a cabeça de Douglas Proença até o momento em que soou o gongo. Durante a luta outro contratempo: Havia o risco da prótese cair porque não estava adaptada à prática esportiva. A mobilidade também estava comprometida porque entrava ar na junção com o joelho, impedindo que ele fosse de encontro ao adversário.
A cada intervalo Douglas Proença era incentivado pelo técnico, Edésio Ribeiro, com palavras de apoio. A dramaticidade da luta era compartilhada com o público e os pais do boxeador, únicos que conheciam os sonhos do lutador. O público invadiu o ringue no final da luta – alguns chorando – e carregaram o novo campeão nos braços.

O encerramento do combate, a normalização da adrenalina e a volta para casa fez Douglas Proença voltar no tempo – em 20 de janeiro de 2002 – quando ele e sua moto foram esmagados por uma carreta na BR-163, em Sonora, a 360 quilômetros de Campo Grande. Ele sofreu fratura exposta nos dois braços, bacia e várias partes da perna direita. Mesmo após 15 cirurgias e uma infecção por osteomielite o jovem ficou quase dois anos numa interminável tentativa de recuperar o movimento da perna direita.

Cada procedimento médico era antecedido por anestesia geral para que vários membros fossem operados simultaneamente. Um ano depois, andando de muletas, e 30 quilos mais magro, Douglas já vislumbrava que usar uma prótese não deveria ser pior do que ter uma perna que trazia somente dor em sua vida.
Convencer o médico de sua decisão tornou-se a tarefa mais difícil do a amputação do membro. Na tentativa de demovê-la da idéia o especialista pedia novos exames. “Acordei feliz, foi a operação mais simples que fiz. Sabia que não iria mais sofrer”, lembra o boxeador. Colocar a prótese e ter atividades normais aconteceu rapidamente, salientou.
O gosto pelo boxe teve influência do pai – ex-lutador – e os embates lendários de Evander Hollyfield contra Mike Tyson. Proença concretizou o sonho de lutar e ainda de quebra superou limites que seus ídolos do boxe nunca enfrentaram.

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