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Após explosão vizinhos contam como é voltar para casa

Renato Lima/Campo Grande News - 14 de julho de 2008 - 13:29

Uma soma de fuligem e trauma é o que sobrou da explosão do bloco B do edifício Espanha, no bairro Tiradentes. Hoje, pouco mais de 24 horas após o incêndio, no chão carvões indicam vestígios dos móveis. Sobre o balcão da cozinha uma garrafa de cachaça e compridos ao lado resistiram ironicamente às chamas.

Moradores do primeiro andar, vizinhos o apartamento 102 onde Edsel Vieira da Silva morava, voltaram para limpar os apartamentos e calcular os prejuízos.

Por volta das 23 horas de sábado, dia 12, Edsel ateou fogo no apartamento, se colocando entre as chamas. Segundo os moradores ele usou 20 litros de gasolina e abriu dois botijões de gás.
Os vizinhos dizem que sentiram o cheiro de gasolina, mas só saíram dos apartamentos quando perceberam a fumaça, minutos antes das explosões.

O condomínio foi construído pela construtora Progemix e de acordo com o síndico, Pedro Luiz da Costa, dentro dos R$ 92 que os moradores pagam de condomínio está previsto seguro, mas apenas para acidentes internos, o que segundo ele não cobriria os estragos causados nos outros apartamentos.

“Nós estamos buscando informações com advogados para analisar toda a documentação e vamos conversar com a construtora para mandar engenheiros que possam avaliar a condição da estrutura do prédio”, informou o síndico, que pretende fazer a vistoria com os engenheiros ainda hoje.

Solidariedade – moradores do mesmo condomínio se unem em solidariedade em prol dos prejudicados pelo ocorrido. De acordo com Pedro, vizinhos que são advogados ofereceram apoio judicial para mover uma ação coletiva. Outros moradores ofereceram suas casas para abrigar os vizinhos. Pedro disse ainda que vai abrir alguns apartamentos desocupados para realocar as famílias até que os apartamentos sejam limpos e reformados.

Comportamento – Edsel morava no condomínio há pouco mais de um ano e não tinha amizade com os vizinhos. Todos os moradores do primeiro andar afirmam que não sabiam nada a respeito do morador do 102.

“Eu só o via no corredor, e ele sempre estava de capacete. Não sei nem como era o rosto dele”, comenta Cristina Alves, moradora do 101.

A mesa que Edsel ocupava no trabalho está intacta. Ele trabalhava há 15 anos na Madepar, empresa que vende assessório para móveis. Atualmente ocupava o cargo de gerente de vendas. Colegas de trabalhos ficaram chocados com o ocorrido.

“Ele era um excelente profissional, foi promovido e tinha um bom relacionamento com todos os outros funcionários”, afirma uma colega de trabalho que não quis se identificar. Ela conta que Edsel era muito piadista e fazia os colegas rirem com as “besteiras” que ele falava.

Sobre a vida pessoal, Edsel não tinha muitos segredos no trabalho, todos sabiam que ele ela separado e atualmente estava namorando. “Ele nunca apresentou um comportamento estranho ou duvidoso”, afirma a colega.

O Campo Grande News relata histórias de quem sobreviveu à explosão, mas tiveram as vidas marcadas com o incêndio do apartamento 102.

Apartamento 104 – Vizinha de parede, a técnica em informática, Rosi Paulino, de 46 anos, mora sozinha no apartamento há 11 anos. No momento do incêndio ela conta que estava no quarto assistindo televisão.

“Fiquei incomodada com o cheiro forte de gasolina. Sai do quarto vi que a minha porta estava aberta e a do vizinho também. Quando vi a fumaça saí correndo, não sabia da onde vinha o fogo, só queria salvar a minha vida”, relata.

A fumaça e a fuligem tomaram conta do apartamento de Rosi, o calor destruiu o gesso do teto e os vidros da janela. Rosi tinha usado todas as suas economias para reformar o apartamento. A reforma tinha terminado este mês, gesso, pintura e o piso novos ficaram comprometidos.

“Estou muito triste, porque eu não tenho nada a ver com isso. Mas não me sinto revoltada”.

Apartamento 101 – “Quando eu abri a porta só ouvi os gritos: Fogo! Sai todo mundo! Desci correndo sem perguntar nada”, conta Cristina Mara Alves, de 32 anos.

A dona de casa que passou os últimos três anos cuidando da decoração da casa e escolhendo a mobília, voltou hoje para tirar o preto dos móveis e da parede.

Entre as infelicidades Cristina tem um alívio ao ver que a tv de plasma não foi atingida “Eu nem terminei de pagar, quer bom que ela ainda funciona”.

“Quando eu olho em volta fico muito triste com a imagem, mas depois, quando olho pra mim fico feliz porque não aconteceu nada comigo”, comenta a moradora enquanto esfrega as paredes.

Apartamento 103 – Por alguns minutos Ana Schimit não foi atingida pelos estilhaços da explosão. A vendedora de 31 anos mora com a mãe, Marta Schimit, de 58.

“Eu estava voltando do trabalho, sempre chego depois das dez da noite, foi o tempo de entrar em casa e ir para o quarto quando o ouvi a explosão que arrombou a porta da sala. Se eu estivesse lá seria atingida. Era para todo mundo morrer”, relata.

Visivelmente abalada, Marta não esperava vivenciar uma situação como esta. Ela conta que mesmo saindo do apartamento as imagens não saem da cabeça dela.

“Só vamos limpar as coisas e mudar. Não tem mais como ficar aqui”.

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