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Geral

Após declarações de Trump, Mercosul repudia 'uso de força' na Venezuela

Midiamax - 12 de agosto de 2017 - 16:00

Os países do Mercosul rejeitaram neste sábado o "uso da força" como uma forma de tentar resolver a crise política na Venezuela.

O bloco emitiu um comunicado neste sábado, pouco depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarar que não descarta uma opção militar no país sul-americano.

"Os países do Mercosul consideram que os únicos instrumentos aceitáveis para a promoção da democracia são o diálogo e a diplomacia", reagiu o comunicado do bloco.

"O repúdio à violência e a qualquer opção que envolva o uso da força é inarredável e constitui base fundamental do convívio democrático, tanto no plano interno como no das relações internacionais."

Na sexta-feira, Trump disse: "Temos muitas opções a respeito da Venezuela, incluindo uma possível opção militar se for necessário".

Durante entrevista no seu clube de golfe em Bedminster, ele foi também questionado se seria uma ação impulsionada pelos Estados Unidos, mas preferiu não responder.

"Mas uma operação militar, uma opção militar é seguramente algo que poderíamos explorar", afirmou Trump.

"Temos tropas por todo o mundo, em lugares que estão muito distantes. A Venezuela não está distante e as pessoas estão sofrendo e morrendo".

Reações

Em reação, alguns países criticaram as declarações do americano.

O Peru, que na sexta chegou a expulsar o embaixador venezuelano de Lima, afirmou neste sábado que "todas as ameaças estrangeiras ou domésticas de recorrer à força enfraquecem o objetivo de reinstalar a governança democrática na Venezuela".

O ministro venezuelano do Exterior, Jorge Arreaza, disse que Trump foi hostil e desrespeitoso, e põe em risco a estabilidade em toda a América Latina.

Muitos analistas indicaram que as declarações podem inclusive fortalecer o governo de Nicolás Maduro, dando-lhe um claro inimigo internacional para distrair as atenções dos problemas do país.

"Não posso imaginar nenhum governo na América Latina, de direita ou esquerda, que concorde com essa ideia", disse à BBC Michael Shifter, presidente da organização Interamerican Dialogue, com sede em Washington.

Trump concedeu entrevista nas suas "férias a trabalho" em Nova Jersey, depois de se reunir com o secretário de Estado, Rex Tillerson, o assessor de segurança nacional, H.R. McMaster, e a embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Haley.

Do lado venezuelano, o ministro de Comunicações, Ernesto Villegas, classificou a fala de Trump como "a mais grave e insolente ameaça já proferida contra a Pátria de Bolívar".

As declarações do presidente americano ocorreram 24 depois que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse em uma sessão especial da Assembleia Nacional Constituinte que deseja ter "uma conversa pessoal" com seu par americano.

"Eu acredito na diplomacia e (...) reforço ao presidente Donald Trump meu desejo de restabelecer relações políticas, de diálogo, de respeito, em termos de igualdade", disse Maduro.

Já o porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, Eric Pahon, se negou a aprofundar as declarações de Trump e acrescentou: "Até o momento, o Pentágono não recebeu ordens", informou a agência de notícias AFP.

Crise

A Venezuela vive uma grave crise política, econômica e social. Mais de quatro meses de protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro resultaram em mais de 120 mortos.

Na semana passada, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte (ANC), um parlamento temporário destinado a elaborar uma nova Constituição. É formado exclusivamente por chavistas, devido ao boicote da oposição, que exigia a realização de um referendo prévio.

A Constituinte venezuelana foi condenada por 12 países da América e do Caribe na chamada "Declaração de Lima", além de Estados Unidos, União Europeia, entre outros.

Nas últimas semanas, os Estados Unidos impuseram várias rodadas de sanções econômicas a funcionários do governo venezuelano.

Diante da ANC, nesta quinta-feira, Maduro disse que as sanções americanas não têm "base jurídica" e questionou: "Até onde o imperador Trump acredita que é governante do mundo?"

Análise do correspondente da BBC Mundo na Venezuela, Daniel García Marco

A intervenção militar dos Estados Unidos tem sido um argumento usado primeiro pelo presidente Hugo Chávez e agora por Nicolás Maduro para cerrar fileiras entre seus seguidores, sobretudo em tempos de crise.

É o caso atual. Maduro e seu gabinete repetem que os Estados Unidos, a que chamam "o império", está por trás da "guerra econômica", que usam para explicar a situação de desabastecimento e de inflação da Venezuela.

Também acusam o vizinho do norte de estar por trás de ações da oposição, que qualificam de "extrema direita", por desestabilizar e buscar uma mudança de governo através da força.

As declarações desta sexta-feira de Donald Trump dão munição a um governo que se sente atacado ante a ampla falta de reconhecimento internacional da recém constituída Assembleia Constituinte, e que é considerado por mais de uma dezena de países da região como "não democrático".

Com Trump na Casa Branca desde janeiro, os Estados Unidos têm sido mais frontais na sua postura perante a Venezuela do que com Barack Obama.

Houve sanções individuais contra altos cargos do governo venezuelano, incluindo até o presidente Maduro, a que Washington chama diretamente de "ditador".

O senador de origem cubana Marco Rubio apareceu como o principal impulsionador de medidas duras dos Estados Unidos contra a Venezuela. Encontrou apoio sobretudo do vice-presidente americano, Mike Pense, que manteve recentemente contato telefônico com o líder da oposição venezuelana Leopoldo López, que agora cumpre uma pena domiciliar de quase 14 anos.
Por enquanto, contudo, não chegaram as temidas sanções americanas ao setor petroleiro, que poderiam minar ainda mais a golpeada economia venezuelana.

Para além da dura dialética entre uns e outros, os Estados Unidos seguem sendo um parceiro comercial básico para a Venezuela. Apesar do declínio nos últimos anos, 740 mil barris de petróleo venezuelano chegam diariamente nos Estados Unidos, um dos poucos países com refinarias adequadas para tratá-lo.

Os Estados Unidos são junto a China e Rússia o maior parceiro comercial venezuelano, mas o único que paga em dinheiro. Venezuela exporta petróleo para Pequim e Moscou para quitar empréstimos fornecidos anteriormente.

Por isso, muitos acreditam que Trump faria muito mais dano se fechasse a torneira de dólares a um governo sem liquidez para importar produtos básicos, do que com ameaças de ações militares que reforçam em Maduro a ideia do inimigo exterior.

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