Agência Notisa Na pesquisa Análise vocal de personagens suicidas de filmes de cinema, publicada em dezembro passado na Revista Brasileira de Psiquiatria, amostras de fala de 48 personagens do cinema hollywoodiano foram ouvidas e avaliadas, com base na análise perceptivo-auditiva (qualidade vocal, ressonância, pitch, loudness, modulação, pausas, articulação e ritmo de fala) e na psicodinâmica vocal (sentimentos perceptíveis na fala). O objetivo era a identificação de possíveis padrões que possam servir de guia para identificar pacientes potencialmente suicidas.
Segundo os autores Elaine Pallinkas-Sanches, do Centro de Estudos da Voz (CEV) de São Paulo, e equipe, o estabelecimento de diretrizes que ajudem a identificar pacientes nestas condições pode ser útil não apenas para o treinamento de atendentes de linhas telefônicas voltadas para suporte ao suicida, mas também para o trabalho de profissionais de saúde. Isto porque há na literatura médica um consenso quanto ao fato de que pacientes que cometem suicídio com frequência têm algum tipo de contato com serviços de saúde nas semanas precedentes ao ato suicida, relata o artigo.
A escolha de analisar a fala de personagens de cinema aconteceu porque, ainda que os pesquisadores admitam que por vezes pode haver uma glamourização do suicida nos filmes, de maneira geral estes personagens parecem mostrar grande semelhança com pacientes suicidas reais, no que diz respeito a suas características clínicas e demográficas. Dessa forma, acreditam os autores, o realismo de alguns padrões de comportamento e situações de vida mostradas nos filmes com frequência permitem que conclusões sobre seus personagens possam ser estendidas a pacientes reais.
Foram encontradas anormalidades destacas na qualidade vocal das amostras analisadas, por exemplo, 85,5% delas apresentaram alterações em ao menos cinco parâmetros da análise perceptivo-auditiva, com destaque para soprosidade (n = 42; 87,5% das amostras), rugosidade (n = 39; 81,2%) e tensão (n = 29; 60,4%), bem como ressonância laringofaríngea (n = 39; 81,2%), pitch agudo (n = 14; 29,2%) e loudness fraca (n = 31; 64,6%), registra o artigo. Já quanto à psicodinâmica, os sentimentos mais facilmente percebidos pela voz eram os de desânimo em 50% (n = 24) das amostras, desesperança em 47,9% (n = 23), resignação em 37,5% (n = 18) e tristeza em 33,3% (n = 16).
Os autores, por fim, sugerem uma maior atenção às características da fala de pacientes que possam se revelar suicidas, com atenção aos padrões encontrados em sua pesquisa. Se replicados entre pacientes reais, estes achados podem contribuir para o aperfeiçoamento da avaliação do risco de suicídio e a instauração de medidas preventivas, acreditam.
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