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Álcool demanda crescente no mercado impulsiona produção

Cristiane Sandin - 02 de maio de 2005 - 15:57

O negócio do álcool combustível (etanol) vem se mostrando um mercado altamente promissor. Cada vez mais países, como os Estados Unidos e União Européia, estão seguindo o exemplo do Brasil que adiciona com sucesso 25% do etanol a gasolina. Pelo baixo custo e alta capacidade produtiva no setor, o mercado internacional está de olho no país e nas regiões onde o setor sucroalcooleiro é mais intenso: é aí que se encaixa o Mato Grosso do Sul.

Para mostrar a sociedade sul-mato-grossense que a instalação de usinas de álcool e similares é um grande passo para colocar o Estado no caminho do desenvolvimento sustentável, o secretário de Produção e Turismo (Seprotur), Dagoberto Nogueira Filho, se reuniu várias vezes com empresários, parlamentares, representante de Ong’s, associações e sindicatos, tentando explicar que o pleito defendido, na verdade, não é de abrir o Pantanal para a instalação de usinas sem critérios, como vem sendo mostrado, e sim de criar uma lei que proteja o meio ambiente ao mesmo tempo em que permita ao Estado ampliar suas bases econômicas.

“O que eu gostaria é que antes de criticar as pessoas conhecessem melhor o assunto e saibam o que está sendo proposto. Desde o início procurei parceiros, entendo que esse projeto deve ser participativo. Quero que a sociedade me ajude a formular uma lei que não cause danos ambientais, mais sim que permita a geração de empregos em grande parte dos municípios. É fato que essa população está diminuindo em virtude da escassez de empregos que faz com que as pessoas busquem mercados de trabalho em outras regiões ou até mesmo em outros estados”, ressaltou Dagoberto.

A PROPOSTA

A essência da proposta é de permitir que alguns municípios que se localizam no entorno da região pantaneira no planalto – cuja terra e condições climáticas são ideais para o plantio de cana – possa permitir a implantação de usinas de álcool, além de outras modalidades industriais. Hoje, cerca de oito empresas, das 26 que solicitaram a instalação de usinas de álcool na região da Bacia do Rio Paraguai, pretendem se fixar em parte da área proibida por lei.

“É importante ressaltar que mesmo que liberem algumas áreas, todas as empresas obedecerão a vários critérios, como por exemplo: não instalar as unidades próximas de rios, ou seja, vamos criar mecanismos rígidos de proteção dos mananciais hídricos, exigir laudos de impacto ambiental, feitos pelo Ibama, Sema, que são instituições sérias que tem compromisso com o meio ambiente”, afirma ao ressaltar que uma das exigências do mercado exterior é exatamente essa: saber a origem de seu produto e, nesse caso, se a sua produção não afetou o meio ambiente. O que se deseja, na verdade, é apenas uma modificação do conteúdo da lei que hoje se encontra ultrapassada até mesmo porque, naquele período (em 1982), não havia a tecnologia existente atualmente. O ponto principal em questão é que o Pantanal não será afetado, como muitos estão apontando. Mas, caso os ambientalistas comprovem definitivamente que a ação é prejudicial, o secretário não exitará em recuar.

“A questão do Aqüífero me preocupa. Se comprovado que as usinas representam risco, não terei dificuldade nenhuma em recuar, pois não vou pôr em risco o meio ambiente”, explicou Dagoberto durante entrevista ao programa Noticidade, da FM Cidade, na última segunda feira. Ele também lembrou que só a ação do cultivo da cana-de-açúcar chega a absorver o equivalente a quase um quinto da emissão total de carbono resultante da queima de combustíveis fósseis no Brasil, ou seja, uma redução de 39 milhões de toneladas de CO2 por ano.

VINHOTO

Uma das ressalvas feitas pelo Fórum de Defesa do Pantanal – formado por 15 entidades, a maioria delas Ong’s ligadas a questões ambientais – é de que um provável acidente nessas destilarias, provocaria danos praticamente irreparáveis no Pantanal sul-mato-grossense. A maior preocupação dos ambientalistas é quanto ao vazamento do vinhoto (líquido que sobra no processo de destilação) que por muito tempo foi jogado nos rios e córregos. Porém, é preciso considerar que, atualmente, o vinhoto é reaproveitado como adubo na própria lavoura de cana e isso possibilita uma gigantesca economia pela empresa.

O vinhoto acelera a decomposição e humificação da folha seca, sua gradual incorporação superficial melhora a estrutura física do solo, tornando-o mais ‘grumoso’ e arejado ao mesmo tempo em que lhe dá maior capacidade de retenção de água. Ele também aumenta e diversifica a microvida do solo possibilitando o surgimento de organismos maiores, como as minhocas, que fazem o trabalho de fertilização do solo. Quando aplicado adequadamente, cerca de 150 metros cúbicos por hectare, o vinhoto equivale a uma adubação de 61 kg/ha de Nitrogênio, 40 kg/ha de Fósforo, 343 kg/ha de Cálcio e 80k g/ha de enxofre. Se aferidos no mercado esses produtos somariam aproximadamente R$ 197 por hectare.

Uma consideração importante da qual a agronomia moderna costuma esquecer-se no caso da cana: tanto o açúcar quanto o álcool, só contém os elementos carbono (C), oxigênio (O) e hidrogênio (H). Estes elementos a planta retira do ar e da água, não precisam ser devolvidos ao solo em forma de adubo. Os elementos que a planta retira do solo, o fósforo (P), o potássio (K), o cálcio (Ca), o magnésio (Mg) e todos os micro elementos estão na cinza, no vinhoto, na folha seca.

Também existem alternativas de variados custos e níveis de complexidade para o tratamento do vinhoto, normalmente utilizado pelas grandes indústrias. Pode-se, por exemplo, promover a evaporação do líquido até que a concentração de sólidos passe de 10 para 60%, tornando possível utilizá-lo como combustível para a destilação do álcool. Os custos dos equipamentos necessários à evaporação podem ser rapidamente recuperados, e as cinzas resultantes desse processo podem ser utilizadas como fertilizantes sem danos ambientais.

Outro problema questionado é quando ao bagaço da cana que também não era aproveitado adequadamente. Agora, ele está dando mais lucro que o próprio álcool, como gerador de energia elétrica. A Cooperativa de Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Coopersucar), fez um estudo onde mostrou que o bagaço da cana produzido no Brasil, se queimado adequadamente geraria uma energia equivalente a 400 milhões de barris de petróleo. Isso representa a metade do consumo anual de petróleo no país. Atualmente, nós temos um consumo em torno de 2 milhões de barris/dia.

INSENÇÃO FISCAL

Os benefícios fiscais têm sido utilizados pelos estados menos desenvolvidos como único ou principal remédio para estimular o seu crescimento econômico, atraindo investimentos e empresas às regiões menos desenvolvidas, como é o caso de Mato Grosso do Sul. Com a publicação da reforma tributária, que coloca um fim na guerra fiscal, os defensores do fim dos incentivos fiscais (pólos desenvolvidos) vêm buscando a suspensão imediata desse incentivo.

“Impossível ignorar que se a tributação for exatamente à mesma em todo o Brasil, dificilmente uma empresa se instalaria fora das Regiões Sul e Sudeste, onde se encontra a maior parte dos consumidores e de seus potenciais fornecedores”, criticou Nogueira ao apontar que o governo está autorizado, por Lei, a fornecer de 67% a 90% de renuncia fiscal as empresas que se instalarem no Estado.

Para Dagoberto, Mato Grosso do Sul não pode perder a oportunidade de se tornar um grande produtor de álcool. “Esse será o combustível do futuro e o mundo dependerá desse produto. O petróleo já inaugurou o seu período de ‘depreciação’, pois hoje tem uma demanda muito maior que às reservas existentes. Não é a toa que, por exemplo, o mercado internacional, e até mesmo o Brasil, vem registrando o aumento da frota de veículos bicombustíveis”, frisou.

Segundo informações da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), cada novo veículo consome cerca de 240 litros mensais. Ainda segundo a Associação, o mercado interno brasileiro já comercializa cerca de 30 mil unidades desses carros por mês.

Com informações da Fundação Gaia Lutzenberger, Porto Alegre/RS; Cooperativa de Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Coopersucar); União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (ÚNICA); Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea); Jornal Valor Econômico e Folha de São Paulo.

Cristiane Sandim

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