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Geral

Alcides Silva: Morte ao gerundismo

Alcides Silva - 05 de outubro de 2007 - 09:01

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
Morte ao gerundismo
O governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal, acaba de “demitir” o gerundismo, essa praga que tomou conta da linguagem escrita e oral dos últimos tempos. O decreto publicado segunda-feira passada, 2 de outubro, é bem claro. Já no artigo 1º declara: “Fica demitido o gerúndio de todos os órgãos do governo do Distrito Federal” e o artigo 2º seu uso é proibido até “para desculpa de ineficiência”.
Bravo, bravíssimo! Pelo menos alguma coisa já está sendo feita”.
Já comentei neste espaço que é muito freqüente, por macaquice à sintaxe inglesa, o emprego do gerúndio para expressar aspecto de ação futura: “Vamos estar providenciando o pagamento” – “Vou estar revendo meus conceitos” - “Chapadão do Sul, no próximo dia 23, vai estar comemorando mais um aniversário de fundação”
Se na linguagem oral esses “vai”, “vamos”, ou “vou estar” podem ser tolerados – até porque na fala de uma conversa informal, a liberdade sintática é conseqüência da naturalidade -, na linguagem escrita essas construções não devem ser admitidas.
O verbo estar, seguido de gerúndio, expressa uma ação que se prolonga por algum tempo: “Está fazendo forte calor”; o verbo ir, se acompanhado de gerúndio, exprime uma ação de retirada ou de saída, também de caráter durativo: – “É tarde e já vou indo, preciso ir embora, até amanhã, mamãe quando eu saí disse: filho, não demora em Braçanã”, são versos extraídos de ‘Menino de Braçanã’, belíssima canção de Arnaldo Passos e Luiz Vieira, que a interpreta. Nessas situações, o tempo da ação é o do presente. Isso porque o gerúndio sempre apresenta um processo verbal em curso, em andamento, simultâneo, que está acontecendo ou aconteceu imediatamente antes da ação indicada na oração principal: “Abrindo as janelas, respirei o ar puro da manhã”.
É sabido que o gerúndio é a forma nominal do verbo usada para exprimir uma circunstância ou formar, quando conjugada com os auxiliares andar e estar, verbos freqüentativos (exprimem ações repetidas ou freqüentes), ou para expressar a ação incoativa (ação que começa) de um verbo, quando estiver junto dos auxiliares ir e vir.
Nos exemplos apresentados na abertura deste comentário, o emprego do gerúndio é irregular porque a ação verbal está a ser realizada, no futuro e o uso do gerúndio é impróprio quando houver distância entre o tempo da ação por ele expressada e o da ação do verbo principal.
É aí que está a influência da língua inglesa. O tal do tempo “present continuous” do falar americano, quando reflete ações já planejadas: “They are moving next week” = Eles estão se mudando na próxima semana. Que, aliás, nada mais é que o nosso futuro simples: Eles estarão se mudando... (ação simultânea).
O prof. Agostinho Dias Carneiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicou pela Editora Moderna, do Rio, um livro-guia muito bom: “Redação em construção”. E lá ele sintetiza a seguinte regra geral: “O gerúndio está bem empregado quando:
- há predominância do caráter verbal ou adverbial;
- o caráter durativo da ação está claro; e
- a ação expressada é coexistente ou imediatamente anterior à ação do verbo principal.”
Pelo que se vê, os exemplos com que iniciei este comentário, por exprimirem ações futuras, fogem dessa regra geral, constituindo-se todos, destarte, em uso irregular e abusivo do gerúndio, o gerundismo, cuja morte foi decretada no governo do Distrito Federal.





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