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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela

Alcides Silva - 31 de outubro de 2008 - 04:19

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
Parece, mas não é
Vez por outra redatores de jornais confundem conceitos e utilizam-se de palavras que parecem ser sinônimas. Aí o texto fica confuso. Veja as situações abaixo:
1º - Mesmo = Igual
Outro dia li que para determinada festa popular era esperado o “mesmo público” do ano passado. Impossível. O que os organizadores poderiam esperar era “igual público”. “Mesmo” e “igual” não são sinônimos. “Mesmo” significa “o próprio”, “um só”, “invariável”, no caso, um público composto das mesmíssimas pessoas. “Igual” é o que tem a mesma natureza, semelhante, mas é “outro”. Se seu veículo está com o mesmo problema mecânico, significa que o defeito não foi consertado. Mas se seu automóvel voltou a ter igual defeito, isso quer dizer que apresentou um problema idêntico ao ocorrido anteriormente.
O prof. Sérgio Nogueira ilustrou a explicação com conhecida anedota:
“Um casal de velhinhos foi visitar uma exposição de animais. Ao ver o touro campeão, o velhinho perguntou ao proprietário o valor do animal. Ficou espantado com o valor altíssimo e quis saber por quê. O dono do animal lhe respondeu:
“-Num mês ele é capaz de cobrir 30 vacas”.
Aí, quem, ficou espantada foi a velhinha, que exclamou:
“-Tá vendo, meu velho!?”
O velhinho, ofendido, então perguntou:
“-Mas ... é sempre a mesma vaca?”
“-É claro que não”, respondeu o proprietário do touro.
Então, o velhinho, sentindo-se vingado, devolveu:
“-Tá vendo, minha velha!?”
2º - Eventual = Provável
Há dez anos, o ex-ex-ex- Paulo Maluf teve o seu nome ligado à divulgação de um
feixe de documentos (o episódio ficou conhecido como Dossiê Cayman), tidos como falsos, cuja papelada (xerocópias não autenticadas) mostraria a existência de uma conta bancária em ilha carabenha em nome de Fernando Henrique, José Serra, Mário Cova de Sérgio Motta (os dois últimos, já falecidos), coisa envolvendo a espantosa quantia de US$ 380 milhões. Consta que a Eucatex, empresa de Maluf, pagara R$ 4 milhões para ter acesso àquela documentação. Um consogro de Maluf teria procurado Lula antes do 2º turno da eleição estadual de 1998, propondo que o PT divulgasse o conteúdo da papelama. Uma nora e uma filha do ex-ex foram a casa de Marta Suplicy (terceira colocada no 1º turno daquela eleição estadual e, repetente, agora avassaladoramente derrotada por Gilberto Kassab, nas eleições paulistanas de domingo passado) com o mesmo propósito. Entre o perigo de o arquiinimigo Covas ser reeleito e o desastre de Maluf no governo paulista, o PT achou melhor sair da estória. Descoberta a trama e perguntado pela imprensa, o ex-ex-ex saiu-se com esta: “o dossiê é eventualmente falso...”
Perdeu na compra daqueles papéis fajutos, claudicou no vernáculo e, hosanas!, foi derrotado naquela eleição.
O advérbio eventualmente significa coisa que depende de um acontecimento, de um evento, que é incerto. O dossiê é ou não é falso. Ele não pode ser falso hoje e amanhã, dependendo de um acaso, não o ser. Uma moça pode ser supostamente virgem, mas não eventualmente virgem hoje e amanhã, ligeiramente grávida.

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