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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 28 de julho de 2011 - 18:02

Níquel


Existem palavras ouvidas ou lidas no passado ficam em nosso subconsciente à espera do clarim da alvorada para um novo despertar.
Ouvia-a ainda no ginásio, quando o exigente professor de matemática assim qualificou colega meu que se punha a choramingar sempre que advertido: “Menino niquento”.
No armazém de meus conceitos, por muito tempo niquento figurou como sinônimo de “chorão”. Um dia, bem mais tarde, pretendendo empregá-la com a idéia que dela fazia, fui ao dicionário e levei um susto: derivado do substantivo feminino nica – de étimo obscuro, possivelmente do latino nicles Desse mesmo étimo latino é o verbo aniquilar, ‘reduzir a nada’. Na ortografia da baixa latinidade, o latim eclesiástico da Idade Média, nihil era pronunciado nikil e escrito nichil. Assim, annihilare (de nihil, nada) passou a ser grafado annichilare (anikilare, na pronúncia de então). Daí, o nosso aniquilar e todos os seus derivados.
Tanto em Portugal, como no Brasil, nícles - na linguagem popular, na gíria- é um advérbio com o significado de ‘coisa nenhuma, nada’, conforme anota o dicionário de Jayme de Séguier. “Não entendi nícles do que ele disse”.
No português que se fala no Brasil, níquel também tem significação de nada quando pronome indefinido. Drummond, em “Fala, Amendoeira”, o emprega nesse sentido: “Ia retirar-se, sem que o Silva compreendesse níquel”.
Interessante o alongamento das palavras: os mineiros alemães, em meados do século XVIII (1751), ao descobrirem que pouco valia um minério que acreditavam ser o cobre, deram-lhe o nome de “nickel”, vocábulo que significava, no dialeto dos mineiros da época, ‘gênio astucioso, enganador’, isto é, nada.
É comum na gíria forense e policial o acréscimo de desinências latinas em palavras vernáculas: o jus esperniandi, por exemplo, é o direito de espernear quando as cosias não lhe são favoráveis. Do nihilo nihil (nada pode vir do nada), veio o “nilo nil”, para substituir o popular neca de pitibiriba.
E nesse jargão entra, também, o nosso nícles, através da palavra níquibus:
“O delegado:
- Vamos, fale. Queremos saber como era a vida desse bandido, antes do assalto. Você deve saber porque é amigo dele, Fale.
- Falar eu, seu doutor? Mas eu não sei níquibus.
Níquibus é nada, coisa nenhuma. Tem o sentido de calar, nada dizer, no exemplo apresentado.” (apud: Cid Franco: “Dicionário de Expressões Populares Brasileiras”).

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