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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 26 de maio de 2011 - 16:48

Mistérios ocultos nas palavras

Desde os tempos mais remotos, o homem sempre teve curiosidade em desvendar as significações primitivas e os mistérios escondidos no interior das palavras. Para tanto fez de tudo ao correr dos séculos: de invenções mirabolantes à analogias superficiais; de combinações arbitrárias à invenção de fórmulas mágicas. Tudo para justificar o pretendido significado de um vocábulo. A capacidade inventiva do ser humano sempre teve as mais amplas veredas no campo da etimologia.
O termo cadáver, por exemplo, andou mundo como se formado pelas iniciais das palavras latinas ‘cara data vermibus’ (“carne dada aos vermes”), quando, na realidade, significava caído, morto, originário que era do verbo latino cado, cadis, cadere = cair, escorregar, cair no combate, desfalecer, perecer.
Na antigüidade, a mesa utilizada para se escrever ou fazer contas era recoberta por um pano grosso de lã, chamado de pano de bura. Bura fora uma cidade grega, da antiga Acaia, destruída por um terremoto 372 a.C. Lá, era originariamente fabricado o tal tecido rústico Na língua francesa esse pano foi denominado de bure e a mesa que ele recobria, de bureau (birô é a pronúncia). Com o tempo, bureau, por derivação metonímica, passou a designar o local onde ficava a mesa forrada, o escritório, o gabinete, a repartição, (aliás, esse é o sentido, na língua portuguesa, da palavra birô). Quem exercia suas atividades atrás daquela mesa era chamado de bureaucrate. Daí, bureaucratie, burocracia, em português. Primitivamente, sistema de direção de uma atividade ou de um governo, a partir de um escritório ou de uma repartição. Depois, teve o conceito de administração da coisa pública por funcionários sujeitos a regulamentos, rotinas e hierarquia. Hoje, é a atividade pública engessada pelo formalismo.
Calma é uma palavra que nasceu na Grécia, de kauma, originariamente, queimadura, calor. Vindo para Roma, no latim cauma significou a parte quente do dia. No mar Mediterrâneo, quando não havia vento, reinava um calor abafado, porém, na superfície as águas eram tranqüilas. Como conta a História, as naus da esquadra de Pedro Álvares Cabral, que se destinavam às Índias, vieram dar às costas do Brasil em razão de uma calmaria, isto é, falta de vento.
A idéia de águas tranqüilas deu à palavra calma o significado de paz, mas o sentido de calor permaneceu na raiz da palavra. O verbo encalmar tem o significado de causar calor, aquecer, esquentar: “O sol do meio-dia encalmava os caminhantes”, exemplifica o Aurélio. Já desencalmar é um verbo que tem o sentido de refrigerar, refrescar.
Canícula, que em português designa um grande calor, em Roma estava ligada à idéia de cão. Canicula era ‘cadelinha’, nome que se dava à estrela Sirius, da constelação do Cão Maior, cuja representação era feita por um desenho na forma de um cão furioso. Como quando essa estrela se apresentava como a de maior brilho no céu coincidia com os grandes calores do verão, a época mais quente do ano, a palavra canícula (cadelinha) passou a representar uma situação de grande calor atmosférico.

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