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Alcides Silva: Língua Portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 25 de novembro de 2010 - 15:41

Vontade de falar bem

A língua que falamos – ou melhor, o modo como usamos o vocabulário de todos os dias -, é o resultado de um conjunto de hábitos que adquirimos espontaneamente, formados por parâmetros: aprendemos ouvindo. Todavia, ao falarmos ou escrevermos, às vezes - e sempre involuntariamente -, adotamos como modelo aquilo que julgamos estar acima de nós, aquilo que achamos bonito, como, por exemplo, o modo de falar ou de escrever de pessoas que se destacam no trabalho, nos estudos, nas artes, nos esportes, na política: a linguagem do que poderíamos denominar de classes sociais mais prestigiadas.
O medo de ser considerado como de escala socialmente inferior - ou não suficientemente estudado (iletrado ou analfabeto) - faz com que muita gente, no desejo de falar bem, equivoque-se ao pronunciar de forma diferente, palavras cujo emprego considera irregular. Quem já não ouviu o homem simples dizer pomal, arelha ou melha ao invés dos corretíssimos ‘pomar’, ‘areia’ e ‘meia’?
A isso se dá o nome de ultracorreção, que Houaiss define como “fenômeno que se produz quando o falante estranha, e interpreta como incorreta, uma forma correta da língua e, em conseqüência, acaba trocando-a por uma outra forma que ele considera culta; nessa busca excessiva de correção (seja na fonética: mantor por mantô, seja na acentuação: rúbrica por rubrica, seja na escolha do vocabulário: genitora por mãe), nota-se em geral o temor do falante de revelar uma classe de origem socialmente discriminada”.
No dia-a-dia usamos construções vocabulares por semelhança. Exemplificando: por oposição à locução ‘sentar-se na mesa’, em que esse na dá a idéia de sobre, usamos de forma não correta, no lugar do em, a preposição a. Esse fato ocorre, também. na expressão ‘domiciliado e residente à Rua ...’
É sabido que as preposições são palavras invariáveis que se antepõem a nome ou pronome para acrescentar-lhes uma noção de lugar, de instrumento, de companhia, de causa, de tempo, de limite, de posse etc. Em conseqüência, as preposições se dividem em preposições de quietação, repouso ou estado e indicam lugar onde; e preposições de movimento (ação) e abrangem as que designam lugar donde, aonde, para onde e por onde.
A preposição a é usada com verbo de movimento e significa estada num lugar, aproximação de um limite: “Estava à beira do caminho” (e não: na beira do caminho). Às vezes essa preposição é vista com sentido idêntico ao da preposição “para”: “Disse a você...”, “Disse para você...”. Empregada com os verbos ir e vir, a preposição “a” denota transitoriedade de movimento e a preposição “para” indica “permanência”. “Vou a São Paulo” (isto é, vou a negócios, a passeio); “Vou para São Paulo” (isto é, vou morar em São Paulo).
A preposição em é utilizada em verbos de estado (ou quietação) e tem um conteúdo significativo de posição no interior de, dentro dos limites de, em contato com, em cima de e, por isso, não pode ser usada com verbos que indicam movimentos: “Fui ao cinema” e não, “fui no cinema”).
Os verbos residir, morar, situar, localizar e outros são de quietação e não de movimento e em razão disso não admitem a preposição “a”, “Reside em Fernandópolis”, “Ela mora na Rua Amazonas” uma das principais vias de Votuporanga, “Casa situada no JACB (nome de um populoso bairro de Jales), “Sítio localizado na Serra da Moranga” (região rural de Cassilândia), “Comerciante estabelecido no Parque União (bairro de Chapadão do Sul).
Dessa maneira, em bom português, não se deve escrever: “domiciliado e residente à Rua ....” , mas “domiciliado e residente na Rua...”, “no Bairro da Estação” , no Recife, na Itália etc.
Ia falar de ultracorreção; empaquei nas preposições...

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