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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 25 de setembro de 2009 - 08:08

Dois esses ou c cedilhado?

Nas origens da língua portuguesa, século XII, quando imperante o latim vulgar, havia dois fonemas que, embora parecidos, não eram idênticos: um era representado por s ou ss, e outro por ç ou c: os dois esses quando a sibilante fosse surda, como em sessicare> sossegar> sossego; o ç ou c, quando no latim a sílaba fosse “ti”: comintiare> començar> começar; natione> nação. O uso das consoantes geminadas rr e ss entre vogais nasceu, segundo lição de Said Ali (“Gramática Histórica da Língua Portuguesa”, 7ª ed., pp. 43 e seguintes), da “necessidade de se representar pela escrita sons que, sem essa precaução, se confundiriam com outros”.
Os antigos não tinham qualquer preocupação com a etimologia, porém usavam o s dobrado, nas palavras derivadas do latim, quando tal fonema fosse empregado sem o som de z e o c (cedilhado ou não) quando correspondesse ao som de c ou de te ou ti da língua-mãe: lancea> lança, minancia> ameaça, matea> maça, pretiu> preço. Depois, com a dialetação do latim, resultado da invasão bárbaro-germânica da Península Ibérica, esses fonemas originários fundiram-se em um só, a sibilante surda, decidindo-se a escrita pela etimologia.
Não há uma regra de quando se deve escrever com dois esses ou com c cedilhado. Para não errar é preciso um conhecimento profundo do latim, hoje língua afastada do ensino regular.
Quando não conheço a correspondente palavra latina, uso de um recurso que me resolve a maioria das dúvidas. Toda palavra tem um radical, uma parte que não se altera. Primeiro exemplo: consolo, consolar, consolado, consolante, consolável: o radical é consol. Para saber se devo escrever a palavra consolação com c cedilhado ou dois esses, ao radical acrescento o sufixo “or”, que indica agente ou instrumento. Quem consola é o consolador. Segundo exemplo: eleger, elegível, eleitorado, eleito. Quem elege é o eleitor; daí eleição. Terceiro exemplo: confessar, confessado, confidente, confiteor. A pessoa através da qual (instrumento) é realizado o ato de confessar é o confessor, portanto confissão.
Este, então, o macete: 1º - quando a palavra que expressa aquele que faz, o agente, ou instrumento através do qual a ação é feita, terminar em dor ou tor, uso o c cedilhado: consolador> consolação, evaporador> evaporação, eleitor> eleição, extintor> extinção, instrutor> instrução, promotor> promoção, acelerador> aceleração etc.; 2º - se terminar em sor, emprego os dois esses: concessor> concessão, confessor> confissão, depressor> depressão, impressor> impressão, opressor> opressão, professor> profissão, repressor> repressão, sucessor> sucessão etc.
Daí, então, como quem agride é o agressor, a palavra agressão é grafada com dois ss.

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