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Geral

Alcides Silva: Língua Portuguesa, Inculta e Bela

Alcides Silva - 24 de fevereiro de 2011 - 16:57

Se eu fosse você, eu voltava pra mim”

Esse verso tirei-o da canção de Sílvio César “Pra você”, por sinal muito bela. Mas na língua padrão, esse verso mereceria pelo menos uma correção: “Se eu fosse você, eu voltaria para mim”.
Na escola estudamos o sistema verbal da língua portuguesa na base da decoreba, sem nunca nos preocuparmos com sua coerência. Culpa de alguns professores que transformavam o aprendizado da língua como instrumento de suplício.
Relembrando: o verbo é uma palavra dinâmica que exprime um fato (ação, estado ou fenômeno) em relação ao tempo (presente, passado, futuro).
Quando você diz uma frase, o jeito como o verbo é empregado reflete a maneira (no latim, modus) como você está vendo o fato relatado. São três essas maneiras, ou melhor, três os modos do verbo:
1- o da certeza, da informação objetiva, denominado modo indicativo:
O carnaval neste ano será no mês de março;
2 o da vontade, da dúvida, da hipótese, chamado de modo subjuntivo:
Queria que você voltasse logo;
3- o da ordem, do mando, do aconselhamento, da súplica, que é o modo imperativo:
Volte logo – Vá pela sombra – Senhor, tende piedade de nós.
O verbo sempre indica uma ação (estado ou fenômeno) no tempo que pode estar acontecendo (presente), ter ocorrido (passado, que na Gramática chama-se de pretérito), ou vir a realizar-se (futuro).
No modo indicativo os tempos verbais são:
*o presente que apresenta um fato que está ocorrendo: volto;
*o pretérito que pode referir-se a um fato ocorrido completamente (o chamado pretérito perfeito: voltei), ou indicar uma ação presente com relação a uma outra passada ou não terminada (o chamado pretérito imperfeito; voltava), ou, ainda, apresentar um fato ocorrido no passado, mas anteriormente a outro fato também no passado (pretérito mais que perfeito: voltara); e
*o futuro que indica uma ação (ou fato) posterior ao momento em que se fala (denominado futuro do presente: voltarei), ou um fato (ação) que poderia realizar-se depois de um outro que ainda não ocoreu e, provavelmente, não vai ocorrer (chamado futuro do pretérito: voltaria).
Os tempos verbais se formam a partir de três fontes que se podem chamar de primitivas: o infectum (do latim, in fectum “não perfeito”) que exprime a ação inacabada que ainda está acontecendo, sem contornos definitivos no tempo, que é o presente do indicativo e de onde vieram o imperfeito do indicativo, o imperativo e o presente do subjuntivo; o perfectum que indica a ação acabada, completa que é o perfeito do indicativo, de onde nasceram o mais que perfeito do indicativo, o imperfeito do subjuntivo e o futuro do subjuntivo; e o infinitum que, na língua portuguesa, deu origem ao futuro do presente e ao futuro do pretérito. Ainda, do infinitivo nasceram as formas nominais o infinitivo pessoal (voltar), o gerúndio (voltando) e o particípio (voltado).
Dentro de uma frase as formas verbais se correlacionam, isto é, há uma relação de tempo e de modo: Quero (presente do indicativo) que você volte (presente do subjuntivo). Queria (pretérito imperfeito do indicativo) que você voltasse (pretérito imperfeito do subjuntivo).
No verso de Sílvio César, o verbo ser, apresentado no pretérito imperfeito do subjuntivo (fosse), exige voltaria (futuro do pretérito do indicativo) porque a ação por ele expressada (voltar) só poderia realizar-se após uma outra ação: Se eu fosse você, eu voltaria para mim.

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