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Alcides Silva - Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 22 de junho de 2007 - 15:22

Sequer

Volta e meia leitores me escrevem para condenar o uso do advérbio “sequer” com valor negativo. Acabo de receber de Clayton Ávila Alves a seguinte mensagem, que aqui transcrevo preservando-lhe a grafia original:
Mais uma vez venho abordar o aspecto referente ao termo SEQUER e aos exageros da negativa.
Extraio do texto entitulado “Juntos ou separados”, de Alcides Silva, uma frase pela qual fico indignado, pela contrariedade do significado SEQUER:
“Tampouco é advérbio e só se emprega quando puder ser substituído por também não, ou nem sequer, ou, ainda, por sequer: Não apareceu tampouco se justificou.”
É um equívoco afirmar que TAMPOUCO pode ser SEQUER, que significa AO MENOS, PELO MENOS, NO MÍNIMO.
Adquiriu-se o costume de entender que o advérbio sequer, que não é de negação, fosse colocado como tal. Se assim o fosse a expressão “nem sequer” seria redundante, como dizer “nem nem”, da mesma forma que já se faz a redundância em “nem tampouco”, quando conectivo de orações ou complementos. Há de se entender que “nem sequer” é o mesmo que “nem ao menos” ou “nem no mínimo” ou “nem pelo menos”..
Exemplifico o que é correto e o incorreto: O Correto: “Não leu jornal nem sequer assistiu televisão”. O Incorreto: “Não leu jornal nem tampouco assistiu televisão”.
Assim, é inadmissível o exagero pós-reforço da negativa, ou a duplicidade de reforço com termos de mesmo significado da negativa, incorreto tanto gramatical quando dialeticamente, por exemplo:
“Não vai nem sequer...” - ao invés de “não vai sequer...”; “Nunca sequer nem...” - ao invés de “nunca sequer...”; “Ninguém sequer nem...” - ao invés de “ninguém sequer...”;(nem (reforço) = sequer; ao menos); “Não vou nem falar nada” (não vou nem ‘nem’ uma coisa falar) - ao invés de “não vou nem falar uma palavra”; “Nem isso, nem nada” (nem nem uma só coisa) – ao invés de “nem isso, nem outra coisa” ou “nem isso e nada”. “Nem eu, nem você, nem ninguém” (nem nem uma só pessoa) - ao invés de “nem eu, nem você e ninguém”, ou “nem eu, nem você, nem uma pessoa”.
Sendo assim, sugiro que se retifique o conceito de TAMPOUCO, evitando assim o mal entendido.
Obrigado pela atenção - Clayton Ávila Alves - Consultor Legislativo”
Pelos padrões cultos, pelas normas gramaticais correntes, pelas regras em uso em bom português o sequer sempre deverá vir acompanhado de uma negação: “Não votou sequer para presidente”; “A garota nem era sequer simpática”; “Nem sequer respondeu-me a carta”. Mas na língua portuguesa que se fala no Brasil, o sequer está se tornando independente e vicejando sem o apêndice de outro advérbio. Carlos Drummond de Andrade assim começa seu longo e belo poema “O mito”, publicado em “A Rosa do Povo”, livro que reuniu sua obra poética produzida nos anos 1943-1945: “Sequer conheço Fulana, / vejo Fulana tão curto, / Fulana jamais me vê, / mas como eu amo Fulana. / Amarei mesmo Fulana? / ou é ilusão de sexo? / Talvez a linha do busto, / da perna, talvez do ombro.”
Com o advérbio sequer está acontecendo o mesmo processo de evolução semântica ocorrido com jamais, um outro advérbio que nos primórdios da língua não podia vir desacompanhado de outra negativa: “... já mays non ouv’i lezer... (“Cancioneiro da Vaticana’).
A negativa reforçada nunca jamais (corredia no castelhano: “Nunca jamás” é o nome de um delicioso bolero relançado no Nanna Caymmi) era freqüente nos clássicos: “Que... nunca jamais se pudesse alcançar delle que para os taes provimentos, mayores nem menores interesse por pessoa alguma” (Sermões do Padre Antônio Vieira, vol. 8, p. 233).
Hoje, o advérbio jamais não precisa de reforço negativo “Jamais votarei naquele candidato”, o que, por certo, sucederá com seu parente sequer.
Todavia, nos meus escritos, o sequer ainda vive em dupla ou com o nem ou com o não, ou até mesmo com o renão, que aqui relembro em homenagem ao presidente do Senado, Renan Calheiros, a bola da vez.

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