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Geral

Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 21 de junho de 2012 - 16:40

Verbos terminados em “gir”

Os verbos agir, corrigir. dirigir, fugir e todos os demais terminados em “gir” (não há os terminados em “jir” na língua portuguesa), exigem, na primeira pessoa do presente do indicativo, que o “g” seja trocado por “j” pela razão simples da pronúncia: eu ajo, eu corrijo, eu me dirijo, eu fujo. Não houvesse a troca da letra, teria que dizer eu ago, eu corrigo, eu dirigo eu fugo. No presente do subjuntivo, o “j” aparece em todas as formas: que eu dirija que tu dirijas que ele dirija que nós dirijamos que vós dirijais que eles dirijam. No imperativo afirmativo, a mudança ocorre na 3ª pessoa do singular (dirija) e na 1ª e 3ª pessoas do plural (dirijamos e dirijam).
Nos verbos terminados em jar a letra jota permanece em todas as conjugações: viajo, viajas, viaje, viajamos etc. Todavia, os substantivos relativos a esses verbos são grafados com g: coragem, ferrugem, viagem, etc.
“Mantenham a coragem e encorajem seus companheiros” – “Evite a ferrugem e pinte as cadeiras para que não se enferrujem”.
A palavra viajar tem origem latina. É derivada de via= caminho percorrido, trajeto.
A propósito, a consoante j é uma degeneração do i latino: Gesiminum= jasmim –Germano= irmão - Ian= já – Iudice= juiz – Hierosalyman= Jerusalém – Hiacinthum= Jacinto – Hypogeum= jazigo.
O sempre lembrado mestre Said Ali explicava que “naquelas palavras onde hoje escrevemos e pronunciamos o j, a pronúncia antiga não diversificava da nossa, embora em ditas palavras pusessem ora j ora i, como em peleja e peleia, seja e seia, aja e aia, junto e iunto, jaz e iaz” (“Gramática Histórica da Língua Portuguesa”, Livraria Acadêmica, Rio, 1971, p. 36).
Já comentei nesta coluna que o substantivo viagem veio do provençal viatge, derivado do latim viaticum, palavra como eram designadas as ‘provisões para o caminho’, isto é, a comida que se levava para um deslocamento, um passeio, uma peregrinação. Caso típico de metonímia (emprego do conteúdo pelo continente), o alimento passou a significar a própria jornada, a viagem. As combinações di, si, se, ve, seguidas de vogal também produziram em português a letra jota: hodie= hoje – diurnalem= jornal – eclesian= igreja – basium= beijo - caseum= queijo – foveum= fojo (armadilha para caça de animais ferozes que consiste em um buraco profundo, cavado no chão e disfarçado com ramos e galhos).
Por seu turno, a letra g é conseqüência do abrandamento do c latino: Catum= gato. O ge e o gi do vernáculo geralmente representam um g latino: gibba¬= geba( corcunda, mulher feia); agitare= agitar; gelu= gelo; suggerere= sugerir.

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