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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 19 de novembro de 2008 - 08:27

Pão com o suor do rosto, ameaça Obama

Diante da crise americana que assolou o mundo, o recém proclamado presidente da maior potência do mundo, Barack Obama, em seu discurso de eleito, só divisou sacrifícios: “Os desafios que nos trará o dia de amanhã são os maiores de nossas vidas duas guerras, um planeta em perigo, a pior crise financeira em um século... O caminho pela frente será longo. A subida será íngreme. Pode ser que não consigamos em um ano nem em um mandato”.
Pelo visto, só nos restará comer o pão ázimo de nosso próprio suor!, sumulou.
O pão é uma palavra bíblica que exprime alimento. ‘Comer o pão com alguém’ significava tomar com ele uma refeição ou um banquete ou, então, concluir uma aliança (Gên. 31,54); daí a expressão usada em Abdias 7, ‘os homens do teu pão’. O pão é comparado à sabedoria (Prov. 9,5, o pão da inteligência e a água do conhecimento). A eucaristia é o pão da vida O pão nosso de cada dia.
A esse emprego da mesma palavra para significações diferentes dá-se o nome de metonímia, “uma figura de linguagem que consiste na ampliação do âmbito de significação de uma palavra ou expressão, partindo de uma relação objetiva entre a significação própria e a figurada”, conforme ensina Mattoso Câmara Jr. (“Dicionário de Filologia e Gramática”, 4ª ed., p.263).
‘Comerás o pão com o suor de teu rosto’ foi a maldição lançada contra Adão por ter provado da ‘maçã da vida’ (Gên. 3, 19).
Na Estilística e na Retórica, essa ampliação da significação usual das palavras (pão = alimento; – suor = trabalho; rosto = corpo), chama-se sinédoque, uso da palavra fora do seu conceito real. Na sinédoque, que é uma espécie de metonímia, há uma ampliação ou redução do sentido usual da palavra:
“Do lado esquerdo carrego meus mortos / Por isso caminho um pouco de banda” (Carlos Drummond de Andrade).
Na Grécia antiga, synedoché significava ‘compreensão de várias coisas ao mesmo tempo’.
Se pretendo dizer que ‘alguém só pensa em mulher’, posso substituir essa expressão por outra mais significante e enfática: ‘só vive pensando em saias’ ou ‘só anda atrás de rabo de saia’. Na primeira situação, mulher é uma palavra unívoca, isto é, só admite uma única interpretação; na segunda, saia é plurívoca, têm diversas significações ou compreensões.
O mesmo se dá com a palavra cama. De um móvel destinado ao descanso, ao leito, para dormir, hoje, na chamada música popular, cama passou a significar um relacionamento sexual: “Quero-a para a cama”.
“Ela é de cama, mesa e banho do chefe, mas é competente” (Serra e Gurgel).
Nas assonâncias de Chico Buarque, versos já lembrados nesta coluna, percebe-se o processo sinedóquico na construção poética: Sou Ana, da cama / da cana, fulana, bacana / Sou Ana de Amsterdam”.
Na Segunda Guerra Mundial, depois da tomada de parte da França pelas tropas nazistas, Winston Churchill, primeiro-ministro da Inglaterra, sintetizou ao mundo que só poderia oferecer “suor, sangue e lágrimas”, expressando, assim, nas manifestações físicas do ser humano, as angústias, as privações e os sacrifícios pelos quais passariam não só os ingleses, mas toda a humanidade, o que efetivamente ocorreu. Como agora inevitavelmente deverá acontecer com o mundo, de acordo com a profecia de Barack Obama.
Roguemos a Deus para que tenha Obama a estatura de estadista do chanceler inglês. Aí nem tudo estará perdido!

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