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Alcides Silva: Língua Portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 19 de agosto de 2010 - 16:09

São 9 horas da manhã e hoje é 21 de agosto

Uma regra que qualquer criança aprende ao entrar na escola é que o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa, isto é, se o sujeito for singular, o verbo deve estar no singular: Ele (singular) ficou (3ª pessoa do singular) calado – Eles (plural) ficaram (3ª pessoa do plural) calados.
Na abertura deste comentário o verbo ser aparece em duas situações: no plural, indicando horário; e no singular, nomeando um dia. Tanto o horário (9 horas da manhã), como o dia (21de agosto) são expressões numéricas. Há autores que ensinam que o verbo ser deve concordar com a expressão numérica. Assim com “são 9 horas da manh㔠– oração impessoal-, também deve-se dizer “hoje são 29 de janeiro”. Felizmente andam em minoria, os tais puristas. Ninguém, salvo os pedantes, fala “Hoje são 29 de janeiro”.
Explica Celso Cunha (“Gramática do Português Contemporâneo”, 2ª ed., p. 347) que “quando o sujeito é constituído de uma expressão numérica que se considera em sua totalidade, o verbo ser fica no singular: “Oito anos sempre é alguma coisa” (Carlos Drummond de Andrade)”. O sujeito tem forma plural (‘oito anos’), mas traduz uma única ideia (lapso de tempo).
O uso do verbo no singular está consagrado na “língua certa do povo” e essa concordância é aceita pelos melhores autores.
Francis Vanoyne (“Usos da Linguagem”, tradução e adaptação de Clarisse Sabóia... et. al., 5ª ed., p. 32) observa que a linguagem correta “aquela recomendada pela gramáticas normativas adotadas nas escolas, é estática; as ousadias, as invocações, as criações vêm da linguagem popular e da linguagem literária; em outras palavras, a evolução da língua é feita pelo povo e pelos poetas!”
Ainda, segundo leciona Celso Cunha, quando o sujeito for constituído por uma expressão partitiva (como: ‘parte de’, ‘uma porção de’, ‘o grosso de’, ‘o resto de’, ‘metade de’ e equivalentes) e um substantivo ou pronome plural, o verbo pode ficar no singular ou ir para o plural: “Para meu desapontamento, a maioria dos nomes adotados não dispunha de telefone, ou eram casas comerciais, que não queriam conversa.” (Carlos Drummond de Andrade)
Quando o sujeito, indicador de quantidade aproximada, vier formado de um número plural precedido das expressões ‘cerca de’, ‘mais de’, ‘menos de’, ‘perto de’ e sinônimos, o verbo vai normalmente para o plural: “Cerca de quinhentas pessoas visitaram o maestro na casa do Engenho Velho.” (Manoel Bandeira)
Enquanto o sujeito do qual participa a expressão ‘menos de dois’ leva o verbo ao plural, o sujeito formado pelas expressões ‘mais de um’ ou ‘mais que um’, seguidas de substantivo, deixa o verbo no singular, a menos que haja idéia de reciprocidade, ou as referidas expressões venham repetidas: Menos de dois convidados chegaram atrasados. Mais de um convidado chegou com atraso. Mais de um orador se criticaram mutuamente na ocasião. Mais de um velho, mais de uma criança não puderam fugir a tempo.

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