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Geral

Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 18 de novembro de 2010 - 16:52

Concordância verbal
Semana passada deixei no ar a dúvida. Qual o correto: Bom número dos brasileiros que paga impostos (ou pagam) reclama (ou reclamam) da voracidade do Leão?
Veja a estrutura do período através dos verbos: quem reclama é o bom número de brasileiros, isto é, um grupo de cidadãos, uma quantidade de pessoas: “Bom número” é singular. Agora, quem está descontente são os brasileiros; os que nasceram na pátria amada: “Brasileiros” é plural. Ora, se o sujeito do verbo pagar (brasileiros) é plural, o verbo logicamente fica no plural, como, da mesma forma, se o sujeito do verbo reclamar estiver no singular, o verbo acompanha essa concordância. O verbo pagar se refere a “brasileiros” e o verbo reclamar, a “bom número”.
Note que no período em análise, a palavra que é um pronome relativo – relaciona o termo antecedente ao posterior. Para saber se o termo “que” é pronome relativo, substitua-o por o qual, a qual, os quais, as quais: “Bom número de brasileiros que (os quais) pagam...” E lembre-se sempre do macete descomplicador: o termo antecedente ao pronome que é quem determina a variabilidade do verbo. Assim: O pessoal que dança no Absolut é jovem – Os jovens que dançam no Absolut são modernos. (“Absolut” é o nome de uma danceteria de Santa Fé do Sul).
Tirando o que desse período, a concordância torna-se mais flexível, havendo gramáticos que defendem as duas formas, podendo-se dizer tanto “Bom número dos brasileiros paga impostos e reclama da voracidade do Leão”. A predominância na linguagem culta é pelo verbo no singular, pois dos brasileiros quem reclama é um bom número, uma quantidade, um grupo,
A vírgula
A vírgula representa uma pausa, tanto no texto escrito como na fala. Mas a recíproca não é verdadeira.
Sempre que aparecer o pronome relativo, a oração que ele integra é subordinada adjetiva, que pode ser restritiva ou explicativa.
Restritiva é a que limita, restringe a significação do termo antecedente tornando-se indispensável ao sentido essencial do período: “As uvas que ele produz são mais doces que as de meu quintal”. Aqui, não são todas as uvas que são mais doces que as do meu quintal, mas as “que ele produz”.
A explicativa representa apenas uma qualidade do termo antecedente, esclarecendo melhor a sua significação, sendo dispensável ao sentido da frase: “O céu que está nublado, indica que irá chover”. Eu poderia retirar do período a oração, “que está nublado” sem prejudicar o sentido da oração principal.
Se a oração for restritiva, ela se unirá à principal sem vírgula; e se for explicativa, haverá uma pausa na fala, pausa essa que na escrita é representada pela vírgula.
“Que paga impostos”, restringe o sentido ou é uma qualidade acessória do termo antecedente? Posso retirar essa oração sem prejudicar o sentido da principal?
Entendo que não, pois a oração subordinada “que paga impostos” restringe e delimita o universo dos brasileiros. Não é simplesmente um bom número de brasileiros que pagam impostos, mas um bom número que reclama. Então é uma subordinativa adjetiva restritiva e liga-se ao termo antecedente sem pausa, o que indica não necessitar de vírgula.
E depois da oração adjetiva, depois do nome “impostos”? Existe ou não vírgula? Quando a adjetiva restritiva for muito longa, sim (“Os jogadores que participaram de todas as partidas de futebol do campeonato brasileiro deste ano, viajaram muito”); se for curta, não (“A glória que vem da virtude tem brilho imortal” - “Grande número dos brasileiros que pagam impostos reclama da voracidade do Leão”). Aqui a restritiva não é longa.


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