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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 18 de julho de 2007 - 09:43

Palavras cognatas
No entardecer de terça-feira, dia 17, um avião da TAM com 176 pessoas bateu em prédio da empresa e pegou fogo após passar da pista do aeroporto de Congonhas sem conseguir frenar e atravessar avenida movimentada. A pista de pouso estaria escorregadia, freática. Foi o maior e mais trágico acidente de aviação da América Latina. Não houve sobreviventes.
“Frenar” ou “frear”?
Tanto faz. São palavras cognatas, isto é, descendentes da mesma origem. E “freático” (do grego phréar + atos = poço, cisterna, reservatório de água) teria alguma co-relação com “frear” ou “frenar”?
Não.
“Frear” é palavra de origem latina e derivada de fraeno, as, ávi, átum, áre 'pôr freio, refrear, reprimir, reter, domar, sopitar'; “frenar” veio do latim erudito frenare, ‘enfrear, frear. Já “freático” nasceu do grego phreatikós com o sentido de ‘acúmulo de água’.
“Ático” é um sufixo nominal de vocábulos eruditos, com a significação de ‘próprio de’ ou ‘relativo a’: traumático (trauma), teocrático (teho= deus, teocracia= governo dos deuses, isto é, a autoridade emanada dos deuses é exercida pelos seus representantes na terra), tecnocrático (técnica), socrático (Sócrates, filósofo grego), reumático (reumatismo), problemático (problema), pneumático (ar, pulmão), melodramático (melodrama), lunático (lua), idiomático (idioma), hepático (fígado), cardiopático (coração), antipático (antipatia) etc.
Em gramática (morfologia), normalmente as leis (regras) não são absolutas, até porque palavras semelhantes nem sempre têm a mesma origem etimológica. Não são da mesma família, como no caso de frear e freático.
Família de palavras (ou família léxica ou, ainda, palavras cognatas) é o conjunto de vocábulos que se forma de um radical comum, isto é, através de um único núcleo. Vejamos a palavra jornal (do italiano giornale = periódico), dela se derivam jornaleco, jornaleiro, jornalista, jornalístico, jornalão, jornalzinho etc. O núcleo, o radical (raiz ou base comum de significação) de todos esses vocábulos é jornal. A isso se chama de derivação, processo de formação de palavras, através da junção ao radical de prefixos (agregados antes) ou de sufixos (postos após), ou de ambos. Nos exemplos acima, com a ‘família’ jornal, a derivação foi sufixal, ou seja, os elementos que modificaram o sentido do radical vieram após.
A palavra jornal, se derivada do latim (diurnale = diário), tem a significação de salário pago por dia de trabalho, por jornada, e não pertence à mesma família léxica do termo anteriormente referido.
Entre a palavra derivada e a que lhe serve de base (vocábulo primitivo) há uma identidade de ordem significante, pois o sufixo pode acrescer uma idéia acessória na significação primitiva e fundamental do vocábulo (diminutivo ou aumentativo): jornalzinho – jornalão; ou um sentido de ocupação ou ofício: jornaleiro – jornalista; uma significação pejorativa: jornaleco (jornal insignificante).
Na derivação imprópria não há acréscimo de sufixos ou prefixos, mas o novo significado decorre da construção frasal, as palavras mudam de classe gramatical, mas conservam a mesma forma: vender caro (caro, originariamente adjetivo, empregado como advérbio), seqüestro relâmpago (relâmpago, substantivo exercendo a função de adjetivo).
Esperava um sim e recebeu um não. Aqui, a anteposição de um artigo transformou os advérbios sim e não em substantivos.
Aliás, basta colocar um simples artigo antes de qualquer palavra da língua portuguesa, para que ela se transforme imediatamente em substantivo: Suas palavras tinham um quê de nostalgia. O amar é próprio de todo ser humano. Quem ama o feio, belo lhe parece.

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