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Alcides Silva: Língua Portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 17 de dezembro de 2007 - 08:06

Língua Portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
‘Eu coloro’ (ó) ou ‘eu coloro (ô)’?
Nenhuma das duas formas. O verbo colorir é defectivo, não tem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nem o presente do subjuntivo. Se precisar empregar esse verbo na primeira pessoa do presente do indicativo ou no subjuntivo presente, use o verbo auxiliar estar: estou colorindo – que eu esteja colorindo.
Eu deleio ou eu deluo? (“Delir”, no conceito dicionarizado, é ‘apagar’, ‘desvanecer’, ‘esvanecer’, ‘fazer desaparecer’, ‘destruir’, ‘desfazer’, ‘dissolver’, ‘diluir’, ‘desfazer’, ‘abater’, ‘gastar’, ‘consumir’.
Demulo ou demolo? Abolo ou abulo? Unjo ou ungo? Extorco? Delinqüir – demolir – abolir – ungir e extorquir são verbos defectivos e, como observado no exemplo acima, não têm a primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nem o subjuntivo presente.
Afinal o que é defectivo? Em Linguagem, é o vocábulo a que faltam formas flexionais que existem em outras palavras da mesma espécie. Em Gramática, defectivos são os verbos de conjugação incompleta, isto é, aqueles que não podem ser conjugados em todas as formas, geralmente por motivos de eufonia. “Verbos que se desviam da conjugação normal por lhes faltarem formas pessoais, temporais ou modais”, segundo a lição de Said Ali, (“Gramática Histórica da Língua Portuguesa”, 3ª ed., Editora Universidade de Brasília, 1964, pág. 156). Em sua grande maioria, pertencem à terceira conjugação.
O termo defectivo é originário do latim deficio – defectivus, “o que tem falhas”, “o que possui defeito”. Não tem nada a ver com defecare, “lançar fora, expelir”.
Eu computo, tu computas, ele computa?
Nenhum dos três. O verbo computar é defectivo. No presente do indicativo só se conjuga no plural: nós computamos, vós computais, eles computam. Substitua por: estou computando, estás computando, está computando. No subjuntivo não há problema: que eu compute, que tu computes, que ele compute.
Ele faliu antes e eu falo agora?
Falir é verbo defectivo e só se conjuga nas formas arrizotônicas e não possui nenhuma das pessoas do presente do subjuntivo. No indicativo presente só é conjugado na primeira e na segunda pessoa do plural (falimos – falis). Falo é presente do indicativo do verbo falar.
Descomplicando: Todo verbo se compõe de duas partes: a raiz e a terminação. Raiz é a parte principal do verbo, geralmente invariável. Terminação são as últimas letras do infinitivo impessoal, geralmente o ar, o er ou o ir. Assim, raiz é o que sobra de um verbo no infinitivo impessoal sem a terminação: amar = am; dever = dev; aplaudir = aplaud; abençoar = abenç; adequar = adeq; passear = pass; anunciar = anunc.
Suprimindo o r do infinitivo impessoal, temos o radical ou tema. O radical é, pois, a própria raiz acrescida de uma vogal, à qual se dá o nome de vogal temática. Verbos da primeira conjugação, a vogal temática é um a; da segunda conjugação, um e; da terceira conjugação, um i.
Em certas formas verbais, o acento tônico cai na raiz verbal, como em amo, devo, aplaudo; em outras, é na terminação (vogal temática) que recai o acento tônico: amava, devemos, aplaudia.
Quando o acento tônico cair na raiz do verbo, chamamos de forma rizotônica (rizo = raiz); quando a acentuação for na vogal temática, denominamos de arrizotônica.
Resumindo: rizotônica, acentuação na raiz (louvo), arrizotônica, na vogal temática (louvemos).
Uma observação final: a forma verbal rizotônica nunca é proparoxítona. Verbos como clinicar, datilografar, maquinar, medicar, silabar, telegrafar, etc., devem ser conjugados: eu clinico, eu datilografo, eu maquino, eu medico, eu telegrafo etc.

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