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Geral

Alcides Silva: Língua Portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 15 de agosto de 2008 - 06:22

Língua Portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
Descuidos no falar
Estando em um velório na madrugada de segunda-feira, pus-me a tossir intermitente e espalhafatosamente, quebrando o respeitoso silêncio que o lugar e as circunstâncias impunham. Um amigo sugeriu-me que fizesse um “check-up geral”, pois notoriamente minha bronquite mostrava-se bastante agravada. No conceito dicionarizado, “check-up” significa exame médico minucioso. Se o exame é pormenorizado, é, por sem dúvida, geral. Desnecessário e vicioso o pleonasmo, como também o é em “fazer uma breve alocução” (‘alocução’ é um ‘discurso curto, lacônico’ - Houaiss) ou em “monopólio exclusivo” (não há monopólio onde não exista a exclusividade) ou, ainda, em “o principal protagonista” (porque protagonista significa o personagem principal).
Outro dia li que “as aulas iniciaram no dia 4”. As aulas iniciariam o quê? Quem inicia, inicia alguma coisa. A frase correta seria “as aulas iniciaram-se no dia 4”. Esse se, chamado de partícula apassivadora, é empregado sempre que o sujeito é inanimado, isto é, incapaz de praticar a ação verbal. “Alugam-se casas” – “Consertam-se sapatos” (= casas são alugadas; sapatos são consertados). “Aluga-se casas” é errado e eqüivale a “Casas é alugada”.
De um comentarista esportivo ouvi que “A saúde afastou-o do jogo”, referindo-se a um jogador que não pudera disputar determinada partida de futebol. Aí ficou-me a dúvida: o excesso de saúde, a falta de saúde ou um órgão sanitário, quem afastou aquele jogador? Não seria melhor ter dito: “A doença afastou-o do jogo”? Isso é uma figura de palavra e consiste no uso de um termo diferente da-quele em que ele é convencionalmente empregado em razão da semelhança entre elementos que ambos designam (essa semelhança é resultado da imaginação, da subjetividade de quem emprega a palavra).
Os céus estavam se escurecendo e alguém me disse: “É capaz de chover”. Quem é capaz?, indaguei. Responderam-me, então: “É possível que chova”. Entendi.
“A situação está difícil. É preciso encará-la de frente”. Quero ver encará-la de costas ou de lado!
Atendo o telefone do outro lado da linha alguém me pergunta: “Da onde?”. Fico irritado por dois motivos: falta de educação ou pelo menos de urbanidade, e agressão à gramática. “Da onde” não existe em língua portuguesa. Em expressando uma idéia de procedência, a pergunta deveria ser “De onde”: “De onde está falando? de onde você veio?”.
“Lugar incerto e não sabido”. Embora comum no jargão forense, há desnecessária redundância que nada acrescenta, pois todo lugar incerto, por óbvio, não é sabido!
“Fulano faz parte integrante da diretoria do clube”. Quem faz parte de uma diretoria, dela integra, da mesma forma quem a integra, dela faz parte.
“O clima era festivo; todos exultaram de alegria”. O verbo exultar significa sentir ou manifestar grande júbilo. Daí, impossível alguém exultar de tristeza.
Erário público também é pleonasmo. Erário, do latim aerariu (palavra que designava o Tesouro Público de Roma), em português é sinônimo de “fazenda pública”, de “Fisco”.
Elo de ligação. Se é elo (do latim anellu = anel), é uma argola que compõe uma corrente, portanto só podendo ser de ligação. Absurdo seria um elo de separação.
No cardápio eram me oferecidos ovos estalados. Não os comi, porque ovos que dão estalos devem estar podres ou gorados. Prefiro ovos estrelados.

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