Sexcentésima

Desde o natal de 1998 venho produzindo semanalmente artiguetes sobre Língua Portuguesa, principalmente a que se fala no Brasil, sem objetivo outro que não o de relatar o que penso a respeito de fatos da língua. A série iniciou-se, quando narrei sobre a consulta que o ícone Chico Melfi, figura símbolo do jornalismo regional, me fizera a respeito da forma verbal que indicava a descarga elétrica que precede ao trovão. Naquele momento, lá fora chovia intensamente e os céus eram riscados por coriscos que nos metiam medo. Aí Melfi, que estava iniciando as atividades de seu provedor ‘Melfinet’, de grande valia para a região, me fez a pergunta: “está relampejando ou relampeando”? Daí nasceu esta coluna que jamais pretendeu ensinar o vernáculo, vez que desprovida de ordem lógica, procura refletir sobre dúvidas que surgem ou podem surgir em todos nós, operadores da linguagem.
Publicadas pelos jornais da região (‘O Jornal de Santa Fé do Sul’, ‘Jornal de Jales’, ‘O Cidadão”, de Fernandópolis’, ‘A Cidade de Votuporanga’, e ‘Jornal Novo Tempo’, de Chapadão do Sul), nas páginas eletrônicas do ‘Cassilândia.news’ e do ‘Jovensulnews’) e vertidas para o italiano (Ponto.altervista.org./Línguas/quaderno/quad_pt.html), chego, com este artigo, à sexcentésima coluna, isto é, a última de uma série de seiscentos: a 600ª.
Esse termo que quantifica esta coluna, apesar do nome complicado e desusado, é um numeral ordinal. O numeral é uma classe especial de palavras que usamos para indicar uma quantidade exata de pessoas ou coisas, ou para especificar o lugar que elas ocupam numa série ou sequência.
Chama-se numeral a palavra que acrescenta ao substantivo uma idéia de ¬¬quantidade (um, dois, três, mil) ou de ordem (primeiro, segundo, terceiro, milésimo). O que indica quantidade é denominado de numeral cardinal; o que designa uma ordem ou série é o numeral ordinal. Além desses, há duas outras espécies de numerais: os multiplicativos, que indicam o número de vezes em que o objeto é considerado (duplo, dúplice, binário; triplo, tríplice, ternário; quádruplo, quartenário; quíntuplo; sêxtuplo; sétuplo; óctuplo; nônuplo; décuplo, undécuplo, duodécuplo, cêntuplo) e os fracionários, que indicam partes ou divisões da unidade (meio, terço, quarto, quinto, sexto, décimo, onze avos, doze avos, noventa avos, centésimo).
Os numerais ordinais, como é o 600º, seguem literalmente a etimologia latina. O de 100 é o centésimo (centesimu). O de 200 é o duocentésimo (ducentesimu). O de 300 é o tricentésimo. O de 500 é o quingentésimo. O de 600 é o sexcentésimo. O de 700 é o septingentésimo. O de 800 é o octingentésimo. E, dando por fim a série que nos interessa por ora, o nongentésimo que é o ordinal de 900.
Uma observação a propósito do termo “um”: além de numeral cardinal, o termo pode ser artigo indefinido ou adjetivo qualificativo. “Um”, quando cardinal, tem o plural em ‘dois’ ou mais e pode ser distinguido com o acréscimo de só, único: Um (só) livro ele leu em sua vida. Quando artigo indefinido, o termo um pode ser substituído por certo, determinado: Li um (determinado, certo) livro maravilhoso. E quando qualificativo, significa igual, mesmo, indivisível, uno: Deus é um; aliás, na fala atual, Deus é dez! Deus é cem!