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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 10 de junho de 2009 - 10:28

Galera

Virou moda, difundida pela linguagem televisual, aceito sem qualquer embargo pela juventude w pelos que se dizem ‘da hora’, o emprego do substantivo ‘galera’ com o significado popular de turma, grupo de pessoas, torcida, platéia etc. No “Faustão” e programas de auditórios, essa palavra é pronunciada mil vezes por hora. Até a música popular, dita country, abusa do termo.
“Alô, galera de caubói / alô, galera de pião
Quem gosta de rodeio bate forte com a mão!”
‘Galera’ (do catalão galera, através do grego bizantino galéa), na língua padrão, designa um navio antigo, de guerra, como na música carnavalesca “Pirata da Perna de Pau”.
Nos parlamentos, nos teatros e casas de espetáculo, o conjunto de assentos localizados em um piso mais elevado, chama-se galeria. Por derivação metonímica, o público se instala naquelas cadeiras também é denominado de galeria. Daí, por metaplasmo, o substantivo galera.
Galera não é gíria, é linguagem popular.
Gíria é a linguagem informal, metafórica e jocosa, mas efêmera, de um determinado grupo social coeso; a linguagem popular é o modo de expressão de uso geral, escrito e/ou falado de uma comunidade humana.
Gladstone Chaves de Melo (“A Língua do Brasil”, 3ª ed., FGV, Rio, 1975, p. 209) diz que “o que caracteriza linguisticamente as gírias, é, de um lado, a preocupação esotérica, o cuidado que têm os componentes do grupo de criar a sua linguagem diferente, ininteligível a estranhos e claríssima a si próprios. A linguagem deles é uma barreira, uma defesa”.
A linguagem popular é única na comunidade humana, é a língua coloquial, aprendida de ouvido, própria para atender as necessidades diárias da comunicação oral. Seus vocábulos geralmente têm sentido concreto, “constituindo moeda corrente de circulação franca na transação das idéias”, como afirma Othon M. Garcia em “Comunicação em Prosa Moderna, 2ª ed., FGV, Rio, 1969, p. 163).
“Cuca”, na linguagem popular, é sinônimo de inteligência. “Cuca cheia” é gíria de ‘bêbado’; cuca fresca, de pessoa tranquila; cuca fundida, de pessoa preocupada; cuca quente, de pessoa explosiva.
A gíria varia conforme o grupo que a utiliza. Há gíria entre os desportistas, os estudantes, os soldados, os malandros, a súcia, a corja, a caterva, a polícia, dos ‘funkistas’ etc.
A gíria, porém, não é calão, o palavrão chulo, a expressão obscena. Também não é jargão, que é linguagem técnica de uma determinada profissão ou atividade. Para os médicos, a dor de cabeça é cefaléia; a falta de açúcar no sangue é hipoglicerina; o fastio, anorexia; a fraqueza, astenia.
A linguagem popular é duradoura, tendendo transformar-se em linguagem literária; a gíria, normalmente, transitória, de vida curta, muitas vezes sem registro.

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