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Geral

Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 09 de maio de 2008 - 15:48

Redundâncias e Perífrases

Quem lê Fernando Pessoa guarda dele estes versos: “Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal! / Por te cruzarmos, quantas mães choraram, / Quantos filhos em vão rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar / Para que fosses nosso, ó mar!”
Quem já ouviu Ary Barroso tem na memória a frase melódica “Onde o céu azul é mais azul...”.
O pernambucano Ascenso Ferreira, poeta que cultivou a oralidade do nordestino castigado pelas secas, produziu um poemeto lancinante: “Chiquinha, minha filha / Entra prá dentro / Do jeito que tu está / Tu acaba prostituta. / E ela: - Deus te ouça, minha mãe! / Deus te ouça!”.
O leitor já deve ter visto expressões como estas: feito por suas próprias mãos – assinatura de seu próprio punho - a mim me parece - vi com meus próprios olhos, dentre outras.
Nesses exemplos, palavras diferentes enunciam a mesma idéia. A isso se dá o nome geral de redundância.
É comum vermos em jornais e ouvirmos no rádio e na televisão frases como faça você mesmo a sua escolha opcional – o assunto foi tratado com detalhes minuciosos – foi um passatempo passageiro – convidado a comparecer pessoalmente - venha compartilhar conosco – custo demasiadamente excessivo - planejar antecipadamente as despesas do mês – convivemos juntos por três anos – a seu critério pessoal – freqüentava constantemente o mesmo lugar – comparecer à abertura inaugural, fez uma breve alocução, etc. A ‘escolha’ é sempre uma ‘opção’; ‘detalhes’ são as ‘minúcias’ de determinada coisa; ‘passatempo’ é um divertimento rápido; só ‘comparece’ quem está presente; ‘compartilhar’ é fazer parte de uma partilha, de uma divisão; o ‘demasiado’ já é ‘excessivo’; não se ‘planeja’ a não ser antes; ‘conviver’ é viver em comum; ‘critério’ é aquilo que nos serve de base para comparação; ‘freqüentar’ é ir com freqüência; ‘inaugurar’ é expor pela primeira vez ao uso do público; ‘alocução’ é um breve discurso.
O uso de palavras diferentes para expressar uma mesma idéia pode ser uma figura de sintaxe ou um vício de linguagem.
Quando trouxer energia, realce ou vigor ao pensamento é um pleonasmo, uma perífrase: figura de sintaxe; se for mera insistência no mesmo conceito, uma prolixidade, é uma tautologia, um circunlóquio: vício de linguagem.
As palavras pleonasmo, perífrase, tautologia são de origem grega; circunlóquio, nasceu do latim e todas significam superabundância. O que lhes fazem a diferença é sempre a utilidade ou não da repetição. Quando a reiteração da idéia representar um reforço, um especificativo que dê graça ou força à expressão, será uma figura de sintaxe, um pleonasmo; quando não configurar nenhuma energia ou ênfase, será um vício de linguagem, uma tautologia
Tauto é um elemento de composição de palavras e significa mesmo: tautofonia (repetição excessiva do mesmo som), tautograma (composição poética em que todas as palavras começam com a mesmo letra, como o “Pedro Pedreiro”, de Chico Buarque), tautossilabismo (repetição de sílabas idênticas: Didi, Dodô, Dudu, Lulu, Mimi, Tatá, Zazá Zezé).
Logos, significa discurso. Daí, tautologia, é dizer por formas diversas, a mesma coisa.

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