Geral
Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!
Redundâncias e Perífrases
Quem lê Fernando Pessoa guarda dele estes versos: Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal! / Por te cruzarmos, quantas mães choraram, / Quantos filhos em vão rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar / Para que fosses nosso, ó mar!
Quem já ouviu Ary Barroso tem na memória a frase melódica Onde o céu azul é mais azul....
O pernambucano Ascenso Ferreira, poeta que cultivou a oralidade do nordestino castigado pelas secas, produziu um poemeto lancinante: Chiquinha, minha filha / Entra prá dentro / Do jeito que tu está / Tu acaba prostituta. / E ela: - Deus te ouça, minha mãe! / Deus te ouça!.
O leitor já deve ter visto expressões como estas: feito por suas próprias mãos assinatura de seu próprio punho - a mim me parece - vi com meus próprios olhos, dentre outras.
Nesses exemplos, palavras diferentes enunciam a mesma idéia. A isso se dá o nome geral de redundância.
É comum vermos em jornais e ouvirmos no rádio e na televisão frases como faça você mesmo a sua escolha opcional o assunto foi tratado com detalhes minuciosos foi um passatempo passageiro convidado a comparecer pessoalmente - venha compartilhar conosco custo demasiadamente excessivo - planejar antecipadamente as despesas do mês convivemos juntos por três anos a seu critério pessoal freqüentava constantemente o mesmo lugar comparecer à abertura inaugural, fez uma breve alocução, etc. A escolha é sempre uma opção; detalhes são as minúcias de determinada coisa; passatempo é um divertimento rápido; só comparece quem está presente; compartilhar é fazer parte de uma partilha, de uma divisão; o demasiado já é excessivo; não se planeja a não ser antes; conviver é viver em comum; critério é aquilo que nos serve de base para comparação; freqüentar é ir com freqüência; inaugurar é expor pela primeira vez ao uso do público; alocução é um breve discurso.
O uso de palavras diferentes para expressar uma mesma idéia pode ser uma figura de sintaxe ou um vício de linguagem.
Quando trouxer energia, realce ou vigor ao pensamento é um pleonasmo, uma perífrase: figura de sintaxe; se for mera insistência no mesmo conceito, uma prolixidade, é uma tautologia, um circunlóquio: vício de linguagem.
As palavras pleonasmo, perífrase, tautologia são de origem grega; circunlóquio, nasceu do latim e todas significam superabundância. O que lhes fazem a diferença é sempre a utilidade ou não da repetição. Quando a reiteração da idéia representar um reforço, um especificativo que dê graça ou força à expressão, será uma figura de sintaxe, um pleonasmo; quando não configurar nenhuma energia ou ênfase, será um vício de linguagem, uma tautologia
Tauto é um elemento de composição de palavras e significa mesmo: tautofonia (repetição excessiva do mesmo som), tautograma (composição poética em que todas as palavras começam com a mesmo letra, como o Pedro Pedreiro, de Chico Buarque), tautossilabismo (repetição de sílabas idênticas: Didi, Dodô, Dudu, Lulu, Mimi, Tatá, Zazá Zezé).
Logos, significa discurso. Daí, tautologia, é dizer por formas diversas, a mesma coisa.