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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 09 de janeiro de 2009 - 07:03

O ‘novo’ hífen

A quase unanimidade dos jornais do último domingo, o primeiro deste pré-anunciado 2009 de crises financeiras, noticiou que “um apostador de São João Del Rei, Minas Gerais, acertou sozinho as seis dezenas da Mega Sena 1036 e levou o prêmio de R$ 44.550.370,22”.
Invejo-o na sorte, se bem que não costumo apostar em qualquer jogo de azar. O que me preocupa é que tenho lido com muita constância, a palavra megassena ora escrita separados os dois elementos que a compõem – mega e sena -, ora unidos por hífen. Não está correto.
Desde há muito tempo, em palavras compostas pelos prefixos mega, mini, micro, macro ou maxi jamais se usa hífen: megalegoria, megainsvestidor, megassena, megassismo (terremoto de grande intensidade), minissaia, maxicasaco, microcéfalo (cabeça pequena), maxidesvalorização, microcomputador, microempresa, microprocessador, microssaia, minibiblioteca, minimercado, maxissaia (aquela que chega ao tornozelo), macroeconomia, macrorregião, macrossomia (dimensão exagerada do corpo), microrregião, minissaia, minivestido, minicomício, miniovo, minirreforma, dentre outras.
Parece que as novas regras ortográficas que entraram em vigor nas oito nações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, na quinta-feira da semana passada, dia 1º, com referência à hifenização, ao invés de simplificar o entendimento, como se esperava, mais o complicaram com as grandes polêmicas que deram causa.
Um exemplo só para ilustrar: uma das anotações diz que já não tem hífem, ‘certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição’. Como o texto não ofereceu um conceito objetivo de noção de composição, criou-se um generalizado subjetivismo, O adjetivo ‘matogrossense’, por exemplo, perdeu a tal noção? Quando digo essa palavra lembro isoladamente de ‘mato’ e ‘grosso’, ou aglutinadamente de ‘algo originário do Estado de Mato Grosso’? Parece óbvia a segunda opção. É o caso também de ‘santafessulense’.
Pela nova ortografia, já não existe hífen quando o segundo elemento começar com “s” ou “r”. Tais consoantes serão duplicadas: antissemita, megassena, contrarregra, microrregião. Também o perdem palavras cujo prefixo terminar em vogal e o segundo elemento começar com uma vogal diferente: autoescola, aereoespacia, extraescola, agroindústria, hidroelétrica.
O hífen, sinal gráfico representado por um pequeno traço (-), continua sendo usado sem qualquer problema para unir pronomes átonos a verbos: deram-me, amei-a, far-lhe-ei; e para o fim da linha, separar as palavras em duas partes: candida-to, candi-dato, can-didato. O seu emprego é meramente uma convenção; não tem justificativa linguística.
O assunto não se extingue aqui. Há várias ‘regrinhas’ que precisam ser esmiuçadas, mas, para tal, por cautela, aguardaremos a publicação do “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”, da Academia Brasileira de Letras, prevista para fevereiro/março deste ano. Que venha, pois, tal calhamaço, o qual deverá, assim o esperamos, trazer a palavra final.

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