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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 06 de novembro de 2009 - 05:03

Uns dos que...

Escrevi que “a concordância é um dos pontos que causa mais dúvida no falar e no escrever”. Um atento leitor entendeu que naquele período a concordância correta do verbo causar seria no plural e não como anotei.
Aquela objeção procede em parte, posto que bons gramáticos entendem dessa mesma maneira: quando o relativo que vier antecedido das expressões um dos ou uma das (+ substantivo), o verbo de que ele é sujeito vai para a terceira pessoa do plural. Todavia, esses mesmos gramáticos (e dos modernos, (lembro-me de Celso Cunha: Gramática do Português Contemporâneo – 2ª edição, p. 342) ressaltam que “o verbo no singular destaca o sujeito do grupo em relação ao qual vem mencionado, ao contrário do que ocorre se construirmos com o verbo no plural”:
Foi um dos poucos do seu tempo que reconheceu a originalidade e a importância da literatura brasileira (João Ribeiro).
Rocha Lima (Gramática Normativa da Língua Portuguesa, 6ª ed. pp. 395 e 396), explica que “há dupla sintaxe: com o verbo no singular, construção talvez mais lógica; ou, atendendo-se de preferência à eufonia, com o verbo no plural.
Esta cidade foi uma das que mais se corrompeu da heresia (Frei Luís de Sousa).
Uma das coisas que muito agradou sempre a Deus em seus servos foi a peregrinação...” (Antônio Vieira)
O reitor foi um dos que mais se importou com a preocupação do homem (Júlio Dinis).
Patrocínio foi um dos brasileiros que mais trabalharam em prol da Abolição. (Laudelino Freire).
Quando porém a expressão um dos que vier entremeada de substantivos, o verbo fica no singular: O Sol é um dos astros que dá luz à Terra (exemplo colhido em Não erre mais, Luiz Antonio Sacconi, 24ª ed., p. 275).
Napoleão Mendes de Almeida informa que em orações idênticas à da dúvida (a dele era É um dos melhores contos que se TEM (ou TÊM) escrito na língua portuguesa - a determinação do número do verbo (se fica no singular ou vai para o plural) ‘dependerá do sentido ou da interpre tação do autor’. E aquele mestre fornece dois exemplos: O Vouga é um dos rios de Portugal que entram no mar – e - O Vouga é um dos rios de Portugal que corre para o oeste.E explica: “Numa oração, temos o verbo no plural – entram – e noutra, no singular – corre – e ambas estão igualmente certas. Na primeira, o antecedente de que
Numa antiga coluna “Língua Portuguesa”, publicada em 11 de novembro de 1999, e reproduzida posteriormente, escrevi: O emprego do pronome relativo que é um dos estudos gramaticais que mais fascinam.
Se omitirmos o pronome relativo da frase, a regra é básica: o adjetivo concorda com o substantivo em gênero e número: estudos fascinantes.
“Relembrando o já aqui dito algumas vezes, o que é pronome relativo porque refere-se a um termo anterior, relacionando-o com o termo conseqüente. O termo anterior nesse caso é quem determina o número para efeito de concordância verbal. Nem sempre porém o termo anterior é o imediatamente antecedente.
Naquele período qual o termo antecedente: ‘um’ ou ‘estudos’? Tal determinação depende do sentido da frase. O que mais fascina são os “estudos” ou o “emprego” do pronome. Vamos desdobrar a frase: Dos estudos que mais fascinam, o emprego do pronome relativo é um deles. O termo antecedente é “estudos”, porque são eles que fascinam. Termo antecedente no plural, verbo conseqüente no plural.
Outro exemplo “Ele é um dos jogadores que mais gols têm marcado neste campeonato”.Quem tem marcado gols: “ele” ou “os jogadores”? Os jogadores. É claro. Portanto o verbo ter deverá ir para o plural.
Voltemos, porém ao o que interessa:
Quem causava mais dúvidas?:a concordância verbal (termo antecedente no singular, verbo no singular). Desdobremos, porém, a frase: Dos pontos que causam mais dúvidas no falar e escrever diários, a concordância verbal é um deles.
Tanto está certo quem converte o período e busca a eufonia, como eu não estou errado quando procuro a construção lógica.

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