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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 05 de julho de 2012 - 16:17

Do indez às maçãs

Por qual razão chama-se de indez, ou endez, o ovo que se deixa no ninho para que a galinha volte àquele lugar em uma nova postura?
A etimologia talvez nos explique: o substantivo latino index, em português tem a significação própria de o indicador, o que indica, o indício, o sinal. ‘Index digigtur’, (=o dedo indicador). Já o termo indicium, que tem o mesmo étimo, pode ser vernaculizado com o sentido de indicação, revelação, marca, sinal ou prova. Daí indicii ovum, o \\\'ovo indicador\\\' - o indez -, a mostrar que naquele local haverá novos ovos.
Ovo é uma palavra de muitos significados. Dentre eles, tem o conceito de origem, causa primeira, começo, início, princípio. ‘Ab ovo usque ad mala’ é uma famosa expressão proverbial que em tradução literal significa “desde o ovo até as maçãs”, isto é, ‘do começo ao final do jantar’. Literariamente, todavia, apenas ‘do começo ao fim’.
No jargão juridiquês é muito comum a expressão ‘ab ovo’ (=desde o princípio). No direito existem formalidades que, se não cumpridas, tornam nulo o ato ou até mesmo todo o processo. Como exemplo, num elenco de mais de cem situações, a citação do réu para acompanhar o processo. Não completada, anula o procedimento. Essa nulidade – e outras semelhantes – são conhecidas pelas expressões latinas ex radice (=desde a raiz), ab initio (=de início), in limine (=no início), ou ab ovo, significando que o defeito é absoluto, radical, e atinge todo o processo desde seu nascimento, isto é, desde o ovo.
A mala que acompanha o ovo no provérbio ‘ab ovo usque ad mala’, acima citado, no latim clássico era o nome comum de todos os frutos dotados de caroços.
Na Eneida, poema da lendária Roma dos tempos primitivos, Virgílio (70-19 a.C), uma das maiores expressões da literatura latina, usou o termo mala para designar as faces, as maçãs do rosto humano: ‘Teu novo gosto, em cujas faces punge’ (Livro X, 324). Ainda hoje designamos os ossos que dão feição ao rosto de malares (ossos da maçã do rosto, da face).
A evolução da língua trouxe uma denominação mais genérica ainda, pomum, que designava especificamente frutos carnosos como a maçã, a pêra e o marmelo. Daí, pomme, em francês, e pomo, em português.
Ainda nos tempos de Virgílio, o botânico Caius Matius Calvena, através de enxertia, conseguiu a produção de maçãs mais precoces e resistentes. Essas frutas foram denominadas de mala matiana (=fruta do Mácio) em homenagem a seu criador. Do nome próprio do botânico ‘Mácio’ nasceu o substantivo comum “maçã”.
Uma plantação de macieiras, pereiras ou marmeleiros, frutas que produziam o pomum (=pomo), originariamente era conhecida como pamarium (= pomar).
Conta a lenda que Adão, ao experimentar no Paraíso o ‘fruto da árvore da ciência’, engasgara-se, ficando parado no meio de sua garganta, como prova contundente de sua culpa, um pedaço da maçã proibida. E bem ali, na parte frontal de seu pescoço, formara-se a saliência de seu pecado, a que se deu o nome de pomo-de-adão. Por castigo divino, todo ser humano do sexo masculino haveria de carregar consigo a marca da desobediência e da cupidez.
E ainda: é da mitologia grega a história de que, nas comemorações celestiais de um matrimônio, a deusa Éris, preterida na cerimônia, personificara-se numa maçã, a mais bela, e causara inveja e violenta disputa entre as demais deidades então presentes, resultando disso uma grande desavença, vez que todas pleiteavam a posse divina daquela maçã. Desse desentendimento mulheril teria nascido a Guerra de Tróia. Daí para frente, aquilo que causa acirrado litígio é denominado de pomo da discórdia.

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