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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 04 de março de 2011 - 07:14

Carnaval
No Brasil, como festa de rua, o carnaval é a maior e a mais nítida manifestação de nossa cultura popular. Suplanta até mesmo o futebol. Tanto que durante os festejos momesco não se realizam competições oficiais daquele esporte.
O termo carnaval aportou no falar português em 1542, vindo da França. Mas sua origem remota está no latim medieval carnem levare = ‘abstenção de carne’, nome que se dava à véspera da quarta-feira de Cinzas, dia a partir do qual se iniciava a abstinência, então obrigatória durante toda a Quaresma.
Estudiosos há que dão a palavra como nascida da expressão latina carne, vale, isto é, ‘adeus à carne’. Outros, ainda, tomam o étimo carrus navalis, foneticamente aceitável, porém sem fundamento histórico, pois carrus navalis eram as alegorias náuticas que nada tinham a ver com as primitivas ‘festas da fecundidade’.
Todos os povos antigos, desde as orgiásticas do império assírio (2.700 anos a. C), realizavam rituais festivos celebrando, após o inverno, com o renascer da Natureza, a perpetuação da vida animal. Nesses festejos sempre sobressaiam o excesso de bebida, a euforia, o desregramento e, por conseqüência, a libertinagem.
O nome carnevale, porém, surgiu na Itália, no século XII, para designar o último dia dos festejos que se faziam em exaltação à fecundidade (reminiscência das comemorações dionisíacas da Grécia antiga e dos bacanais romanos, celebrados da entrada do ano até o começo da primavera, em março). Era a Terça-Feira Gorda, o dia em que se dava adeus à carne, através da dança e dos trejeitos e iniciava-se rigoroso jejum preparatório da Semana Santa.
O etimólogo Antenor Nascentes diz ser duvidosa a origem do vocábulo, ‘primitivamente designativo da terça-feira gorda, tempo a partir do qual a Igreja suprime (lat. levare) o uso da carne’.
O “Aurélio Séc. XXI” conta que no mundo medieval cristão, o carnaval consistia em festejos populares e ‘manifestações sincréticas oriundas de ritos e costumes pagãos, como as festas dionisíacas, as saturnais, as lupercais, e se caracterizava pela alegria desabrida, pela eliminação da repressão e da censura, pela liberdade de atitudes críticas e eróticas’.
Já foi chamado de entrudo (do latim introitu = entrada, começo, princípio) por serem os três dias que antecediam a Quaresma. Fernão Rodrigues Lobo, por alcunha Soropita, escritor quinhentista, dizia ser o entrudo a “honrada festa, onde a gula com a ira e a luxúria, têm particular assistência”. Há um outro Rodrigues Lobo na literatura portuguesa e, a propósito, de maior expressão literária, que, ao que eu saiba, não se preocupou com o carnaval..
O “Huaiss” comenta que naqueles três dias de entrudo ‘os brincantes trocavam pelas ruas arremessos de baldes de água, limões-de-cheiro, ovos, tangerinas, pastelões, luvas cheias de areia, esbordoavam-se com vassouras e colheres de pau, sujavam-se com farinha, gesso, tinta etc.’
Atualmente, já não é o entrudo e sequer o tríduo, mas é carnaval (“quantos risos, oh quanta alegria”), agora comemorado em cinco (quase seis!) dias consecutivos, e não se realiza somente como prévia quaresmal do ‘adeus à carne’. As micaretas (de micareme, do francês mi-carême, o sábado de Aleluia), carnaval temporão, acontecem nas mais diversas épocas do ano.

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