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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 03 de abril de 2009 - 07:38

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva

Pais-nossos e ave-marias
É costume pessoas que recebem alguma ‘graça’ espiritual, mandarem publicar nos jornais as orações com as quais obtiveram o atendimento do pedido.
Tenho visto em ‘orações’ recentemente publicadas que, para obter a intercessão pretendida, deve o interessado, depois de ler o texto divulgado, rezar “1 pai-nosso e 3 aves-maria”. Melhor seria mandar rezar “um pai-nosso e três ave-marias!”. Por quê?
Primeiro, os numerais cardinais (os números básicos; um, dois, três, nove, etc.) na escrita, de um a dez devem ser grafados por extenso; a partir de 11, inclusive, em algarismos; Assim, um pai-nosso, dois credos, três salve-rainhas, 15 ave-marias. Num ‘terço’ são rezados cinco pais-nossos e 50 ave-marias; já num rosário, são 15 os pais-nossos e 150 as ave-marias.
Segundo, sendo ‘ave-maria’ uma palavra composta, seu plural é ‘ave-marias’, porque o primeiro termo (ave), é uma interjeição latina (= salve!) e não varia; o segundo elemento (maria) é um substantivo e, por isso, varia normalmente.
Já o termo ‘pai-nosso’ é formado por um substantivo e um pronome pessoal, ambas palavras variáveis, indo as duas para o plural : pais-nossos.
Vamos rememorar os três princípios básicos aprendidos, ainda, na escola primária:
1º- quando os elementos componentes de um vocábulo composto se ligarem por hífen e o primeiro deles for uma palavra invariável ou um verbo, só o segundo vai para o plural: ave-marias, bate-bolas, bate-papos, guarda-chuvas, meio-fios, passa-moleques, porta-bandeiras, sempre-vivas;
2º- quando os termos se ligam por preposição, só o primeiro passa para o plural: abelhas-do-campo, chapéus-de-sol; fins-de-semana, joões-de-barro, mulas-sem-cabeça, pãos-de-ló, pés-de-cabra, pimentas-do-reino;
3º- quando a palavra composta é constituída por dois substantivos, ou um substantivo e um adjetivo ou, ainda, um substantivo e um pronome pessoal, geralmente ambos os termos vão para o plural: abelhas-mestras, amores-perfeitos, cabeças-brancas couves-flores, curtas-metragens, decretos-leis, farinhas-secas, garças-brancas, gatos-pretos. ipês-roxos, manjares-brancos, melões-caboclos, obras-primas, pontas-direitas, viúvas alegres, etc.
‘Vivam os noivos!’
Na saudação, comum nos casamentos sem sofisticação, o sujeito é os noivos e em razão disso o verbo deve ir para o plural: “Vivam os noivos”.
Há uma confusão de viva (que na frase acima é verbo) com salve (interjeição). Viva é interjeição quando desacompanhada de artigo: Viva, Ronaldo, a alegria dos corintianos ! Viva, brasileiros, povo da esperança !.
Nos exemplos acima, após viva aparecem entre vírgulas Ronaldo e brasileiros, que nas frases são vocativos (são pronunciados de modo exclamativo) e os vocativos não admitem artigo: Ave, Maria, cheia de graça... - Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! - Salve lindo pendão da esperança, salve símbolo augusto da paz! E não Ave a Maria - Salve a Rainha - Salve, o lindo pendão, salve, o símbolo augusto da paz.
Que suador!
Outra expressão comum é a “que suador!”, a significar dificuldades. ‘Fulano para pagar-me a dívida deu-me um tremendo suador”. Quem ‘sua’ é suador; o resultado de suar é suadouro. O sufixo dor indica o agente da ação e o douro, o local onde se dá ação, algo pertencente ou relativo à ação e, ainda, instrumento ou resultado da ação. Assim, abatedouro (lugar onde se abate, o matadouro), ancoradouro (lugar onde as embarcações se ancoram), bebedouro (lugar onde se bebe), comedouro (local onde os animais normalmente comem), nascedouro (lugar onde nasce alguma coisa), suadouro (ato ou efeito de suar, lugar muito quente que produz o suor).

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