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Alcides Silva - Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 02 de fevereiro de 2007 - 07:27

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
O dicionário não é a língua

Muitos me contestam porque continuo escrevendo santafessulense, quando o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa determina que se escreva santa-fé-sulense. Mas esse mesmo Vocabulário oficial traz a grafia lapizinho para o diminutivo de lápis. Ora, é sabido, desde o aprendizado das primeiras letras, que as palavras terminadas em s ou z têm diminutivo formado com o acréscimo do sufixo inho: adeus – adeusinho; português, -portuguesinho; cartaz – cartazinho; rapaz – rapazinho. Mas porque lápis, terminado com “s” leva o sufixo zinho? E porque o Estado da Baía tem a grafia oficial Bahia? E o agá da cidade paulista de Jahu? É a ditadura ou comodidade dos dicionários.
Para muita gente, a quase totalidade dos brasileiros, uma palavra só existe se estiver registrada em um dicionário, de preferência no “Aurélio”. Dicionário, porém, não é a língua e nem o modo de se falar. É conjunto de vocábulos de uma língua e não a sua totalidade.
O “Aurélio Século XXI” traz, sem qualquer justificativa ou razão, o adjetivo ‘trifronteirano’ para designar aquele ou aquilo que é, pertença ou se origine de Três Fronteiras. Talvez influência do tricordiano, o natural de Três Corações.
Os dicionários, porém, não criam palavras; registram-nas com base no uso que se faz ou fizeram delas, inclusive no sentido depreciativo: baiano (fanfarrão, pachola, dado a contar vantagens, mulato), ceará (charque, pedaço de carne ruim), espanhol (teimoso), galego (forasteiro atrevido), polaca (prostituta, mulher da vida), turco (mascate, ridico, unha-de-fome, pão-duro) são expressões comuns entre o povo e encontradiças em quase todos os léxicos brasileiros. Todavia, nenhuma foi gerada pelo dicionarista, mas pelo falar contínuo do povo.
Voltemos, porém, ao trifronteirano. Aí não se ateve o lexicógrafo ao falar do povo, da língua certa do povo, como um dia poetou Manoel Bandeira.
Formam-se os adjetivos ditos pátrios (ou locativos) acrescentando-se ao substantivo um sufixo que tenha o sentido de origem ou procedência: ano (cuiabano, tricordiano), ão (alemão, coimbrão), eiro (brasileiro, mineiro), enho (portenho, estremenho> Estremadura, Portugal), eno (chileno, terreno), ense (jalesense, fernandopolense, votuporanguense, cassilandense, chapadense), ês (norueguês, português), eu (europeu, judeu), ino (argentino, triangulino> Triângulo Mineiro) e ita (israelita, semita).
Quem cria as palavras não é a gramática e nem o dicionário: é o povo. A gramática expõe as regras ou normas da língua-padrão; os dicionários consignam os vocábulos da língua, porém nem todos. Língua é o meio de expressão de indivíduos que vivem em sociedade.
O Aurélio Século XXI informa que quem nasce em Artur Nogueira é nogueirense; em Barreira (CE) ou em Barreiras (BA), barreirense; em Limeira, limeirense; em Palmeira d’Oeste, palmeirense; em Pitangueiras, pitangueirense; em Ribeira, ribeirense; em Roseira, roseirense. Todos esses substantivos são terminados com o sufixo eira e formam o locativo com o acréscimo do sufixo ense.
Quem nasce em Três Fronteiras, diz o povo de lá, é trifronteirense e não trifronteirano. Portanto, trifronteirense é o que vale. A opção do dicionário não deve ter sido precedida da necessária pesquisa. Para o provindo da cidade mineira de Jeceaba, o Aurélio anotou o adjetivo jeceabense e deu-lhe como sinônimo jeceabano. Não usou da mesma generosidade para com Três Fronteiras.
O sufixo ense aparece em mais de 95% dos adjetivos pátrios, assim é uraniense, o originário de Urânia; santanense, o de Santana da Ponte Pensa; saletense, o de Santa Salete; rubineiense, o de Rubinéia; santaclarense, o de Santa Clara d’Oeste; santarritense, o de Santa Rita d’Oeste; canaense, o de Nova Canaã Paulista e santafessulense, o de Santa Fé do Sul. A forma da grafia santafessulense sem hífens já a expliquei aqui mesmo nesta coluna. No meu entender, aplica-se também aos adjetivos sul matogrossense e matogrossense do sul.

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