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Alcides Silva: Língua Portuguesa, inculta e bela !

Alcides Silva - 24 de janeiro de 2013 - 15:22

Vontade de falar bem
II

Semana passada iniciei a coluna falando do medo inato que se tem de ser considerado como de escala socialmente inferior - ou não suficientemente estudado (iletrado ou analfabeto) e que fato faz com que muita gente, no desejo de falar bem, equivoque-se ao pronunciar de forma diferente, palavras cujo emprego considera irregular. Perdi-me, porém, no cipoal das preposições.
Volto agora para concluí-la, lembrando os exemplos então apresentados, os nossos conhecidíssimos pomal, questã ou melha, ditos em substituição aos corretíssimos ‘pomar’, ‘questão’ e ‘meia’.
A isso se dá o nome de ultracorreção ou hipercorreção, que é um cuidado até inconsciente com o correto uso do idioma. Cuidado que, aliás, fere o padrão normal da língua. Pode não chegar a ser um erro formal, que a língua é dinâmica, mas é um desvio da norma culta, muita das vezes até um vício grosseiro.
Essa busca excessiva da perfeição no falar – e absurdo dos absurdos, no escrever - ocorre principalmente quando a pessoa está em ascensão social e incorporando-se a uma classe cultural que ele entende superior à sua. Isso impõe uma reavaliação de como se era antes e como se passa a ser agora.
Segundo o blog Flor do Lácio, do Rio, “o exemplo mais conhecido do fenômeno da ultracorreção é o “tábua de tiro ao álvaro”, conhecida composição de Adoniram Barbosa.
Um até então um ‘corretor’ de pouquíssimas letras (na época, o nome apropriado da profissão era ‘marreteiro’), foi empossado prefeito de Santa Fé do Sul, isso em 1959. A cidade era nova e naquele ano completava seu décimo primeiro aniversário de fundação. Discursando no encerramento da solenidade comemorativa, na qual estive presente, após ouvir diversos oradores exaltarem os onze anos do nascente núcleo urbano,o prefeito soltou a pérola “do onzimo aniversário”. Ultracorreção: para ele, que de humilde agenciador de negócios fora elevado a posição de a mais alta autoridade do município, se o ordinal de dez era décimo, por certo de onze, seria onzimo.
Outra situação que provoca a vontade de falar bem’ é quando a pessoa está diante de um notável. Quem conta é Diógenes da Cunha Lima, no seu Câmara Cascudo: um Brasileiro Feliz 3ª, ed., (Editora Lidador, Rio, 1998):
"Luís da Câmara Cascudo é convidado por um amigo, velho mestre de fandango, para assistir a um ensaio. Estão compostas as duas alas de marujos e, ao som de instrumentos de corda, marinheiros e oficiais começam a cantar:
— Nas ôndias do mar ...
— Pára, pára! — ordena o mestre. — Respeitem o professor Cascudo! Eu já disse mais de mil vezes que a palavra não é ôndias. A palavra certa é ôndegas’.
“E dando os trâmites por findos, como dizia Vinícius, porque hoje é sábado (e) há a perspectiva de domingo, porque hoje é sábado”, vou pro meu rancho, ‘encarar de frente’ o Paranazão e pescar uns ‘zoiúdos’...

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