Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Terça, 16 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

Aids: quase 30% das mulheres não têm mais vida sexual

Agência Notisa - 13 de julho de 2004 - 08:53

No Brasil, de 1980 a 2001, dos 222.356 casos registrados de infecção pelo HIV, 59.624 eram de mulheres, apontam dados oficiais. Uma pesquisa das universidades Federal do Ceará e Estadual Paulista, publicada na Revista de Saúde Pública (Vol.38 n.2), mostrou que medidas contraceptivas que são utilizadas por mulheres portadoras de HIV também servem como proteção para a transmissão do HIV.

A pesquisa foi feita em um hospital universitário, referência para portadores de HIV/Aids da região centro-sul do estado de São Paulo, no período de cinco meses. Foram pesquisadas 73 mulheres portadoras do HIV, entrevistadas através de formulário sobre questões que abordavam aspectos sociodemográficos, formas contraceptivas adotadas e a situação sorológica do parceiro sexual.

Mais de 93% das pacientes afirmaram ter contraído HIV por relações sexuais, mas 86% utilizam métodos contraceptivos que evitam a contaminação do parceiro pelo vírus. Contudo, 35,4% das mulheres informaram que seu parceiro mostrava resistência em fazer um exame para detectar possível contaminação por HIV. E mais: elas não usavam método contraceptivo que também prevenisse a contaminação do parceiro pelo HIV.

Os pesquisadores separam os métodos contraceptivos mencionados pelas mulheres pesquisadas em dois grupos: adequados e inadequados. Entre as mulheres, 86,3% referiram formas adequadas de evitar gravidez que também se prestavam a evitar a transmissão ou reinfecção pelo HIV, sendo que 49,3% delas adotaram o preservativo masculino e 8,2% adotaram o preservativo masculino e/ou feminino. A abstinência sexual, considerada o meio absolutamente seguro para se evitar a concepção, a transmissão do HIV e a reinfecção pelo vírus, foi referida por 28,8% mulheres.

Entretanto, respostas como ``ele tira fora antes`` e ``às vezes ele usa camisinha`` foram respostas comuns, que ilustram o uso incorreto dos métodos contraceptivos e das formas de prevenir a contaminação pelo HIV. Os pesquisadores optaram por considerar o uso da pílula anticoncepcional como método inadequado de prevenção da gravidez em paciente soropositivas, pois a ingestão concomitante dos anti-retrovirais reduz o efeito contraceptivo do medicamento.

“O desejo de maternidade também está presente em mulheres que convivem com a infecção pelo HIV. No entanto, as técnicas de reprodução assistida não estão disponíveis para a grande maioria dos portadores da infecção no Brasil. Uma maneira de contornar esse problema, já que a infecção pelo HIV não afasta o desejo de homens e mulheres portadores de terem filhos, está na escolha da melhor fase da doença para fazê-lo, aquela em que o risco de transmissão seja menor”, diz o estudo.

Foi justamente no grupo das mulheres casadas que a pesquisa observou maior ocorrência da utilização de medidas inadequadas de proteção contra infecção pelo HIV e gravidez: “talvez existisse uma vontade não manifestada por essas mulheres, de terem filhos. Uma observação freqüente entre as mulheres soropositivas e que têm parceiros sexuais soronegativos é o alto nível de angústia devido ao dilema de ter ou não filhos, pelo risco de contaminação do concepto e do parceiro”, justifica o estudo.

O trabalho enfatiza a preocupação em discutir de que modo a mulher pode se proteger da transmissão do HIV “dentro” de seus relacionamentos. Segundo os pesquisadores, na cultura de uma sociedade ``machista``, as mulheres não podem sequer negociar o uso de preservativo, quando suspeitam que seus parceiros têm relacionamento extraconjugal. Para os pesquisadores, essas mulheres não usaram preservativo em suas relações sexuais — daí terem sido contaminadas pelo HIV — “por serem majoritariamente pobres, desinformadas e sem poder de barganha, o que, de alguma forma, aproxima o conceito já amplamente divulgado da ‘feminização, interiorização e pauperização’ da Aids entre as mulheres”, destaca o texto.

Segundo o estudo, os resultados alertam para a necessidade de ações educativas que estimulem experiências sexuais mais seguras entre portadoras de HIV/Aids, para que elas possam discutir com seus parceiros outras formas de exercerem sua sexualidade. “Isso pode contribuir para o estabelecimento de uma opção contraceptiva mais consciente, de maneira a zelar pela sua saúde, do parceiro e até do concepto”, concluem os pesquisadores.

Agência Notisa (jornalismo científico - scientific journalism)

SIGA-NOS NO Google News