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Aids: Dentistas ainda temem prestar atendimento

Agência Notisa - 05 de abril de 2005 - 15:09

Pesquisa mostra que os profissionais que apresentam uma menor disposição para o atendimento de pessoas soropositivas têm medo de sofrer um acidente e contrair a doença.

A representação da AIDS como doença estigmatizante, fatal, que inicialmente se concentrou entre grupos marginalizados da sociedade, resultou em um medo equivocado e muito difundido dentro da população em geral, inclusive entre os profissionais de saúde. Além das preocupações legítimas dos trabalhadores quanto ao risco ocupacional ao HIV, persistem preconceitos que contribuem para aumentar a resistência dos serviços de saúde ao atendimento de pacientes com a doença. Isso é o que mostram pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais em um estudo realizado com 140 cirurgiões-dentistas do Sistema Único de Saúde (SUS) de Belo Horizonte, que buscou verificar os fatores associados a sua reserva para o atendimento de pacientes soropositivos.

A coleta de dados foi realizada em dezembro de 1999 por meio de questionários auto-aplicáveis enviados para os locais de trabalho de cada participante. De acordo com artigo publicado na edição de janeiro/fevereiro de 2005 dos Cadernos de Saúde Pública, “os portadores de HIV/AIDS apresentam uma situação de saúde bucal bastante grave, onde coexistem, com grande prevalência, doenças bucais tais como: cárie e doença periodontal, e os problemas bucais associados à infecção pelo HIV que requerem pronto tratamento e contínuo monitoramento”.

No estudo, os pesquisadores constataram que a proporção encontrada de cirurgiões-dentistas com máxima disposição em atender pacientes com AIDS foi de 55,0%. Os resultados indicaram que os profissionais que apresentaram maior disposição para o atendimento odontológico de portadores da doença tinham uma percepção correta sobre o risco de contaminação ocupacional durante o atendimento odontológico. O mesmo ocorreu entre os dentistas que eram contrários à realização de exame diagnóstico compulsório anti-HIV. “Este resultado revela que o respeito ao paciente, ao cidadão (sigilo, confidencialidade, vínculo e responsabilização) constitui-se fator extremamente importante na relação profissional-paciente, que traz implicações para a questão da assistência odontológica da população e especificamente para pessoas vivendo com HIV/AIDS”, afirmam no artigo. A experiência prévia com pacientes aidéticos também se revelou um aspecto positivo para um melhor atendimento.

Por outro lado, a equipe verificou que os dentistas que relataram história de acidente perfurocortante apresentavam uma menor disposição para o atendimento. Segundo os pesquisadores, esta associação aponta que o medo do contágio é um importante fator associado à disposição dos dentistas para o atendimento: “exposição acidental a material biológico contaminado é sentida como uma situação de ‘risco real’ de contaminação, assim, é compreensível que o dentista que tenha sofrido as apreensões e angústias relacionadas a um acidente perfurocortante tenha declarado menor disposição para o atendimento de pacientes portadores do HIV”.

Dessa forma, os cientistas alertam para a necessidade de programas de educação permanentes para as equipes de odontologia em temas relacionados à epidemia de AIDS, que visem ampliar o acesso e aprimorar a qualidade do atendimento odontológico ofertado aos pacientes.

Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)

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