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A soja brasileira pode enfrentar uma grande queda

Bruno Bocchini/ABr - 19 de fevereiro de 2005 - 11:00

O preço da soja brasileira da safra 2004/2005 deve enfrentar uma forte queda. O produto, que chegou a ser comercializado a R$ 45 no ano passado, já registra em algumas regiões do Mato-Grosso o valor de R$ 20. A estimativa de baixa é do membro titular da Câmara de Soja e Milho da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BMF), André Souto Maior Pessôa, que aponta a quantidade do produto disponível no mercado e a taxa de câmbio brasileira como razões para a queda dos valores.

"Os preços internacionais estão muito deprimidos porque existe estoque bastante elevado de soja no mundo, talvez o maior da história. Além do que, a taxa de câmbio no patamar que se encontra é absolutamente desvantajosa, principalmente para a agricultura, o que deprime a renda dos produtores", afirma.

Segundo a Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), a safra brasileira deve chegar a 61,41 milhões de toneladas, uma das maiores da história, 23,4% maior que a anterior. Mas, apesar do aumento da produção, o consultor da BMF explica que a queda nos preços comparativamente é mais significativa do que o aumento da produção, e isso gera um cenário de prejuízo no setor.

"A queda dos preços é mais do que proporcional ao aumento da produção. A rentabilidade está muito baixa. Em algumas regiões do país, ela hoje está negativa. Isso significa que o produtor está tendo prejuízo na colheita. E a situação para 2005/2006 não é melhor. Além de amargar um prejuízo, o produtor não vê perspectiva de recuperação no curto prazo", analisa.

De acordo com Pessôa, apenas uma safra muito ruim dos Estados Unidos ou da Argentina salvaria os produtores brasileiros de uma situação de crise. "É muita soja na América do Sul. Para o mercado se equilibrar, haveria necessidade de uma verdadeira hecatombe nos Estados Unidos. Os americanos teriam que ter uma das suas piores safras, repetir o que aconteceu em 2003, quando tiveram uma safra terrível. Mesmo se eles tiverem uma safra abaixo do normal, mas não muito ruim, a situação do preço continua desfavorável", diz.

A opinião de Pessôa é a mesma explicitada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do Governo Federal, em pesquisa divulgada em janeiro. Segundo o estudo, caso não haja uma quebra na safra da Argentina ou dos Estados Unidos, é provável que ocorra uma crise financeira na agricultura brasileira de soja "devido ao seu (provavelmente alto) nível de endividamento contraído na fase anterior, de preços favoráveis".

Segundo o Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, a situação do setor da sojicultura já faz com que o governo brasileiro pense em alterar seu comportamento em relação aos subsídios fornecidos pelo governo norte-americano em benefício de seus produtores. Nos EUA, o governo garante uma renda mínima ao produtor, mesmo que a rentabilidade da safra tenha sido ruim.

"Agora as coisas se inverteram, e nós temos uma necessidade de competir com custos elevados e preços mundiais mais baixos do que os preços de sustentação norte-americanos. É chegado o momento de estudar a possibilidade de um painel na Organização Mundial do Comércio – OMC - em relação à soja, mas ainda o setor privado está examinando o assunto, porque isso é um painel caro. O setor privado está pensando na questão. Nós estamos encorajando o setor a pensar nisso", afirma Rodrigues.

Além da queda nos preços, os produtores enfrentam problemas relacionados ao clima. "Eu mesmo sou produtor de soja, estou acompanhando isso. Em algumas regiões, choveu muito em janeiro, e agora está muito quente na hora de formar o grão. Então, o grão pode ficar pequeno, e isso pode reduzir a produção", diz o ministro.

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