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A percepção do brasileiro sobre a saúde nacional

EPharma Notícias - 13 de julho de 2016 - 18:00

“Os brasileiros estão entre os mais preocupados com a saúde do próprio país. E os especialistas brasileiros mais ainda”, afirma Steffen Kuzawa, responsável global pela comunicação da Sandoz, uma divisão da farmacêutica Novartis voltada principalmente para medicamentos genéricos. Sua conclusão vem de uma pesquisa encomendada pela própria Sandoz que almejou captar a percepção da população comum e de profissionais da área sobre questões centrais para a melhoria da saúde de um país. Participaram desse trabalho pessoas de 12 nações: Brasil, Estados Unidos, Austrália/Nova Zelândia, Reino Unido, Rússia, Itália, França, Alemanha, Japão, Suíça, Canadá e Turquia.

Pois é: em quase todas as perguntas (que abordaram dos desafios do sistema de saúde pública até os fatores que afetam o indivíduo na busca por uma maior qualidade de vida), a turma verde-amarela tendia a adotar uma visão mais apreensiva. “Acredito que isso vem de uma maior sensação de desigualdade”, opina Stephen Stefani, oncologista do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, e especialista em farmacoeconomia. “Se ninguém tivesse acesso a um tratamento qualquer, a preocupação seria menor, uma vez que o indivíduo não se sentiria injustiçado. Mas quando você sabe que há uma opção disponível para alguns privilegiados e não consegue acessá-la por uma questão financeira, aí fica insatisfeito”, arremata. Segundo uma estimativa dele, um terço dos brasileiros que recorrem ao sistema público não receberiam o mesmo remédio ou procedimento se tivessem um seguro de saúde privado. “A maioria dos tratamentos modernos contra o câncer, como os imunoterápicos, não estão disponíveis no SUS”, exemplifica.

Expert em saúde pública do Hospital Sírio Libanês (SP), o médico Gonzalo Vecina Neto pondera que esses resultados também são influenciados pelo fato de que, dos países envolvidos no levantamento, o Brasil está entre os que passaram por um processo de urbanização mais recente. Ou seja, é até esperado que os membros de uma nação com menor desenvolvimento social reportem maior inquietude com seu bem-estar. “Basicamente o mundo inteiro está preocupado com o cenário atual da saúde”, diz. “O envelhecimento da população e o aumento da incidência de doenças crônicas é um fenômeno global e custoso”.

O sistema vai quebrar?!

Entre a opinião nacional, 83% acha que a pressão financeira sobre as instituições de saúde vai crescer com o aumento no número de pessoas sem seguro privado (em comparação com 66% do resto do mundo). Está aí uma mostra de como a crise econômica também contribui para uma visão mais negativa.

Aliás, 72% dos mais de 500 brasileiros entrevistados concordam que o sistema de saúde está sob pressão também por causa das drogas inovadoras, ante 59% do resto do mundo. “Esse é outro problema global. Penso que, se nada concreto for feito, em cinco ou dez anos as fontes pagadoras vão entrar em colapso por não conseguirem custear remédios tão caros”, analisa Vecina Neto. “A sociedade deve discutir com as indústrias como remunerar a descoberta de novas medicações sem falir os países”, explica.

Ainda nesse sentido, 86% dos brasileiros (e 72% dos voluntários de outros países) concordam que o sistema de saúde não dá atenção suficiente para o custo e o acesso aos remédios. “Temos excelentes projetos de saúde pública, como o de controle da aids. Mas também sofremos com graves problemas de gestão. É inaceitável que medicamentos percam prazos de validade, como já ocorreu aqui. Isso é falta de gestão e não de orçamento”, critica. Episódios como esse fazem com que os moradores do nosso país percam confiança na capacidade dos governantes de lidar com as questões atuais da saúde — e, aí, passem a criticá-los em pesquisas como a da Sandoz.

A questão dos genéricos

Apesar de eles estarem disseminados nas farmácias, parece que ainda não venceram a resistência de uma parcela da comunidade nacional. Segundo o levantamento, 89% dos brasileiros acreditam que falta informação para aumentar a confiança nessas drogas — que, pelo preço reduzido, certamente ajudam a desafogar as despesas com saúde. Para ter ideia, nos outros países analisados esse índice cai para 78%.

Para ilustrar esse ambiente, Stephen Stefani se lembra de um trabalho que conduziu no qual ele e outros pesquisadores perguntavam para voluntários se comprariam um genérico 20% mais barato do que a versão original. Resultado: se esse remédio fosse para tratar uma doença do próprio participante, a taxa de “sim” era alta. Mas... se o objetivo era curar um filho ou neto, muitos passavam a recusar o genérico. “O fato de mudar a resposta já mostra que eles veem essa classe com certa desconfiança”, analisa Stefani.

Que fique claro: os genéricos de boa qualidade aqui no Brasil são pra lá de seguros e eficazes. Talvez o que mine a confiança sejam os episódios de fraude e de cargas roubadas ou mal condicionadas que aparecem na mídia. “Os pacientes não se sentem confortáveis em alguns casos e, pra piorar, poucos médicos falam com eles sobre isso”, atesta Stefani. Em outras palavras, os especialistas, ao prescreverem um genérico qualquer, precisam explicar o motivo pelo qual estão fazendo isso e mesmo discutir a eventual diferença entre marcas. Esse tipo de atitude faz com que o indivíduo chegue à bancada da farmácia com muito mais certeza de que seu tratamento dará certo. Para o paciente, vale o recado de sempre pedir informações ao doutor sobre o tratamento de escolha.

“O mais grave nesse contexto é a ignorância do profissional. Muitos deles acham que é um erro receitar genéricos mesmo sem qualquer evidência séria que corrobore essa decisão”, lamenta Vecina Neto. Ele destaca que até a fiscalização dessas drogas seria mais eficiente com uma boa participação dos médicos. “Na Inglaterra, eles fazem 60 mil notificações por ano para registrar ocorrências com o uso de um tratamento. No Brasil, são apenas 4 mil”, compara. Sem a participação de todos, reverter essa percepção negativa sobre a saúde nacional ficará bem mais difícil.

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