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A estranha síndrome da "cabeça explosiva"

Portal APCD - 21 de agosto de 2015 - 16:00

"De repente, surge um ruído que aumenta de volume até chegar ao som estarrecedor de uma explosão. Sinto uma onda de eletricidade passar pelo meu corpo e uma forte luz no meu olhar, como se alguém tivesse acendido um holofote no meu rosto."

É assim que Niels Nielsen descreve como é conviver com a "síndrome da cabeça explosiva" – sensação desagradável e, por vezes, assustadora. Outras vítimas relatam sentir que uma bomba foi detonada ao lado de sua cabeça quando elas começam a pegar no sono.

Em algumas pessoas, é uma experiência que ocorre uma vez na vida. Para outras, é um problema que as aflige várias vezes por noite.

O médico Silas Weir Mitchell foi o primeiro a descrever o distúrbio, em 1876, quando registrou os casos de dois homens que sofriam do que ele chamou de "descargas sensoriais". Ambos relatavam que ouviam "badaladas de sinos" ou um "disparo" que os despertava do sono.

Apesar de seu nome intrigante, o distúrbio foi relativamente pouco estudado. Agora, no entanto, há uma teoria de que o problema pode ajudar a explicar fenômenos culturais aparentemente nada relacionados – mais especificamente, a origem das abduções alienígenas, das teorias da conspiração e entidades sobrenaturais.

O que sabemos sobre essa experiência noturna é que ela talvez não seja tão rara quanto se pensa. Um estudo realizado pela Universidade do Estado de Washington (EUA), publicado em maio, entrevistou 211 voluntários e descobriu que 18% deles disseram já ter vivido pelo menos um episódio da cabeça explodindo.

A amostragem, no entanto, talvez não seja um retrato fiel da incidência do problema, já que os voluntários eram estudantes jovens que geralmente dormem pouco – um fator que aumenta o risco de viver o distúrbio.

"Quem sofre de alguma dificuldade do sono, como insônia ou jetlag, tem mais chances de experimentar o problema", afirma Brian Sharpless, professor de psicologia e principal autor do estudo. "O estresse e a tensão emocional também estão ligados a uma frequência maior de episódios da síndrome."

Desligamento repentino

Segundo Sharpless, as teorias sobre as causas da síndrome ainda são especulativas. Alguns pesquisadores já falaram em distúrbios auditivos e em convulsões epiléticas por trás desses episódios.

Mas a tese mais convincente vem de estudos que monitoraram a atividade cerebral de pacientes durante o sono e que sugerem que deve haver um disparo da atividade neural no cérebro que coincide com a explosão que essas pessoas relatam.

Normalmente, quando adormecemos, o corpo "desliga" e fica paralisado, de maneira a evitar que façamos os gestos com os quais sonhamos. "Durante essa transição do estado de alerta para o sono, o cérebro normalmente vai se desconectando aos poucos", explica Sharpless.

No caso da síndrome, no entanto, há uma espécie de ruído na "formação reticular" – a parte do cérebro responsável por esse desligamento geral. Isso resulta no atraso da desativação de algumas áreas.

Supressão das ondas cerebrais alva pode explicar o problema

Esse atraso está associado à supressão das ondas cerebrais alfa, responsáveis por um estado de torpor, e a um pico repentino de atividade neural nas regiões do cérebro que processam sons. "É possível que os neurônios estejam todos disparando ao mesmo tempo, o que resulta na sensação de explosão dentro da cabeça", afirma o cientista.

‘Curto circuito’

Nielsen, um psiquiatra que sofre com episódios da síndrome desde os 10 anos de idade, concorda com a teoria de Sharpless. "A sensação sempre me pareceu elétrica, como se houvesse um curto circuito na minha cabeça."

De acordo com o cientista americano, algumas pessoas sentem uma onda de eletricidade que sobe das costas para a cabeça imediatamente antes da explosão. "Eu sinto a corrente passando por mim", relata Nielsen.

Apesar de não haver um tratamento específico que acabe com o problema, o uso de antidepressivos pode reduzir a frequência dos episódios, assim como técnicas de relaxamento e controle do estresse.

"Dizer à vítima que ela não está enlouquecendo ou experimentando os sintomas de algo mais grave também ajuda", aconselha o especialista.

Explicação para fenômenos

Mas o que isso tem a ver com abduções e seres sobrenaturais? Bem, a síndrome está relacionada à paralisia do sono – em geral, quem sofre de um desses distúrbios também tem episódios da outra.

A paralisia do sono é uma condição igualmente assustadora, que faz sua vítima acreditar que está acordada mas sem conseguir se mexer. Para Sharpless, os dois eventos poderiam explicar vários eventos tidos como sobrenaturais.

Ambos os distúrbios coincidem com um problema na transição entre o estado de alerta e o sono. Na paralisia do sono, partes do cérebro estão na fase REM, em que sonhamos mais, enquanto outras partes da consciência já despertaram. "É como ter um sonho enquanto estamos acordados, e a pessoa ouve e sente tudo à sua volta como se fosse real, mas não passa de alucinação", descreve.

Na Idade Média, sintomas como esses eram atribuídos a entidades demoníacas que tentariam se apoderar de seus corpos. Hoje, muitas vítimas da paralisia do sono dizem que a experiência faz parte de uma abdução alienígena.

Para Sharpless, os relatos de experiências sobrenaturais ou alienígenas muitas vezes trazem indícios da síndrome da cabeça explosiva e da paralisia do sono. "Muita gente sente essas coisas e acha que teve algo implantado em seu cérebro. Ou acham que uma nova arma energética os fazem sentir choques ou ficarem paralisados."

Nielsen conta que tem episódios de cabeça explosiva a cada três ou quatro meses desde que tinha 10 anos e também já sofreu de paralisia do sono. Mas sua mente científica o ajudou a evitar a ansiedade trazida pelos distúrbios. "Eu logo entendi que se tratava de alguma disfunção elétrica acontecendo no meu cérebro, mas se alguém tem a tendência a acreditar em fenômenos paranormais, percebo como elas caem em uma explicação desse tipo."

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