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Geral

A eleição municipal será do isolamento

Enquanto a sociedade aguarda com certa ansiedade uma vacina salvadora para o futuro, o presente se faz de dúvidas, dívidas e contenção.

Dante Teixeira de Godoy Filho - 31 de julho de 2020 - 07:38

Agosto é o mês do desgosto.

Olhando até o momento para 2020 todos os meses são agosto: triste, seco, frio, encoberto pelas névoas das incertezas e marcado pela ausência de perspectiva de futuro.

Enquanto a sociedade aguarda com certa ansiedade uma vacina salvadora para o futuro, o presente se faz de dúvidas, dívidas e contenção.

Certamente, não é um tempo para pessoas arrogantes, que imaginam intuir os acontecimentos e, com o estufar dos peitos, imaginar que detém o destino em suas mãos.

Mesmo assim, o mercado político continua sendo assaltado pelos palpites de quem se imagina dono das bolas de cristais, ora em parceria com as Cassandras de ocasião, ora de mãos dadas com os oportunistas do otimismo que, alegremente, gostam de participar de toda a qualquer bolha de poder.

Tempos difíceis. O isolamento (real ou imaginário) retém a raiva do cidadão porque mexe com algo precioso de sua vida: a idéia de que ele é soberano em suas escolhas e que o consumo é o templo em que ele, todos os dias, deposita suas oferendas redentoras imaginando estar construindo uma cidade, um País e um mundo.

No momento em que alguma espécie de poder (no caso, um vírus) obriga-o a alterar o rumo de sua existência, mostrando que o simples direito de ir e vir pode significar a vida e a morte, restringindo sua interação com os shoppings centers existenciais de seu cotidiano, certamente ele não terá muito a oferecer que não esteja entre o medo e o tédio.

Suas interações e seus afetos estão sob vigilância. Para aqueles que vão para a disputa nas urnas o ato de pedir votos será medido pelo distanciamento das máscaras e dos corpos. Nada de palanques, reuniões, mobilização nas ruas.

Um cidadão (ã) vivendo estas circunstâncias pode ser tudo, menos um eleitor. Primeiro, suas desconfianças políticas já estão exacerbadas; segundo, sua cabeça rejeita qualquer fantasia regressiva como aquelas embaladas pelas campanhas produzidas por marqueteiros manjados; terceiro, sua capacidade de escolher foi reduzida, porque simplesmente o ano não aconteceu, ele não o viveu, e suas interações grupais foram objetos de constante ameaça pela polícia e pelos jihadistas do confinamento.

Resultado: as eleições municipais – caso nada mais aconteça – serão uma das coisas mais esquisitas vistas nos últimos tempos. Serão a campanha do medo, das restrições interpessoais, do marketing mal calibrado, dos discursos monotemáticos e das escolhas não constituídas de avaliações e sim de impressões fortuitas.

Claro que toda campanha carrega esses componentes em cada uma de suas etapas. Mas o encurtamento do processo vai misturar esses elementos de forma que o imprevisível seja amplificado, principalmente porque há novas regras do jogo no mercado.

Enfim, a próximas eleições serão aquelas de poucos votos (medo do contágio), muitos candidatos (não haverá coligações proporcionais) e exposições individuais altamente fragmentadas.

Publicidade e redes sociais terão peso relativo em campanhas positivas, mas serão fundamentais em denúncias, desconstrução e alterações de conceitos, na difusão de agendas negativas. Qual sentimento vencerá? Quem viver, verá.

Diante desse quadro, há quem afirme que haverá favorecimento de quem já está no poder. É aquela história: não tem tu, vai tu mesmo...Tudo indica que será isso mesmo. Mas, porém, todavia, contudo...

Essa é a lógica: não se pode pensar em lógica. Mas será que 2020 haverá alguma normalidade racionalista imperativa? Não se sabe. Na minha avaliação, eu guardaria o salto alto no armário, colocaria as barbas de molho, vestiria as sandalinhas da humildade e pediria que os professores de deus falassem menos.

Só isso.

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