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A crônica do Corino: um rastro de destruição

Corino Rodrigues de Alvarenga - 22 de fevereiro de 2007 - 08:25

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O município baiano de Jacobina, localizado a 330 quilômetros de Salvador, amanheceu hoje, Quarta-Feira de Cinzas, num verdadeiro caos. As fortes chuvas que caíram durante toda a madrugada deixaram um rastro de destruição, em que o saldo são casas destruídas, muros em ruína, verdadeiros rios saindo do alto das serras, os rios do Ouro e Itapicuru-Mirim transbordando e provocando destruição ainda maior, pedras rolando das serras, famílias desabrigadas. Muitas famílias desabrigadas.
Somente num período de cinco horas, da 0h até as 5h de ontem, choveu 168 mm, num medidor colocado no bairro do Tamarindo, onde, por sinal, choveu menos. A Imprensa local, com base em outros medidores, calcularam em mais de 200 mm de chuva neste período de cinco horas, o que é mais do que chove o ano todo por aqui.
A felicidade de uns termina diante da desgraça que se abate sobre outros. Este é o nosso caso: meu e da família. A nossa casa, localizada aqui na rua Antônio Manoel Alves de Mesquita, graças a Deus, nada teve e ficou intacta. Outros quatro vizinhos, porém, não tiveram a mesma sorte e o prejuízo foi gigantesco.
Eu sou um leigo no assunto, mas acredito que choveu mais nesta madrugada do que em todo o início de ano aqui em Jacobina.
Os acidentes geográficos acentuados que são características de Jacobina, com cachoeiras no alto das serras e suas ladeiras íngremes, são propícios para ocorrências catastróficas como deslizamento de terra e pedra, enxurradas gigantes e alagamento nas regiões ribeirinhas.
As cenas chocam e se tornam lamentáveis quando se vê famílias, que demoraram anos para construir as suas casas, saírem, chorando, cabisbaixas, carregando móveis e utensílios domésticos.
Uma imagem me chamou a atenção agora há pouco, por volta das 9h. Foi no bairro da Grotinha: um papagaio assustado dentro de uma gaiola, posta acidentalmente sobre um guarda-roupa destruído pelas águas da enchente.
O papagaio ainda teve sorte. Cães, gatos e outros animais acabaram morrendo soterrados ou levados pelas correntezas.
Um cãozinho preto de uma vizinha, porém, não viu chegar o seu dia e acabou sendo abrigado aqui em casa.
Chegou a informação pelo rádio que a Prefeitura acabou de decretar estado de emergência em Jacobina, suas equipes estão fotografando e registrando tudo para dar legalidade à decisão do alcaide.
Esses problemas comuns em cidades ribeirinhas são frutos da falta de planejamento urbano. As pessoas constroem casas em locais inadequados e o poder público nada faz para coibir essa prática.
Não é situação sui generis do Brasil, mas por aqui a falta de plano diretor nos municípios e a correção de décadas ou séculos de equívocos são causas diretas e aparentemente eternas.
O Nordeste é assim: quando não é seca, é chuva em exagero. Não há meio-termo. Ou é oito ou é oitenta.
Como esperar pela sapiência dos homens é pedir demais, o único jeito é apelar para o rapaz lá de cima e suplicar por chuvas na medida certa – nem menos nem mais.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
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