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A crônica do Corino - Um aprendiz

Corino Rodrigues de Alvarenga - 31 de janeiro de 2007 - 04:37

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Eu aprendi uma coisa com o meu pai José Marinho: ser um mero aprendiz. Eu não sou poeta nem compositor, portanto, não preciso me preocupar com a rima nem com os arranjos.
Aprendi a ser um mero aprendiz. Poderia ter dito simplesmente que sou um eterno aprendiz. Não sou eterno. Sou apenas mero aprendiz. Isso não rima com nada. Não tem problema. Não tem “portância”, como diria o “Zé Vermeinho”, um peão roceiro que trabalhava na fazenda do meu irmão João Marinho. “Zé Vermeinho” sempre teve razão: certas coisas não têm “portância”, não, meu “sinhô”.
O que tem importância mesmo, meu amigo, minha amiga, é que nós todos somos meros aprendizes.
E estamos aprendendo uma lição nova a cada dia. Não importa se você tem um dia de profissão, dois anos de residência, cinco anos de formado, vinte e oito anos de roçado, quatro meses de enfermagem ou mesmo vários anos de aposentadoria, no fundo, no fundo, meu amigo, minha amiga, você é um aprendiz.
Jesus Cristo, crucificado, nos últimos minutos de vida, perguntou a Deus: “Por que fizeste isto comigo, Senhor?”
Diz a história bíblica que Jesus sabia, de antemão, de sua missão na terra. Ou se não sabia ao certo, tinha noção.
Se ele sabia, por que perguntou, então, ao Senhor Deus, por que fizera aquilo tudo?
São dúvidas.
A história bíblica também diz que Jesus Cristo sofreu um dos dilemas humanos: o do amor – ou seria da sexualidade? Isso ocorreu, segundo diz a escritura bíblica, ao se sentir tentado por uma mulher. Teria se apaixonado por uma mulher. E se tivesse, teria cometido algum pecado? Se for pecado, meu amigo – mesmo não sendo um Cristo, longe disso -, teria eu alguma salvação?
Não cabe a nós crer no contrário: estamos aqui, neste mundo, como meros alunos.
Um dia poderemos ser professores e, neste dia, a classe de aula será comandada pelo diretor da escola. Os professores serão, portanto, alunos do diretor. E, logo depois, perceberemos que o professor também terá dado o seu lugar, o lugar de mando, de comando, a quem é de direito: Ele, o ser supremo.
A vida é assim mesmo: quem sabe, pensa que sabe, mas, no fundo, sabe menos do que imagina. Quem sabe de fato, não tem dúvida, tem certeza: não sabe nada. Sabe, talvez, um pouquinho. Mas um pouquinho, perante a grandeza do mundo, é o mesmo que nada.
Uma criança pequenina, na sua infinita alegria e nos seus sonhos sem medida, acredita, claramente, que sabe tudo.
Ao crescer um pouco mais, na sua santa ingenuidade, passa a crer que os seus pais sabem mais.
Um dia, quando deixa de ser criança e começa a pensar com a chamada caixa-cerebral, aquela que parece ser infalível, percebe que não sabia de nada, que seus pais sabem menos ainda e que o verdadeiro saber só o mundo do conhecimento, aquele que vem no intelecto da maioria das pessoas mais inteligentes do mundo, é que carrega o verdadeiro conhecimento.
Ao chegar à maturidade, finalmente, conclui que o conhecimento humano, como um todo, é inútil.
Vê que os todos os recursos disponíveis para a saúde, para a educação, para o desenvolvimento científico, para os laboratórios de pesquisas e para o amadurecimento do ser humano só servem para uns poucos, os privilegiados, os donos da cocada-preta, os formados filhos do seu doutor, os que freqüentam shoppings centers sem dor na consciência, aqueles mesmo que são beneficiados pela malfadada concentração de renda que brinda a uns e exclui a maioria.
A grande questão é esta: consumo não é conhecimento nem conhecimento é consumo. Consumo é passageiro e conhecimento é duradouro.
Entretanto, a maioria confunde direito ao consumo com acesso ao conhecimento.
Chegar a esta conclusão é doloroso. Mas não deixa de ser verdadeiro.
Pode até ser poético e realista demais, mas não deixa de ser um fato.
O problema é que não interessa à maioria acreditar nisso.
E eu, cá entre nós, só escrevo porque não me resta outra forma de denunciar tais distorções sócio-econômicas oriundas de outras distorções de natureza políticas, culturais, etc...
Somos aprendizes de um sistema que se nega a nos ensinar.
Mas, continuamos cá, como meros aprendizes.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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