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A crônica do Corino - Pequeno homem

Corino Rodrigues Alvarenga - 06 de novembro de 2006 - 09:04

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A mãe, a cirurgiã-dentista Renata, chega em casa e pega o filho Paulo, ali pelas 21h daquele sábado, de cara fechada, deitado no sofá da ampla sala do apartamento localizado na região mais nobre da Tijuca.
- Paulinho, o que foi, meu filho? – grita. – Parece que você viu o monstro do lago, filho.
- Mãe, não chateia, vai. Tô na fossa.
- Fossa? Que fossa?
- Perdi a namorada – diz, coçando o nariz.
- Ela ficou perdida onde? No shopping, no caminho do colégio, em Angra?
- Que isso, mãe? Ela não está perdida, não.
- Então não há problema, filhinho querido.
- Pior, mãe: quem está perdido sou eu.
- Você? – é a mãe, tirando a blusa de frio. - Como assim?
- Ora, ora, mãe: eu perdi a Vanessa.
- Explica isso melhor, filho.
- Ô, mãe, como você é difícil para pegar no tranco! – exclama, sem esconder uma ponta de irritação. - A Vanessa terminou comigo. Acabou o namoro.
- E vocês estavam namorando? Desde quando vocês estavam namorando, filho?
- Bem... na verdade, nós nunca namoramos, não.
- Espera aí, filho. Vocês estavam namorando ou não quando houve o rompimento?
- Estávamos e não estávamos.
- Filho, pelo amor de Deus! Agora a coisa piorou. Diga aí: o que está acontecendo?
- Mãe, é o seguinte: eu namorava com ela, mas ela não namorava comigo.
- Filho, isso não é namoro. E por que ela não namorava com você?
- Porque ela não sabia mãe.
- Então você nunca disse para ela?
- Claro que não.
- E como ela poderia terminar o namoro com você, filho, se ela não sabia que você estava namorando com ela? Virgem, que rolo!
- Mãe, ela terminou tudo! Ela matou a minha esperança quando casou agora há pouco, faz uma hora, com um colega professor.
- Então ela é professora?
- Claro, mãe! Ela é a minha professora.
- Filhinho de Deus! – exclama, levantando os braços. – Mas ela tem uns quarenta anos e você apenas doze. São, deixa eu ver... trinta anos, vinte e nove anos, não... são vinte e oito anos de diferença. Isso é um assédio sexual! Ela pode ser processada e...
- Mãe, peraí. Quantos anos papai tem?
- Seu pai? Sessenta, eu acho.
- Sessenta, não. Sessenta e cinco. E a senhora quantos anos tem?
- Eu?
- Claro: a senhora!
- Bem... vou completar agora em março... vinte e quatro anos. Isso: vinte e quatro em março.
- Então, mãe. Vamos fazer as contas? A senhora é mais nova do que papai quarenta e um anos. Papai é mais velho que a senhora quarenta e um anos. E por isso, mamãe, eu não sou menos filho, nem a senhora é menos mãe, nem o papai é menos pai.
- Mas você, filho, tem doze anos. E mais: ela é a sua professora.
- E a senhora não era aluna da faculdade e ele não era reitor?
- Era, sim, filho.
- Então, ele era o seu professor e mesmo assim você se casaram. Desse casamento nasci eu, que agora, mamãe, tenho doze anos e tenho o direito de namorar com a minha professora.
- Mas a sua professora tem juízo e acaba de se casar com um homem da idade dela. Ela fez bem. E você faz bem se for dormir agora. Já está na hora de criança estar dormindo.
- Mãe, eu não sou mais uma criança. Eu já sou um homem.
- Tudo bem, filho. Mas já é hora de homem está dormindo.
- Ah! Então a senhora concorda que eu já sou um homem?
- De certa forma, sim.
Aí o filho estufou o peito e bradou, vitorioso:
- Quer saber de uma, mamãe? Vou deixar essa professora de lado. Um amor se cura com outro amor. Amanhã vou dar uma cantada na professora de educação física. Você viu como ela tem o corpo bem-feito, mãe?
- Filho, pelo amor de Deus! Vá dormir! O seu mal é sono, filho.
- Boa-noite, mãe.
- Você já escovou os dentes?
- Claro, mãe! Eu já sou um homem!
- Sei...


Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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